segunda-feira, 13 de setembro de 2010

ENREDO 2011 GRCES UNIÃO IMPERIAL (SANTOS/SP)


“UMA VIDA PRA CHAMAR DE MINHA... SOU CAIÇARA, DO PEIXE COM FARINHA”

AUTOR: ADEMIR FONTANA
O mundo dos séculos XV e XVI passava por profundas transformações, trazidas pelas grandes navegações e descobrimentos. Eram efeitos Renascença. Eram novos caminhos que prometiam as Índias, novos ventos e santas calmarias. O Velho Mundo rendia-se à possibilidade do novo.
Espanha e Portugal disputavam entre si a soberania sobre as terras descobertas - e sobre as que ainda viriam a ser. Havia também o Tratado de Tordesilhas que entre outras coisas, determinava como ponto limítrofe ao sul “das terras portuguesas” a região de Cananéia e Iguape (no Brasil). De certa forma se fazia necessário que esses redutos fossem ocupados, colonizados e, para isso, as coroas de Espanha e Portugal providenciavam “expedições colonizadoras” ao Novo Mundo.
Assim, por aqui, em reinos de Tupã, ao início do século XVI surge um certo bacharel, degredado português que, por ordens de Dom Manuel, veio cumprir pena em terras brasileiras, trazido por Bartolomeu Dias da Ilha de São Tomé (no Golfo da Guiné, África), onde era prisioneiro.
Ainda que possam existir dúvidas quanto à data exata da chegada do “bacharel”, podemos afirmar que em 1502 ele já se encontrava por estas terras.
Assim, Cosme Fernandes (esse era o nome do bacharel) torna-se o responsável pela implantação dos primeiros povoados em terras brasileiras (Cananéia, Iguape, São Vicente), ao conquistar a confiança dos silvícolas e unir-se a eles, que eram guaranis das tribos Carijós, considerados por muitos como de boa índole, os mais pacíficos da costa.
Dessa interpenetração cultural, social e de costumes entre brancos europeus e índios nativos, podemos verificar o surgimento do povo brasileiro.
O Brasil é caiçara na sua origem. E desde o primeiro momento, Iguape foi caiçara e ainda o é - e muito provavelmente sempre será. Isso é muito bom! Para honra e glória do Senhor Bom Jesus e pela graça da Virgem das Neves. A fé e a devoção sempre caminharam juntas ao povo e a história de Iguape. Uma história construída pela simplicidade e elegância sempre presentes, mas, também pelas oportunidades trazidas pelo ciclo do ouro, por exemplo.
Iguape construiu no início do século XVII a primeira Casa de Fundição de Ouro do Brasil. No século XVIII e XIX o ciclo do arroz trouxe grandes recursos e enorme prestígio para a região. A mão-de-obra escrava iniciada com o ouro, agora era introduzida nas plantações de arroz assegurando a Iguape um lugar privilegiado na exportação desse produto o que garantia, aos senhores proprietários, agricultores, expressivos lucros.
De 1820 a 1888 a cidade conheceu o seu apogeu econômico. No entanto podemos perceber que ao longo da história Iguape mantém seu jeito simples e elegante numa demonstração de sabedoria das coisas genuinamente brasileiras. Sempre ligado às águas (sejam elas dos rios, dos mangues, do mar) o caiçara mantém as características de sua cultura primitiva fazendo da pesca e da agricultura atividades de grande importância socioeconômica ainda praticadas artesanalmente, como forma de subsistência.
São as festas populares, folclóricas e religiosas que mais demonstram o espírito e o caráter desse povo que em nome da fé mantém sua tradição cultural ativa e viva através da música, dança, do artesanato, da culinária, etc. No artesanato, produzem cerâmica decorativa e utilitária (as panelas pretas),além do trabalho de cestaria utilizado no cotidiano feito em cipó, fibra de bananeira, bambu, taquara, sisal... e ainda praticam o entalhe em madeira utilizando canela preta, cedro, e principalmente a caixeta (árvore típica da região) com a qual confeccionam também, as rabecas muito apreciadas pelos artistas e músicos populares de todos os cantos.
Talvez seja na maneira de falar e na culinária que o caiçara seja mais simples, mais genuíno. Ao se provar o “azulmarinho” (prato típico de peixe cozido com banana verde e pirão) é que se pode perceber quanto o “menos é mais”. O peixe, a banana, a farinha de mandioca, a paçoca de carne seca, banana cozida, com açúcar e farinha são ingredientes e quitutes dos mais apreciados dessa culinária que elege simplicidade e sabor como suas principais referências.
O fato é que, durante toda a história, esse caiçara iguapense se mostra capaz de preservar e vivenciar suas tradições, seus destinos. Em romaria, muitas vezes carregando a fé como guia , caminham em busca do divino, outras vezes carregando o amor em busca da alegria.
É festa quase sagrada, é a romaria da folia.
É Carnaval.
E nessa hora regidos por Orfeu e sua lira, ao som e ritmo do Zé Pereira e de mãos dadas com Dona Juritica e Seu Tinico, Iguape se entrega ao sonho e ao prazer. É hora de encontros que buscam lembranças e reinventam a história. O Marapé e a União cantam essa alegria na tentativa de relembrar Dorotéia ou Lidioneta, cantam na esperança de ver Lorde Colorido conduzir a Nega Balbina para Dona Juritica reverenciar.
É CARNAVAL!
“É HORA DE SEGUIR O BOI-TATÁ
NO FURDUNÇO VOU ENTRÁ
VOU DÁ UM BORDEJO
E A MENINA ESPIÁ”.
É CARNAVAL!

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