Parabéns pelo seu aniversário!
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quarta-feira, 11 de novembro de 2020
GRES ACADÊMICOS DO GRANDE RIO (DUQUE DE CAXIAS/RJ)
Sinopse enredo 2021
Fala, Majeté! – Sete Chaves de Exu
Quem sou eu… Quem sou eu?
1
– Câmbio, Exu! Fala, Majeté!
Exu, princípio de tudo: gira, faísca, espiral, movimento, corpo-redemoinho, Okotô!, desterro, fervura, espanto, espuma, axé da Terceira Cabaça, Igbá Ketá. Que abre, então, os caminhos: L’Onan, Legba, Eleguá, Bará, Elegbara, Mavambo – pé na porta, pedrada, com sete chaves nas mãos, o nó das encruzilhadas, tranca, carranca, Calunga Grande, porteiras, ponteiras, diásporas, às travessias na barca, correntes os olhos e as águas. Salve Aluvaiá, Salve Bombogira! “O que se há de?”– mar de dendê! O que será?
2
Exu que se fez caboclo, poeira, na cruza, em brasa, chão de terreiro, fora da casa – o mundo inteiro nos pés de andarilhos peregrinantes. Os chifres, os dentes, os búzios, as garras: batalhas! Ali, tanto sacrifício: argila vermelha na praia. Rasgos, penhascos, altares, o orí, a voz de Palmares: os gritos, os mitos, os guizos, a cabeça de Zumbi, “mortal eterno”, “ente coletivo” ao soldo mais verde encanto (porque Zumbi-Exu está em tudo quanto é canto). Agbá! – espraiou-se o culto, firmeza e toque. Sigamos!
3
Exu de proezas tantas, pelejas, orikis, Ifá, adivinhação, histórias fragmentadas nas entrelinhas de odús – o destino do rei de Oió e o trono do Engenho Velho. Odusô, o guardião. Erro que vira acerto, certo que brota errado, do outro lado, enigma, tempero, vuco-vuco, o remédio e o veneno. Tendas, feiras, farofas, recados, as lendas da criação debulhadas nos mercados, o corpo que voa fechado e a visão de cada um: ninguém pode viver sem mim. Preceitos, pressentimentos, trotes, fabulações. Trocas, trocadilhos, línguas desgovernadas. Ciscos, lâminas, lágrimas – Olobé, Elebó, cachimbos, caixotes, cachaça. Truques de linguagem: traquinagens. Osijê, Obá Babá! Oferendas d’Eleru. Pimentas!
4
“Salve o Sol, salve a estrela, salve a Lua!” Saravá, Seu Tranca Rua! Exu que são muitos em um: corpo em si desdobrável. Fala, falo e falácia: falanges. Alafia! Centenas de sobrenomes que vem de muitos lugares – Rio que leva as gentes, ruas que tudo dragam. Exu, malandro Pelintra, Padilha, fio de Navalha, ponta de agulha, os cacos da noite, as sombras da Lapa, Marias, ciganos, cigarras, jogo e cartas na mesa, rendas, vidrilhos, rasteiras, meio-fio das quebradas, rabos de galo e de saia, também os rabos de arraia, o cheiro bom da cerveja, destreza, sem falar nas gargalhadas. O primeiro gole é dele! Exu, Veludo encarnado, luz de abajur, sonhos bordados – sentimentalmente, visivelmente.
“Exu Caveira, Capa Preta, Sete Catacumbas estavam por ali; Fui convidado pra uma festa nobre; na casa de Exu Tiriri…”
5
Exu, potência e gingado, ponto riscado na carne, palco das festas da gente. Brinca o Carnaval em transe, desafia, des(con)fia, desconcerta, bate a bola no asfalto, pisa no sapatinho, samba despudorado, dança inflado de vida, palhaço, e trança a crina do cavalo. Deus de chinelo rasgado, boca beijada, copo na mão, Seu Sete da Lira, bloco lotado, a máscara, Odara!, o baque, o buraco, o cru, o afoxé, o maracatu, o surdo de terceira, a fuzarca dos velhos cordões, o som que vem das favelas, capaz de transver o mundo. Exu, pedra que pulsa, valsa convulsa, mangue que benze, curva, couro, esquina, jorro, ouro e lata no Bal Masqué: não é um robô sanguíneo, não! É santo – mas nem tanto.
