TIA CIATA DE OSWALDO CRUZ
Há quem diga que sem ela não teria existido a GRES Portela.
Sim, uma mulher branca, pode ter sido a responsável pelo surgimento da mitológica escola de samba de Madureira.
Pelas pesquisas de Lygia Santos e Marília Barboza da Silva ( “ Paulo da Portela: traço de união entre duas culturas”, RJ, Funarte, 1980) , Dona Ester, ou Esther Maria Rodrigues ( 14-2-1896/22-12-1964), era bonita, sagaz e inteligente, e casada com um negro, Euzébio Rocha.
O casal se mudou para Oswaldo Cruz, em 1921.
Não há nenhuma pesquisa explicando de onde os dois vieram, quem eram eles, e porque foram parar em Oswaldo Cruz, a antiga capital do samba, do jongo e caxambu. O que destoava era o seguinte: ela era bonita, branca, educada e casada com um negro popular...naquela época...onde essas relações não eram comuns.
Como isso aconteceu? Como um casal antagônico- de certo modo- como esse surgiu em Oswaldo Cruz?
Mais um mistério do samba?
Vejam o que afirmam estas duas autoras:
“ D. Esther era uma belíssima mulher com seus 25 anos, uma personalidade incrível: alta, branca, cabelos negros e longos, rosto altivo, autoritária, empreendedora e muito festeira (...) Seu marido, Euzébio, era negro, calmo e cordato. Tocava violão muito mal. Tinha um cavalo branco, Faísca, que trazia arreado com o luxo de cow-boy de cinema americano. D. Esther era a rainha. Seu Euzébio, o príncipe-consorte”.
Pergunto: como Seu Euzébio soube livrar esta mulher das cantadas e dos olhares de cobiça de outros suburbanos no final da Belle Epoque carioca ? Como ele se casou com D. Esther num período ainda racialmente violento, ou seja, nos primeiros anos pós abolição?
Claro, aqui, no mundo do samba, ainda existem muitas pesquisas por fazer.
O casal, assim, foi morar, na antiga Rua Adelaide Badajós, 95, uma casa cujo terreno era bem grande, seus limites atingiam outro quarteirão, na Rua Joaquim Teixeira.
Rapidamente, as festas do casal se tornaram famosas no local.
Dona Esther passou a ser uma Tia Ciata dos Subúrbios pois , pois, incorporara a cultura afro, e rapidamente se tornou uma referência, uma mulher citada pela população como sendo reverencia. Isto porque os famosos sambistas do Estácio(Brancura, Nilton, Ismael e outros) frequentavam as suas festas em Oswaldo Cruz. O que os negros daquela época não entendiam era como aquela branca tinha conseguido tanto “axé” para atrair a atenção para si as lideranças e população daqueles bairros coligados.
Quem era aquela mulher?
Alguns, segundo Santos e Silva, a chamavam de Rainha dos Subúrbios.
O casal, assim, resolveu criar o bloco “Quem Fala de Nós come Mosca”. Era uma dissidência de outro bloco que eles frequentavam. Um sucesso em Oswaldo Cruz. O bloco passou a ser frequentado pela população de Bento Ribeiro, Osvaldo Cruz, Madureira e bairros vizinhos.
Seus ensaios eram no grande quintal da casa de Dona Esther. Ela passou a receber autoridades em sua casa, era uma líder de respeito, pois, manipulava vários símbolos: mulher, branca, bonita, sambista e líder comunitária.
Paulo da Portela era um dos seguidores do bloco de Dona Esther, frequentava a casa dela, Esther, era um dos seus súditos. No entanto, parece que divergiu dela e do marido, juntamente com Antonio Rufino dos Reis e Antonio Silva Caetano – os três eram amigos, sócios de fuzarcas no subúrbio- resolveram dar o troco em Dona Esther: fundaram outro bloco, as “Baianinhas de Oswaldo Cruz”, em 1922.
Os três, considerados o triunvirato do samba de Oswaldo Cruz, quatro anos depois, acabaram sendo os três principais fundadores da mitológica GRES Portela, advinda do bloco das “Baianinhas”.
Há pesquisadores que dizem que Dona Esther estava lá, na fundação das “ Baianinhas”, que deu origem a Portela. Não creio ser mentira.
Todos eles eram muitos colados.
Essa mulher- Dona Esther – não tem sua vida mais exaltada no mundo samba- e de sua importante contribuição de pioneirismo para a criação da GRES Portela porque que era branca, e Paulo da Portela, o Príncipe Negro, o Cidadão Samba, acabou sendo consagrado o Rei Negro dos Subúrbios com a criação da GRES Portela.
Se ela não tivesse tomado iniciativas pessoais no mundo popular dos subúrbios, como Paulo da Portela e seus amigos teriam criado futura Portela, como uma tentativa de se contrapor ao pioneirismo de Dona Esther?
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