sábado, 6 de maio de 2017

GRES TOM MAIOR (SÃO PAULO/SP)

O Brasil de Duas Imperatrizes: De Viena Para o Novo Mundo Carolina Josefa Leopoldina; de Ramos, Imperatriz Leopoldinense
“Meu adorado povo,
Duzentos anos se passaram desde que, a bordo da imponente Nau D. João VI, atravessei as intensas ondas do oceano atlântico com destino ao novo mundo, selando definitivamente a minha vida e minha trajetória.
Na lembrança, os sons dos violinos que ainda ecoavam pelos salões dourados do palácio de Viena, embalando os festejos da suntuosa cerimônia de casamento gentilmente organizada por Marialva, o Marquês enviado do Rei, que nos impressionou diante de tanto luxo e riqueza. Eu, filha do Imperador Francisco I da Áustria, herdeira da mais tradicional Casa Real da Europa e Pedro de Alcântara, o príncipe sucessor do trono de Portugal, Brasil e Algarves, unidos por procuração promovendo o que seria uma esperançosa aliança ente nossos países.
Não conseguia esconder minha excitação e ansiedade para encontrar a exuberante natureza tropical, seu povo e seus nativos, que foram-me apresentados em pinturas, tapeçarias e livros, configurando um verdadeiro eldorado. A ciência sempre fora minha paixão! Animais, flores e minerais, constituíram durante muitos anos as minhas principais fontes de pesquisas e estudos.
Sob a salva de tiros de canhões anunciaram minha chegada nas águas guanabarinas, emocionando-me no desembarque diante de majestosa e deslumbrante paisagem.
“Chega Sua Alteza Real, a Sereníssima Senhora Princesa do Reino”, anunciaram-me altivamente ao meu amado D. Pedro, à sua família e a toda nobreza presente.
A cidade repleta de ornamentos e flores originou um colorido muito especial, tudo cuidadosamente planejado pelo traço francês do grande artista Jean-Baptiste Debret transbordando- me de encanto.
“Nem pena, nem pincel podem descrever a impressão que o paradisíaco Brasil causa em qualquer estrangeiro”, disse a Pedro, meu esposo. Já me vejo apaixonada por esse chão que escolhi para ser minha pátria.
Meus filhos, minha família e, principalmente, o fascínio demonstrado por essa gente encantadora foram minhas maiores conquistas, enchendo-me de altivez e plenitude, revelando a cada dia que aqui seria minha eterna morada.
Com o retorno de meu sogro, o Rei Dom João VI para Portugal, os laços que uniam os dois reinos tornaram-se insustentáveis.
Eram constantes as tentativas de revoluções e levantes nas mais diversas províncias, tendo na argúcia de Pedro a solução para a união política e social de nossa terra, evidenciando que não tardaria o tempo em que nos tornaríamos livres.
Tive a glória de ser a primeira mulher a governar este País, tendo em vista que na ausência do Príncipe Regente, sobre os meus ombros recaía honrada responsabilidade. E foi assim, que na manhã do segundo dia do mês de setembro do ano de 1822, presidindo a reunião do Conselho de Estado, assinei o decreto que nos tornava Independente, enviando-o a Pedro, junto à carta que o conclamava a sancionar minha importante resolução: “O pomo de maduro… Colha-o, se não apodrece”.
Assim, no romper da aurora do dia sete de setembro, às margens do rio Ipiranga ouviu-se o brado de Independência ou Morte. Na força da espada e na sutileza da pena, a história se escrevia. Roguei a Deus para que fosse feita a Sua vontade, eu que já me sentia brasileira de coração me tornava por direito, embalando um novo Brasil em meus braços coberto com o sagrado manto verde e amarelo.
A sombra da traição pairou sobre minh’alma sucumbindo minhas forças e forjando o meu amor em dor e sofrimento, contudo, tornei-me exemplo de honra e caridade no canto de lamentação dos negros e dos pobres entoado em minha partida: “Ôoo o que será de nós? Nossa doce mãezinha partiu”.
A História me fez imortal escrevendo meu nome em todos os recantos do meu amado país, rendendo-me grandes homenagens como a grande mãe desse sublime torrão. No carnaval, nossa maior expressão cultural popular, me tornei a representante mais nobre, a senhora soberana que ostenta nos trilhos que cruzam o Subúrbio de Ramos, onde o Samba é Raiz e Raiz é história, o brasão real de ritmo e poesia, encarnado no brio de seus bambas e baluartes e eternizado em seus cortejos com requinte e criatividade.
A consagrada coroa Leopoldinense reluz na respeitada pauta musical paulistana provando em Tom Maior que o samba não tem fronteiras, é o fruto legítimo de todo esse povo que carrega nas veias o orgulho de ser brasileiro. Hoje nosso sonho de ser campeão…Vem de lá! Sou Imperatriz”.

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