6
Exu de tinta e de sangue: é dose, tudo come, tudo sabe, tudo viu. De curto pavio! Lamento de poetinhas – porque tudo é perigoso, divino-maravilhoso. Desnuda as frases no muro, sagrado e profano, mundano, pós-contemporâneo, língua ferina, flauta e cajado, casa de bamba, Basquiat no batuque, as letras amadas, a macumba dos modernistas, o piá-Macunaíma, os perfumes rosianos, na saga do Ser-Tão, “Exu nas escolas”, voz estelar, quebrando tabus e “costumes frágeis” – vocês não aprendem na escola. Vocês copiam! Criemos! Novas pedagogias, para os tempos que virão. Verão! Antropofagias, Enugbarijó. “Através das travessuras de Exu / Apesar da travessia ruim…”
7
Exu que não é o diabo do teatro colonial, projeto de corpos mortos (culpas, medos, grilhões, carcaças, escravos disfarçados de libertos) – mas força que une os opostos, jongo de ser e não ser. Exu, to be e Tupi! Fome, cada vez mais fome! Insone. Os nervos são fios elétricos. Evoca os profetas do caos, as vozes do lixo, a desconstrução, o avesso do manto, um sem quanto, a costura dos trapos, as aparições, remendos-retalhos, o eterno retorno, a fortuna, os farrapos, o espanto e a possível, por que não?, recriação: Olímpia, Stela, Jardelina, Arthur Bispo do Rosário, Estamira no lixão de Gramacho, às margens da alegria, cantarolando aos vapores, saudando os cometas e o fogo, ao som milenar das estrelas, Yangi, pedras de laterita, bailando, da pá virada, Molambo, Mulamba, ruínas:
“Todo lugar tem uma rainha, lá no lixo também tem…”
Exu, a sacerdotisa:
-Câmbio, Exu! Fala, Majeté, fala! Os além dos além é um transbordo. Tem o eterno, tem o infinito, tem o além dos além. O além dos além vocês ainda não viram. Se eu sou à beira do mundo! Entendeu agora? Quer me desafiar? Você quer saber? Cada pessoa é um astro! Câmbio, Exu! Fala, Majeté, fala!
Falemos! Dancemos! Bebamos! Vivamos! Destranquemos os olhos! Sigamos por outros caminhos! Cantemos até o fim – que não deixa de ser um começo. Ouçamos os atabaques – atentos, plenos, fortes!
Exu, a ancestralidade. Exu, desenredo proposto. Exu, a aposta mais alta. Exu, o padê arriado. Exu, passada ligeira: Exu, Laroiê, Mojubá!
– Câmbio, Exu!
Fala, Grande Rio!
Transbordado com expressões e falas retiradas do documentário “Estamira”, de Marcos Prado, além de fragmentos de poemas, canções e pontos de macumba. Inspirado nas provocações de Conceição Evaristo, Helena Theodoro, Alberto Mussa, Luiz Antonio Simas (“Exu é uma escola de samba!”) e Luiz Rufino; e nas narrativas orais de Luiza Maria e Dib Haddad. Dedicado aos inúmeros torcedores apaixonados que nos ajudaram a tecer este manifesto, fonte de afeto, convite para o diálogo. Axé! Carnavalescos – Gabriel Haddad e Leonardo Bora Pesquisa, costura e texto – Gabriel Haddad, Leonardo Bora e Vinícius Natal. Colaboração de Thiago Hoshino e Luise Campos.
GLOSSÁRIO
Igbá Ketá, L’Onan, Bará, Elegbara, Okotô, Agbá, Odusô, Olobé, Elebó, Osijê, Obá Babá, Eleru, Alafia, Odara, Enugbarijó, Yangi: segundo Luiz Antonio Simas, são os títulos que representam os maiores atributos de Exu, diluídos no sumo do enredo, guardados a sete chaves.
REFERÊNCIAS
Livros, artigos e sítios da Internet:
AMADO, Jorge. Dona Flor e seus dois maridos. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.
ANDERSON, Robert. O Mito de Zumbi. Implicações culturais para o Brasil e para a diáspora africana. Revista Afro-Ásia, n. 17, 1996 – Salvador. Disponível em: https://portalseer.ufba.br/index.php/afroasia/article/view/20859
ANDRADE, Mário de. Macunaíma.O herói sem nenhum caráter. Rio de Janeiro: Garnier, 2004. CARYBÉ, Hector; VERGER, Pierre Fatumbi. Lendas africanas dos Orixás. Salvador: Fundação Pierre Verger, 2019.
