A matemática do samba
04 de Março de 2013
Por Gastão Vieira*
Quatro dias de folia, 6,2 milhões de turistas e R$ 5,7 bilhões em receitas geradas para o Brasil. Essa movimentação financeira, verificada pelo Ministério do Turismo, em levantamento preliminar sobre o carnaval de 2013, corrobora fato cada vez mais evidente: a solução para o Brasil fazer frente à crise econômica mundial, gerar emprego e renda e continuar sustentando o crescimento passa, necessariamente, pelo desenvolvimento da atividade turística.
Considerando o trabalho necessário para a preparação das festas e a recepção dos visitantes, tanto por parte do setor público quanto do privado, podemos afirmar que o carnaval brasileiro já derrubou a velha máxima de que, por aqui, o ano só começa depois de encerrada a folia. Pois tenham certeza: o Brasil não descansa em sua tarefa de satisfazer o turista.
Trata-se de uma cadeia produtiva que responde por 3,7% do Produto Interno Bruto (PIB) e 2,9 milhões de empregos diretos. E que deve à festa mais popular do Brasil aproximadamente 5% de seu faturamento.
O levantamento do Ministério do Turismo mostra que os turistas se distribuem de maneira relativamente uniforme pelos sete estados que mais atraem foliões, e considera um gasto médio de R$ 920,86, com transporte e hospedagem pelos quatro dias.
O Rio de Janeiro é o estado que mais recebe turistas: 1,2 milhão de pessoas (19,35% do total), que respondem por R$ 1,1 bilhão em movimentação financeira. Quem ainda tem coragem de chamar São Paulo de túmulo do samba pode se surpreender ao saber que aquele estado tem o segundo maior carnaval do país: atraiu neste ano cerca de 900 mil pessoas, ou 14,5% do total nacional. Os visitantes se distribuíram pelo litoral, além da concentração tradicional na festa no Anhembi e de um fenômeno novo na capital, uma presença crescente dos blocos de rua.
Pernambuco, sobretudo Recife e Olinda, vem logo atrás, com cerca de 800 mil visitantes (12,90%), seguido pela Bahia, com 650 mil (10,48%). A movimentação financeira em cada um desses estados foi, respectivamente, de R$ 828,7 milhões, R$ 736,6 milhões e R$ 598,5 milhões.
Minas Gerais, Santa Catarina e Ceará também respondem por contingentes significativos de visitantes e vêm contribuindo para o crescimento do turismo doméstico a cada carnaval. Minas contou com 180 mil visitantes (2,90%) e movimentou R$ 165,7 milhões. Santa Catarina traz 170 mil turistas (2,74%) e gera R$ 156,5 milhões. No Ceará, os 130 mil turistas (2,10%) fizeram circular R$ 119,7 milhões. Outros estados receberam 2,2 milhões de turistas (35%), e responderam por um fluxo financeiro de R$ 1,9 milhão.
Outras pesquisas, realizadas pelos órgãos locais, agregam informações que reforçam a importância do turismo para a economia brasileira. O estudo Cadeia Produtiva da Economia do Carnaval, de Luiz Carlos Prestes Filho, superintendente da Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado do Rio de Janeiro, aponta que os festejos geram, a cada ano, mais de 250 mil novos postos de trabalho, que respondem por 30% da geração esperada de divisas.
Pesquisa da Riotur (Empresa de Turismo do Município do Rio de Janeiro) com os números coletados durante a folia deste ano mostra que o turista que aproveita a festa na capital fluminense quer voltar, um dado fundamental para subsidiar futuras políticas e estratégias para o setor turístico. Entre os entrevistados no Sambódromo, 95% recomendariam o carnaval carioca a algum amigo, percentual que sobre para 98% dos abordados nos blocos de rua. Já 89% pretendem retornar e 97% tiveram expectativas superadas. Vinte transatlânticos levaram à cidade 70 mil turistas, que por lá deixaram US$ 21 milhões.
Se para o Rio o turista quer voltar, em São Paulo ele quer ficar: uma pesquisa feita pela prefeitura paulistana, no ano passado, mostrou que os visitantes do carnaval ficam cinco dias em média. O acréscimo de um dia ao tempo de permanência, em relação ao ano anterior, é mais um sinal do crescimento do setor turístico no país. As pessoas que "esticam" a estada na capital paulista são em sua maioria mulheres assalariadas, com idade entre 30 e 39 anos e nível superior completo, com avaliação positiva tanto da cidade quanto dos desfiles no Sambódromo.
Em Recife, a geração de receita pelos 718 mil visitantes foi de R$ 603 milhões. A ocupação hoteleira foi de 95%, mesmo percentual de 2012, porém devemos considerar o aumento do número de leitos na cidade, um resultado dos preparativos para a Copa das Confederações e Copa do Mundo. No Ceará, houve elevação do número de turistas de 11,6% em relação ao ano passado: 93 mil turistas promoveram impacto de R$ 164,7 milhões na economia do estado.
A exuberância dos números equivale à do próprio carnaval. Mas é apenas um indício do potencial que abriga o setor de turismo no Brasil. Estamos trabalhando para elevar a competitividade internacional do país em diversas frentes. As mais recentes são a ampliação da desoneração tributária para o setor e a articulação de preços competitivos nos hotéis para os hóspedes dos grandes eventos. Sabendo aproveitar seu patrimônio natural e cultural único, superando gargalos que ainda existem em infraestrutura e educação, o país poderá dar um salto adiante e gerar emprego e renda com sustentabilidade e redução da desigualdade social. O ano inteiro.
Gastão Vieira é ministro do Turismo.
Publicado em jornal Correio Braziliense, 04 de março de 2013 - edição nº 18.180. Opinião. Página 11
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