Quem acredita que basta ter a intenção de ensinar não se constrange em culpar o aluno que não conseguiu aprender
Esta coluna tem sido uma espécie de fórum, em que destacamos as paixões da escola brasileira e nos preocupamos com suas carências e seus desvios. As mensagens enviadas por educadores mostram uma ampla diversidade de atitudes. Há desde os que realmente gostam de sua profissão até aqueles, felizmente raros, que gostariam de se livrar de alunos que, a seu ver, não correspondem. Diante de aprendizado insatisfatório, alguns professores se questionam sobre o que fazer para melhorar, enquanto outros não se constrangem em responsabilizar o aluno, quando não sua origem ou família, como nos conta uma leitora.
"Ele não sabe nada!", ela costuma ouvir dos colegas sobre alunos de sua escola. Eles duvidam que um garoto possa aprender o que quer que seja e por problema dele. Essa leitora conta como tem reagido dizendo: "Ah! Não acredito que ele não saiba nada. Se ainda não lê direito, pode saber cantar, desenhar, pintar, interpretar..." Atendendo a seu pedido, tentarei mostrar como essa educadora, numa frase tão curta, já nos dá boas pistas sobre como encaminhar o problema. Porém vou lembrar as raízes históricas da atitude de estereotipar os "mais fracos" para se livrar deles.
Muito antes de termos compreendido que as crianças se desenvolvem em ritmo próprio e que ser diferente da média não implica deficiência, tínhamos uma escola cuja vocação era selecionar alguns, não promover todos. Acreditava-se que os mais lentos só chegavam a determinado ponto, evitando desperdício no esforço educativo. Famílias com mais posses proviam Educação particular aos filhos considerados problemáticos, alguns dos quais depois se revelavam geniais nas ciências e nas letras. Enquanto isso, aos mais pobres era reservado o fracasso.
Hoje, é essencial a convicção de que todos podem aprender. Sem essa certeza, é comum se atribuírem responsabilidades para fora da escola ou inventarem casos perdidos que legitimariam o "lavar as mãos". A questão que se coloca, então, é como lidar com uma criança que ainda não chegou a aprender o que seus colegas já conseguiram. A primeira iniciativa para isso é valorizar o que ela já sabe, como essa professora sinaliza, seja isso cantar, fazer coleções, desenhar ou disputar jogos, baseando-se nisso para novos aprendizados, adequados à idade.
Se estiver no primeiro ciclo, com deficiência na leitura e na escrita, pode-se valorizar sua habilidade no desenho para reproduzir, por exemplo, um processo atmosférico mostrando nuvens e chuva, denominando por escrito os elementos em seu desenho e sua relação causal. Assim, à medida que aperfeiçoa sua leitura dos textos de Ciências ou de Geografia, usa outras habilidades para aprender o assunto. Se a criança tem gosto por coleções, vale sugerir que as classifique por escrito.
Se ela gosta de cantar, uma opção é apresentar as letras das músicas das quais ela gosta e sugerir alterá-las em divertidas paródias. Enfim, a receita é sempre tomar algo de que a criança já é capaz como motivação para ler e escrever.
Se o estudante estiver no segundo ciclo, com deficiências em determinadas disciplinas, podem ser sugeridos trabalhos coletivos, como estudos do meio ou pesquisas bibliográficas, em que o grupo faça uso das diferentes habilidades de cada um,
permitindo o aprendizado mútuo. Aliás, sempre que a cooperação substitui a competição, as diferenças tendem a ser respeitadas, e os problemas individuais, encarados com naturalidade.
No entanto, se boa parte da turma dá sinal de que não está aprendendo e seu professor não sabe o que fazer diante disso, uma sugestão seria ele apontar para o espelho e dizer "Ele não sabe nada!" para logo em seguida reconsiderar: "Não acredito que eu não saiba nada. Algo devo saber ao menos para, com meus colegas, ver o que podemos fazer para melhorar a aprendizagem da turma..."
"Ele não sabe nada!", ela costuma ouvir dos colegas sobre alunos de sua escola. Eles duvidam que um garoto possa aprender o que quer que seja e por problema dele. Essa leitora conta como tem reagido dizendo: "Ah! Não acredito que ele não saiba nada. Se ainda não lê direito, pode saber cantar, desenhar, pintar, interpretar..." Atendendo a seu pedido, tentarei mostrar como essa educadora, numa frase tão curta, já nos dá boas pistas sobre como encaminhar o problema. Porém vou lembrar as raízes históricas da atitude de estereotipar os "mais fracos" para se livrar deles.
Muito antes de termos compreendido que as crianças se desenvolvem em ritmo próprio e que ser diferente da média não implica deficiência, tínhamos uma escola cuja vocação era selecionar alguns, não promover todos. Acreditava-se que os mais lentos só chegavam a determinado ponto, evitando desperdício no esforço educativo. Famílias com mais posses proviam Educação particular aos filhos considerados problemáticos, alguns dos quais depois se revelavam geniais nas ciências e nas letras. Enquanto isso, aos mais pobres era reservado o fracasso.
Hoje, é essencial a convicção de que todos podem aprender. Sem essa certeza, é comum se atribuírem responsabilidades para fora da escola ou inventarem casos perdidos que legitimariam o "lavar as mãos". A questão que se coloca, então, é como lidar com uma criança que ainda não chegou a aprender o que seus colegas já conseguiram. A primeira iniciativa para isso é valorizar o que ela já sabe, como essa professora sinaliza, seja isso cantar, fazer coleções, desenhar ou disputar jogos, baseando-se nisso para novos aprendizados, adequados à idade.
Se estiver no primeiro ciclo, com deficiência na leitura e na escrita, pode-se valorizar sua habilidade no desenho para reproduzir, por exemplo, um processo atmosférico mostrando nuvens e chuva, denominando por escrito os elementos em seu desenho e sua relação causal. Assim, à medida que aperfeiçoa sua leitura dos textos de Ciências ou de Geografia, usa outras habilidades para aprender o assunto. Se a criança tem gosto por coleções, vale sugerir que as classifique por escrito.
Se ela gosta de cantar, uma opção é apresentar as letras das músicas das quais ela gosta e sugerir alterá-las em divertidas paródias. Enfim, a receita é sempre tomar algo de que a criança já é capaz como motivação para ler e escrever.
Se o estudante estiver no segundo ciclo, com deficiências em determinadas disciplinas, podem ser sugeridos trabalhos coletivos, como estudos do meio ou pesquisas bibliográficas, em que o grupo faça uso das diferentes habilidades de cada um,
permitindo o aprendizado mútuo. Aliás, sempre que a cooperação substitui a competição, as diferenças tendem a ser respeitadas, e os problemas individuais, encarados com naturalidade.
No entanto, se boa parte da turma dá sinal de que não está aprendendo e seu professor não sabe o que fazer diante disso, uma sugestão seria ele apontar para o espelho e dizer "Ele não sabe nada!" para logo em seguida reconsiderar: "Não acredito que eu não saiba nada. Algo devo saber ao menos para, com meus colegas, ver o que podemos fazer para melhorar a aprendizagem da turma..."
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