CUNHA, Maria Clementina Pereira (org.). Carnavais e outras f(r)estas. Campinas: Editora Unicamp, 2005.
FERNANDES, Alexandre de Oliveira. Exu: sagrado e profano. ODEERE, v. 2, n. 3, jul. 2017. Disponível em: http://periodicos2.uesb.br/index.php/odeere/article/view/1573
FUX, Jacques; SANTOS, Darlan. Estamira e Lixo Extraordinário. A arte na terra desolada. Revista Ipotesi – Universidade Federal de Juiz de Fora, 2011. Disponível em: http://www.ufjf.br/revistaipotesi/files/2011/05/14-Estamira-e-Lixo-Extraordin%C3%A1rioIpotesi-1521.pdf
LOPES, Nei. Mandingas da Mulata Velha na Cidade Nova. Rio de Janeiro: Língua Geral, 2009. MENDONÇA, Luciara Leite de; RAMALHO, Christina Bielinski. “Zumbi-Exu”e outras questões identitárias em “A Cabeça de Zumbi”. ODEERE, v. 2, n. 3, jul. 2017. Disponível em:
RIO, João do. As Religiões do Rio. Rio de Janeiro: José Olympio, 2015.
ROSA, João Guimarães. Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.
RUFINO, Luiz. Pedagogia das Encruzilhadas. Rio de Janeiro: Mórula, 2019.
RUFINO, Luiz; SIMAS, Luiz Antonio. Flecha no Tempo. Rio de Janeiro: Mórula, 2019.
RUFINO, Luiz; SIMAS, Luiz Antonio. Fogo no Mato. A ciência encantada das macumbas. Rio de Janeiro: Mórula, 2018.
SANTOS, Deoscóredes Maximiliano dos (Mestre Didi). Contos negros da Bahia. Rio de Janeiro: GRD, 1961.
SANTOS, Deoscóredes Maximiliano dos (Mestre Didi); SANTOS, Juana Elbein dos. ÈSÙ. Salvador: Corrupio, 2014.
SILVA, Cidinha da. Um Exu em Nova York. Rio de Janeiro: Pallas, 2018.
SILVA, Vagner Gonçalves da. Exu. O Guardião da Casa do Futuro. Rio de Janeiro: Pallas, 2015.
SIMAS, Luiz Antonio. O Corpo Encantado das Ruas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2020.
SIMAS, Luiz Antonio. Pedrinhas Miudinhas. Ensaios sobre ruas, aldeias e terreiros. Rio de Janeiro: Mórula, 2019.
SODRÉ, Muniz. Samba, o dono do corpo. Rio de Janeiro: Mauad, 1998.
SODRÉ, Muniz. Santugri. Histórias de mandinga e capoeiragem. Rio de Janeiro: José Olympio, 2011.
VENTURA, Leonardo de Souza Lima. Estamira em três miradas. Dissertação de Mestrado em Psicologia – Universidade de Brasília (UNB). Disponível em: https://repositorio.unb.br/bitstream/10482/3955/1/2008_LeonardoSouzaLimaVentura.pdf
VERGER, Pierre Fatumbi. Orixás. Deuses Iorubás na África e no Novo Mundo. Salvador: Corrupio, 2013.
YEMONJÁ, Mãe Beata de. Caroço de dendê. A sabedoria dos terreiros. Rio de Janeiro: Pallas, 2002.
YEMONJÁ, Mãe Beata de. Histórias que minha avó contava. São Paulo: Terceira Margem, 2004. https://jornalggn.com.br/musica/seu-sete-no-bloco-de-carnaval/ http://reconstruindoexu.blogspot.com/
GRES UNIDOS DE VILA ISABEL (RIO DE JANEIRO/RJ)
Sinopse enredo 2021
Canta, Canta, Minha Gente! A Vila É de Martinho!
“Canta, canta, minha Gente, deixa a tristeza pra lá!”
Canta, Vila Isabel, Morro dos Macacos, Pau da Bandeira e todo o povão Branco e Azul, pois a Festa é da Raça!
