“…
E o Dia Clareou: Exewê Bábá, Epá Bábá! Um Cântico em Yorubá Pela Preservação da
Vida!”
Introdução:
O nosso glorioso Arranco da FGAF, em sua missão ao
apresentar um enredo Afro-Contemporâneo como proposta para o desenvolvimento do
seu desfile em 2016, expondo o desenvolvimento do mundo em que vivemos sobre a
visão Yorubá, abordando lendas (Itãs) sobre a divindade Oxaguiã (Fio Condutor),
e sua ligação com os dois mundos: Orum; (Mundo Espiritual) e Aiyê; (Mundo
Material) e seus laços que tem com cada elemento que sustem nossa existência
(Fogo, Ar, Terra e Água) através dos orixás a qual ele tem ligação e representam
esses elementos: Exú e Iroko, Logunedé, Oxóssi, Erinlé, Ogum e Xangô – (Terra e
Fogo) e Oxum, Yemanjá, Oyá, Obá e Yewá – (Ar e Água), trazendo nesse contexto
uma mensagem de preservação e sustentabilidade para o mundo, ressaltando a
importância do equilíbrio humano em respeito ao planeta e sua diversidade.
Mostrando que a preservação desses elementos contribuem para a conservação da
vida, que alimenta o mundo e, assim, aos que nela vivem.
Sinopse:
Vou lhes contar um ‘itã’ sagrado, que foi passado de
geração em geração, fundamentado na cultura Yorubá; Um itã sobre o orixá
Oxaguiã, que nos ajuda a compreender a devoção e culto a esta divindade em
diversas nações africanas (Jeje, Ketu, Nagô, Bando, Angola, Efun, etc…) também
cultuadas no Brasil, (Candomblé e Umbanda), e sua importância na construção do
mundo material e na conservação da vida humana através da forças que suprem a
vida orgânica do mundo -(Os Orixás):
“… De lá, de onde o vento fez-se em curva, o primeiro
raio de luz surgiu de Orum ao desprezado Aiyê: Dentro da concha de um caramujo,
filho da existência, viu-se surgi o encanto que apartou a noite, clareou aos
olhos da terra o axé emanado do panteão Funfun: O menor dentre os celestes, o
mais jovem guerreiro branco, ainda sem cabeça, mas com ideais formados, nasce
Oxaguiã que, desorientado por não ter cabeça, vaga por Aiyê sem rumo, causando
caos por onde passa… Orí, vendo o sofrimento do jovem oxalá, prepara para ele
uma cabeça de inhame e o presenteia, o jovem aceita e fica muito feliz por ter
uma cabeça branca… O problema é que a cabeça de inhame esquentava demais e isso
o perturbava, fazendo-o cometer atrocidades por Aiyê. Ikú, Senhor da morte,
vendo que Oxaguiã sofria, ofereceu-lhe a sua cabeça fria e negra, ele, apesar
do medo que sentia da morte, aceitou, pois o a dor e a quentura eram
insuportáveis. Contudo, a cabeça da morte era fria demais isso perturbava o
orixá, que por conta da constante presença da morte, se perturbava, sua alma
entristecia-se… Vendo Ogum o jovem oxalá e todo o seu sofrimento,
perguntou-lhe: – O que acontece contigo?- Sofro pois não tenho paz! A cabeça
que Orí me ofereceu é muito quente e me causa dor, porém, a cabeça de Ikú me
perturba e me causa tristeza… Responde o desorientado orixá. Ogum então tenta
retirar com sua espada as cabeças que tanto o causava tormento… Porém, tanta
força tinha Ogum que ambas cabeças se misturaram, tornando-se em uma. Assim, a
cabeça de Oxaguiã se tornou azul, e já não sentia dor nem perturbações, pois
sua cabeça encontrou o equilíbrio. Ogum lhe presenteou com sua espada, para que
a morte não mais se aproximasse do orixá. Muito grato pelo ato, Oxaguiã promete
lhe ser amigo fiel por toda vida, e retira do manto azul de Ogum um Ojá,
prometendo utilizar em suas próprias vestes em homenagem ao amigo que apaziguou
sua cabeça…”
Oxaguiã e Ogum, amigos inseparáveis, partiram pelo mundo
desbravando terras, conquistando reinos, edificando cidades prosperas que
emanavam fartura nas colheitas, até a chegada a cidade de Elleejegbô, onde
Oxaguiã foi coroado Rei desse povo. Foi com Ogum que Oxaguiã aprendeu a
guerrear, tornando-se o único “Guerreiro funfun” (Guerreiro Branco) dentre os
orixás ligados a criação e a Olorum. E foi Oxaguiã que criou os instrumentos de
guerra e agrícolas que Ogum, modelava em ferro, hoje, tão importantes para o
setor industrial e desenvolvimento das nações.
