Enredo 2018
“O
Reino Está Nu!”
S I
N O P S E
“Não é ouro nem nunca foi,
A coroa que o Rei usou,
É de lata barata,
E olhe lá… Borocochô!…”
(Marchinha – A Coroa do Rei – Haroldo Lobo, David
Nasser, Odeon)
1 – O Reino está nu!
Ao alto, a visão do poder perpetuado nas flâmulas: a
Coroa, símbolo do respeito maior. Dentro, um Castelo infestado por roedores e
usurpadores peçonhentos. Tetos desenhados por teias, castiçais sustentam velas
gastas. A visão do abandono e da sujeira escondida por debaixo do tapete.
Descaso real de uma irreal Monarquia em crise. Nos corredores, a zombaria da
Rainha Má e de seus Vice-Reis falidos ecoa. Repletos da soberba vivida de
glórias passadas, por um Reino para o qual nada fazem.
2 – Os verdadeiros Plebeus.
Nos porões a arte para um grande carnaval. O ferro velho
enverga no sentido alegórico. A madeira em desuso molda o cenário. Esculturas
esquecidas ganham nova vida, enfeitando salões. De pequenos pedaços de trapos,
faço as vestes. Belas fantasias alfinetadas em ateliês repletos de empenho e
suor, onde artistas, moradores das coxias, pintam e bordam. Pedras gastas
ganham o brilho necessário na finalização de adereços. Capas de veludo,
esquecidas, viram tapetes para o desfile dos Monarcas “falsos-bacanas”.
Somos prisioneiros da ansiedade e do tempo. Fiz-me
pedinte de porta em porta, de Reino em Reino: de tesouras e colas. Dos meus
dízimos, por vezes, custeei tantos relicários. Nas goteiras, amparei água de
beber para muitos artesãos. Zelei pela fome de muitos, em inúmeras noites de
longas angústias. Bati o pó dos candelabros. Guardei a sujeira nas estranhezas.
Preparei os salões para receber o ilustre baile de máscaras.
3 – As aparências enganam…
Após oito derrotas em árduas batalhas, o Reino, enfim,
comemora a sua vitória “na guerra”. Fogos de artifício riscam os céus.
Candelabros são acesos, cavaleiros empunham cornetas. O castelo se enche de
vida. Músicos (audaciosos) soam os primeiros acordes; dançarinos (ou passistas)
ensaiam passos de minueto; o banquete é servido. “Quem paga, senta-se a mesa!”
– Ordena a Rainha. Nos salões o desfruto da falsa-fidalguia. Nos bastidores, o
corre-corre dos Plebeus. Exaustos, os verdadeiros reis e rainhas do maior
espetáculo. Baile entregue. Barriga cheia, “pé no mundo”.
“Cortem as cabeças!” – Ordena a Rainha.
4 – E segue o baile…
Minha alegria não emana com a mesma graça de sempre. A
maquiagem escorrida revela o cansaço. Sujos, os sapatos cheios de graxa. O lamê
não brilha como em tempos de outrora. As gravatas de bico não dispõem da mesma
armação. Guizos enferrujam. Luvas gastas cobrem mãos calejadas de trabalho. O
sorriso se esconde. A máscara se perde. Meus dízimos não foram pagos.
Deposto: O Bobo da Corte.
Para todos artistas, viventes do amor à arte de fazer
carnaval.
Marcus Ferreira
Carnavalesco
Henrique Pessoa
Revisão Textual
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