Canta feliz da vida o outro Poeta que o Samba te deu, legado eterno do povo teu!
“Canta forte, canta alto, que a vida vai melhorar”, pois o samba foi feito de morro e a Festa é na Raça para a gente impor e celebrar a negritude!
Vamos abrir mais uma vez caminho à nossa ancestralidade, que pede passagem com a vida do Rei Negro das “kizombas, andanças e festanças”, coroado pela brasileira terra negra com força e fé das Áfricas e de Angola!
Morro é África, malandro é guerreiro de lança em punho e a criançada brincando pelas vielas e correndo pela savana.
“Ô dai-me licença ê!
Ô dai-me licença!
Uma licença de Zambi
para cantar umas zuelas no toque do Candomblé”.
É Mano Martinho, Vila!
Simbora?
Batuques invadem o Morro dos Macacos e passeiam pela Vila num convite animado à coroação. Por becos e vielas, seus camaradas descem escadas e ladeiras acompanhados pelo riso inocente das crianças admiradas que entoam melodias eternizadas por ele. Ele, cujo caminho até a coroação foi longo, nasceu na roça onde sentia o vento no rosto e a liberdade nos pés. Corria solto o moleque pelo chão batido, brincando sob a benção do carinho de Mãe Tereza e do amor devoto de Vó Procópia a proteger o garoto contra mau-olhado e assombração. Duas Barras marcada no coração do menino que veio à luz no Carnaval, um ano depois – quem diria? – da partida de Noel. Mal sabia o pequeno Zé que o Axé o preparava para encantar o povo. É a vida que começava a ser tecida pelos caminhos que Zambi quis.
Resistir! O rapaz vai acompanhado pelo tempo, que o conduz a outras praças. Carrega consigo a verdade do mundo estampada na pele. Com os Pretos Forros, na inteligência do dia a dia na Boca do Mato, Martinho fez samba no morro desde cedo, mesmo com a dor da dura vida que seus olhos testemunhavam. Percebeu que ser um só não bastaria para enfrentar a desigualdade. Cantarolava amores, amigos, a família e, múltiplo, virou Sargento Martinho, sem nunca vacilar na felicidade. Negro que segurou no peito as responsabilidades para gritar, partideiro, a revolta contra brancas maldades.
Batucando aqui e acolá, suas personalidades poéticas cresciam, encantando uma Menina-Moça, Vila Isabel, amor à primeira vista. O encantamento foi mútuo. Ela lhe deu inspiração e, a ela, o Poeta declamou paixão. O nome mudou, casamento em que o tempo não faz mais sentido, só há eternidade. Fez, da sua casa, Casa de Bamba, onde todos são bem-vindos. Avolumavam-se canções e partidos-altos, aquele amor transbordando alegria! Nas curvas salivadas dos musicados amores pela Vila e outras cabrochas, encantou-nos, o Devagar, com a língua dada a prazeres. Toques e beijos, palavras e mãos, seios e desejos – vibra com jeito, meu violão, para fazer tremer esse chão!
Sempre feliz, quis brincar Carnaval e desfiou seu Carnaval de Ilusões sob a benção de Noel. Martinho eterno menino, sorriso no alto, amor-paixão pela Coroa, o Branco e o Azul tingindo a gente em noites de fascínio e magia, dedicação foliã entre confetes e serpentinas. Sentiu a quentura da folia e decidiu que o mundo daquele jeito feliz era seu lugar. Então, foi tudo montado para que o povo, ao seu som, sempre quisesse sambar! O Martinho? Mora lá na Vila… É o tal do Martinho da Vila, nosso Rei Negro da Folia.
Afinal, fez química com batidas ancestrais. Deu liga. Gênio popular, misturou o sacolejo dos sons, sembas, sambas, partidos-altos, pagodes e canções. Roça, favela, comunidades, terreiros, Duas Barras, Vila e a gema do Rio de Janeiro. O cavaco era na rua, da rua. Resistência, o tom do sambista. Na escola das favelas, na sabedoria dos botequins e na boemia do Boulevard, na cachaça de beira de calçada e na cerveja com os compadres, vive a simplicidade de gente sábia e desce mais uma para embalar a cantoria.
