sábado, 5 de novembro de 2011

GRES UNIDOS DE VILA ISABEL (RIO DE JANEIRO/RJ)

Samba-enredo 2012 - Unidos de Vila Isabel


O canto livre de Angola vai ser embalado pelo samba de André Diniz, Arlindo Cruz, Artur das Ferragens, Evandro Bocão e Leonel. A parceria multicampeã levou mais uma, com um dos melhores sambas do Carnaval 2012. Era a obra apontada como favorita pelo Carnaval de Avenida e teve vitória relativamente fácil, sobrando nas apresentações na quadra.

O samba tem uma letra muito forte e imponente. Começa tirando um pouco o foco do enredo e fazendo menção à "Kizomba", enredo de 1988 da Vila, que deu o primeiro título à escola. Sem dúvidas é uma passagem que mexe com os brios dos componentes. O fim da estrofe tem uma variação muito boa, mais afro, que é quase uma conclamação. Aliás, o samba é todo feito para se bater no peito e cantar: "somos a pura raíz do samba", "somos cultura que embarca", "temos o sangue de Angola correndo na veia", "vibra, oh, minha Vila". Não faltam versos aguerridos, que dão ainda mais imponência ao samba e contagia quem canta.

A estrutura da composição é diferenciada, contendo apenas com um refrão. A estrofe central não se repete, o que dá ainda mais dinamismo e fluência ao canto. Ao final da segunda parte, o momento de maior risco da obra: os contracantos. Os últimos versos possuem trechos entre aspas, com melodia diferente, para serem cantados pelo coro em resposta ao intérprete. Algo que pode tirar o sono dos diretores de harmonia, mas que, se der certo, poderá proporcionar um efeito muito bonito. A primeira versão do samba de Martinho da Vila para o enredo sobre Noel Rosa, em 2010, também possuia contracantos. Eram bem mais complexos que os do samba de 2012 e acabaram sendo excluidos ainda no início das eliminatórias. Desta vez, a escola vai arriscar.

O único refrão é a parte mais suave do samba. Apesar de ser bastante melodioso e até dolente, possui ritmo bem marcado e forte como a letra. O enredo é bem contado e de fácil compreensão, até pelo fato da história dos escravos vindos da África para o Brasil e dando origem ao samba já ser mais do que conhecida pelos sambistas. No último verso, lembrança a Martinho da Vila, grande baluarte da escola, que é Embaixador Cultural de Angola no Brasil.

Dando sequência a sua brilhante safra recente, a Vila Isabel novamente apresenta uma obra de muita qualidade. Muitos torceram o nariz para mais uma vitória de André Diniz, mas é inegável que os sambas de sua parceria são sempre excelentes. Não há como contestar qualquer uma de suas vitórias. Em 2012, a Vila terá uma oportunidade única: ser a última a desfilar em um dia com sete escola se apresentando. Com 13 escolas no Especial devido à ausência de rebaixamento em 2011, o domingo de Carnaval terá sete escolas, como antigamente. Logo, a escola de Noel provavelmente desfilará já com dia claro. Com o enredo e o samba que tem, o público que permanecer na Sapucaí para prestigiar a azul e branca certamente presenciará um dos momentos mais bonitos do Carnaval 2012.
UNIDOS DE VILA ISABEL - 2012




Enredo: Você semba lá... Que eu sambo cá! O canto livre de Angola
Compositores: André Diniz, Arlindo Cruz, Artur das Ferragens, Evandro Bocão e Leonel

Vibra, oh, minha Vila
A sua alma tem negra vocação
Somos a pura raiz do samba
Bate meu peito à sua pulsação
Incorpora outra vez Kizomba e segue na missão
Tambor africano ecoando, solo feiticeiro
Na cor da pele, o negro
Fogo aos olhos que invadem
Pra quem é de lá
Forja o orgulho, chama pra lutar

Reina ginga ê matamba, vem ver a lua de Luanda nos guiar
Reina ginga ê matamba, negra de Zambi, sua terra é seu altar

Somos cultura que embarca
Navio negreiro, correntes da escravidão
Temos o sangue de Angola
Correndo na veia, luta e libertação
A saga de ancestrais
Que por aqui perpetuou
A fé, os rituais, um elo de amor
Pelos terreiros (dança, jongo, capoeira)
Nascia o samba (ao sabor de um chorinho)
Tia Ciata embalou
Com braços de violões e cavaquinhos a tocar
Nesse cortejo (a herança verdadeira)
A nossa Vila (agradece com carinho)
Viva o povo de Angola e o negro Rei Martinho

Semba de lá, que eu sambo de cá
Já clareou o dia de paz
Vai ressoar o canto livre
Nos meus tambores, o sonho vive

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