Com Exú, Orixá ligado a criação e ao verbo, ‘o
mensageiro’ que faz a ligação entre os mundos aos homens, Oxaguiã fez-se elo
direto do Panteão celestial a terra, aproximando-se dos homens, graças a sua
ligação com este orixá, o elo Céu e Terra, o Divino e o profano foram rompidos,
e a mediunidade dada aos homens.
Sua relação com Iroko, Orixá também pertencente ao
panteão funfun ligado ao tempo e protetor das grandes arvores ancestrais,
ensinou o respeito ao tempo, aos valores, a conservação das coisas vivas e
brancas, todas, pertencentes a Oxaguiã e aos Funfuns.
Com Logunedé, Orixá que retém em si o encanto e a magia,
aprendeu a observar o encanto contido na essência das substâncias. Tudo é vivo
e encantado, com isso, Oxaguiã aprendeu invocações aos animais e tudo
pertencente a floresta, sendo Oxóssi, o grande caçador, que preserva as matas e
dá aos homens a prosperidade do cultivo agrícola, dando-nos assim meios de
sobrevivência.
Há em Erinlé, Uma qualidade de ‘Odé’ conhecido como
“Caçador de Elefantes Brancos” toda a admiração de Oxaguiã: é o ‘odé dos olhos
de guiã’, e esta ternura lhes é recíproca. Erinlé presenteia Oxaguiã com
grandes marfins brancos. Mostrando sua força e prudência.
Divide com Xangô, Orixá que comanda os trovões, rei da
cidade de Oyó, orixá que comanda os instrumentos feitos a partir da madeira, o
fundamento da Mão-de-pilão, instrumento utilizado para o preparo de alimentos e
outros fundamentos da cultura afro. Criação de Oxaguiã, para preparar seu prato
predileto, o ‘inhame pilado’ que ajudou
a humanidade na criação de instrumentos para o preparo dos alimentos,
sofisticando e melhorando a alimentação dos povos.
Oxum, Mãe dos rios de águas doces, dela flui a fonte da
vida humana, dela é constituída a estrutura corporal, os tecidos, órgãos,
protetora do segredo de Ifá, rainha da adivinhação e senhora da magia. Com ela
Oxaguiã aprendeu os mistérios ocultos da magia, o respeito aos fundamentos, aos
preceitos, e respeito a água potável, meio para o preparo dos alimentos e fonte
elementar da vida.
Yemanjá Sobá –
Qualidade de Yemanjá anciã, conhecida como “fiadeira de algodão” É desse
material que é feito o Alá, (manto branco) dos Orixás funfuns e o “Alá de Orixalá”,
a qual Oxaguiã foi eleito Rei sobre os orixalás, pelo seus atos de prudência,
respeito e humildade. É o Babalaxó, (Senhor do axó), Oxaguiã também é o
responsável pelo manto que aquece o corpo humano.
Com Oyá, Deusa dos ventos e tempestades, divide com
Oxaguiã o fundamento que comanda os ancestrais (Egunguns) através do ‘Atorí’,
vara da arvore sagrada de Iroko, divindade presente na circulação sanguínea,
assim, não distingue pobres e ricos, ela conhece e está em todos.
Assim como Oxaguiã, Obá é uma deusa guerreira, que faz
uso da espada e do escudo para lutar pelo bem e defender a verdade. Como
caçadora, também faz uso do Ofá, instrumento que pertence a Oxóssi e outros
orixás das matas, os utilizando para a caça.
Yewá!… Deusa da persuasão, dona dos disfarces, da
dissimulação, liga-se a Oxaguiã pela oratória, pelo dom da fala dotada a este
Oxalá, onde fazem um elo para arquitetar estratégias, nos ensinando o poder das
‘guerras ideológicas’ quando contribuem para o desenvolvimento da humanidade.
E assim é constituído o equilíbrio de Orum e Aiyê: Cada
Orixá é responsável pela conservação elementar da vida. O fogo, a terra, o ar e
as águas… O respeito aos minérios, a floresta, aos animais e a vida. E Oxaguiã
é o elo dos mundos, é quem sustêm esse ciclo da vida, ininterrupto, quem zela
pela ordem da humanidade e nos repassa a lição que aprendeu com os orixás: Sem
equilíbrio não há harmonia, não haverá subexistência! É preciso que o homem
aprenda a conservar as riquezas minerais do nosso planeta para a conservação da
vida.
Essa é a mensagem que o A.R.E.S.V. Arranco da FGAF quer
perpetuar, que no amanhecer de cada dia, possamos ser guerreiros que lutam pela
paz e harmonia do nosso mundo.
Asé ô!!!
Autor do Enredo: André Policarpo
Texto e Pesquisa: André Policarpo
Adaptação: Pedro Filho
Direção Cultural e Artística do A.R.E.S.V. Arranco da
FGAF
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