30/01/2013 10:19h
Lançamento de autobiografia de Fernando Pamplona une personalidades do carnaval
Por: Vicente Almeida (e-mail: redacao@carnavalesco.com.br)
A sessão de autógrafos estava marcada para começar às 19h. Mas meia hora antes uma grande fila já serpenteava o salão do Bar Ernesto, na Lapa. Sob a mesa um arranjo de flores e o copo de uísque com gelo. Em uma mão, segurava a caneta, ávida para grafar declarações aos amigos e fãs. Na outra repousava o cigarro, acompanhado do isqueiro providencialmente vermelho. Os típicos óculos contornavam o semblante radiante da grande estrela da noite. Um nervosismo inicial foi deixado de lado após os primeiros afagos, chamegos e abraços dos amigos. As gargalhadas passaram a dar o tom e, enfim, chegava às mãos de todos “O encarnado e o branco”, a autobiografia do carnavalesco Fernando Pamplona.
Mesmo com a teimosa chuva que insistia em tentar estragar a festa, centenas de pessoas se aglomeraram em uma fila de cordialidade sem local marcado. Tudo para saudar o mestre e tentar eternizar aqueles segundos em preciosas fotografias. Sem qualquer tipo de privilégio, todos enfrentaram a enorme fila. Famosos, anônimos, amigos e família, sem distinção foram, um a um, saudando aquele que se homenageava e brindava os convidados com um livro recheado de histórias preciosas.
Sergio Cabral, o pai, Ziraldo, Paulo Stein, Selminha Sorriso, Marcelo Misailidis, Márcia Lage, Ricardo Cravo Albin, Haroldo Costa, todos se misturavam aos anônimos para reverenciar um Fernando Pamplona atencioso, alegre, totalmente lúcido e que mostrou uma vitalidade incrível no alto de seus 86 anos. A sessão de declarações escritas durou mais de quatro horas e em nenhum momento, aquele que era o enredo do desfile de admiradores presentes perdeu a alegria. Quando queria alguma coisa em particular seus olhos buscavam Zeni, a “sua” bailarina com quem é casado há mais de 60 anos.
Ziraldo, autor da charge da capa do livro, divertida e espontaneamente roubou o lugar de Rosa Magalhães na fila e divertiu todos quando chegou à mesa e disparou - Moço, o senhor pode autografar esse livro para mim. O nome é Ziraldo – arrancando risos dos que ouviram a travessura do cartunista.
Rosa Magalhães, que foi sua aluna na Escola Nacional de Belas Artes e é uma das maiores discípulas do carnavalesco Fernando Pamplona, se debruçou sobre a mesa enquanto o seu mestre de outrora riscava as palavras na dedicatória extensa que fazia. O olhar sobre o riscado remetia à menina que em outros tempos aprendia com o professor e entregava uma admiração quase que eterna.
- Maria Augusta! Senta aqui do meu lado – disse imperativamente, como se estivesse na sala de aula, onde um foi professor e a outra aluna, para coloca-la ao seu lado na mesa de autógrafos. Os olhos da artista brilharam e a emoção foi visível.
O jornalista Fábio Fabato, a quem Zeni Pamplona entregou os rascunhos todos escritos à mão e o delegou a missão de organizar e editar o livro, sintetizou o sentimento de todos - Incrível. Uma noite memorável. Foram vendidos quase 400 livros aqui. Esse número mostra a força e o carinho que todos têm por Fernando Pamplona. É uma espécie de "Meia-noite em Paris" em branco e vermelho. O carnaval tem agora uma de suas obras eternas para alegria dos apaixonados – afirmou o Fabato, fã declarado de Pamplona.
A noite ainda teve a homenagem feita à capela por Leonardo Bessa, um dos intérpretes oficiais do Salgueiro, Dudu Botelho, compositor da agremiação e integrantes da Velha Guarda da escola. Sambas como “Chico Rei”, “Festa para um rei negro”, “Bahia de todos os desuses” e “Nossa madrinha, Mangueira querida” deram um tom de nostalgia e saudades ao evento que ficará eternizado na memória de todos os presentes.
- Não vejo carnaval há muitos anos. Hoje, só quero descanso. Ah! Não esquece. Isso aqui é um livro de histórias – decretou um Fernando Pamplona sacana e divertido que não tem pudor em falar nada que lhe vem à cabeça. Se Pamplona nos dias de hoje não vê carnaval, pior para o carnaval. Afinal, seu senso crítico e a firmeza de seus comentários que o eternizaram no coração de todos nós, andam cada vez mais escassos no derramar de elogios que grande parte de imprensa faz aos desfiles atuais. É preciso saber que a crítica bem embasada tem o intuito de ajudar no desenvolvimento daquela festa que todos se apaixonaram. Fernando fez isso como poucos. E que chamem a polícia para prender o povo que em catarse coletiva despia o Cristo mendigo censurado pela ignorância.
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