Daí, reencontrou nas Áfricas sua história por completo. De Luanda, memórias, dom, talento, afeto. Ancestralidade é teu nome, Martinho, e a Vila te saúda! Suas andanças rumo ao Ventre Mãe reaparecem no sorriso aberto e Angola se faz presente. Voltando aos ancestrais, ecoam as vozes daqueles que possuem a força da cor. Nosso Poeta abre caminhos de lá pra cá e daqui pra lá. Intercambia, como elo, passado e futuro e Angola abraça o Embaixador Negro!
Aliás, Martinho sempre esmurrou o preconceito. Por aqui, certeiro, levantou-se também pela Democracia que seu Brasil há muito já não via. Mané com ele não se cria! Diretas pela liberdade e o menino da Vila com o dedo na ferida. Pé ante pé, há muito trocara o marchar pelo sambar e desafiou a censura de não poder criar e ser feliz do jeito que se é Martinho, da Vida! Cantou pela liberdade nos dois mundos unos separados pela covardia da escravidão. Martinho do Brasil e de Angola, Canto Livre! Kalunga e Kizomba, bem, chegou a hora!
Festa da Raça! Na Sapucaí, conquistas da luta negra pela liberdade, tantos Brasis Quilombos dos Palmares, tantos Palmares-Brasis a festejar: negras e negros que lutam pela dignidade. No Centenário da Abolição, bom lembrar que negra foi a canção, samba que ferveu e ferve no sangue das passistas, na alma das baianas, na Swingueira de Noel, nas negras e negros que mandaram e mandam na Avenida. Valeu, Zumbi! Tem grito forte nos Palmares e aqui! Martinho guerreiro quimbundo, Zumbi abençoando e Zambi dando força: Concerto Negro ontem, amanhã e agora.
E seguiu, “devagar, devagarinho”, o sambista e sambador, também malandro engenhoso inspirado quando com tinta na mão. Alma brasileira-angolana e a Lua de Luanda iluminando seus livros. Salve a amada família, a das favelas, das Áfricas, de Barras, de sangue e da Vila, tudo tema de prosas e poesias, Martinho lambendo com amor a cria! Veio de longe a vocação de prosador. Bateu papo com o Bruxo do Cosme Velho quando para ele fez samba nos idos da Boca do Mato. Saber da rua, da roça, dos barracos, olho no olho de qualquer dotô e nosso nêgo quebrando o racismo de cada dia no gingado sábio – “Crioulo não é doido!” e negro impõe respeito! Martinho sim, Doutor com conhecimento de causa, da vida e dos livros! Escreveu histórias, Zé das Cantorias! Martinho das Letras, a Academia o reverencia! O Rei derrama sabedoria nas páginas e, em verso e prosa, encanta e declama a vida.
Cabem, assim, mil Martinhos nessa história. Sem pressa, o Poeta Negro enredou suas memórias no chão sagrado da Vila, preparou o quintal pro pagode com os amigos, celebrou causos da fazenda, da favela, dos subúrbios e da folia, a mesa farta sempre em boa companhia – cantos de lavadeiras, corações de malandros, crenças e crendices, papos de cozinha. Cadenciado, brincou e brincará! Compadre Noel, aquele abraço só no sapatinho e na alegria!
E agora é a vez de vocês correrem soltos, meninas e meninos da Vila, pois lá vem a coroação do Mestre Rei Martinho. Aprendam com o Griô de Gbala: é sobre a gente negra, nosso sangue, nosso carnaval, nossa ancestralidade, que hoje ele com a gente fala. O morro desce “feliz da Vila”: a vida dele vamos coroar! E vamos renascer das cinzas, tudo acabando na quarta-feira só pra recomeçar, pois nossa negra felicidade jamais vai terminar. Uma “Boa Noite”, Vila Isabel! Nossa garra na terra de bambas é celeste, infinita, e o resto a gente aprende com Martinho Mestre, só no laiaraiá!
Ergue a cabeça então, Comunidade, e pisa forte na Avenida! Ginga, samba, semba!
Arranquem do peito o grito preso e cantem alto com orgulho a força e a fé da nossa negra-alma-samba, deixando qualquer tristeza pra lá!
É dia do Teu Martinho, Vila!
Incendeia a Sapucaí, vamos pra cima e sim, bora kizombar!
Enredo: Edson Pereira, Victor Marques, Clark Mangabeira
Sinopse e Texto: Victor Marques, Clark Mangabeira