Sinopse Enredo 2015
AXÉ, NKENDA!
Um ritual de liberdade
"E que a voz da Igualdade seja sempre a nossa voz"
"Ninguém nasce odiando uma pessoa por sua cor de pele ou religião.
Pessoas são ensinadas a odiar. E se elas aprendem a odiar, elas podem ser ensinadas a amar."
Um ritual de liberdade
"E que a voz da Igualdade seja sempre a nossa voz"
"Ninguém nasce odiando uma pessoa por sua cor de pele ou religião.
Pessoas são ensinadas a odiar. E se elas aprendem a odiar, elas podem ser ensinadas a amar."
Nelson
Mandela
Axé!
Ouçam a voz do vento. Prestem atenção no que ela tem a nos contar.
Ouçam a voz do vento. Prestem atenção no que ela tem a nos contar.
Lembra
do tempo em que as estrelas coroavam o nosso pensamento e, com ele, começavam a
brilhar.
Nossos
ancestrais conviviam em harmonia com a natureza e a sabedoria dos animais.
Construíram uma gigantesca família, se espalharam pelo mundo e, por onde
passavam, abriam novos caminhos para semear o amor e a paz.
Naquele
tempo, não havia longe, nem perto; nem errado, nem certo; e reinava uma
exuberante floresta onde, hoje, padece o maior de todos os desertos.
Caminhando
pela savana, reunidos em torno da fogueira, celebrávamos a chegada e a partida,
como se o direito de ir e vir fosse uma certeza prometida.
Baobá,
árvore querida... Aprendemos a cantar, o segredo da rima, rimando a pureza das
palavras com a beleza da melodia: alegria com nobreza, mistérios com fantasia.
Baobá,
árvore querida... Conduz nosso canto até onde moram os deuses do infinito. E
que eles cubram com o manto da noite o ventre de Mãe África, onde dormem as matrizes
da vida.
África,
Triângulo Sagrado, banhado por um oceano de cada lado.
Ao
Norte, o próspero Mediterrâneo; a Leste, o reluzente Índico; a oeste, o
tenebroso Atlântico.
Ao
Norte, entre o mar e o Saara, brotaram as suas primeiras civilizações, verdadeiras
joias-raras: o esplendor do Egito, o empreendedor Cartago e o Marrocos de Alah.
A
Leste, velas tremulavam, salpicando o mar. Traziam sedas da China, tapetes da
Pérsia e temperos da Índia. Do Reino do Sudão levavam o ouro e outros metais
preciosos.
Entre
os paralelos do Equador, existe uma majestosa floresta, onde o homem não se
cansa de tirar, nem os deuses se cansam de repor.
Além
de árvores, plantas e espécies fantásticas, existem rios e cachoeiras que os
nossos olhos são poucos para admirar. Não existe na Terra, tamanha diversidade,
incrível quantidade de vegetais e animais - embora, não faça muito tempo,
houvesse muito mais.
São
Zulus, Massais, Bantos, Mossis, Bokongos e Hauçás clamando por liberdade e paz!
Os
mistérios da Natureza vão além da compreensão. Explode o raio, grita o trovão,
a cheia inunda o vale, a terra vomita fogo pela boca do vulcão. A cachoeira
chora, a lua cheia anuncia que algo acontecerá antes do raiar do dia. Ao som de
tambores, lendas, mistérios, curas e magia constroem mitos e aventuras, cultos
e culturas. Essa é a nossa liturgia.
Vivemos
numa terra de contrastes permanentes. O mais velho dos continentes possui a
população mais jovem do planeta - com sonhos ainda latentes.
Também
pudera... Nenhum outro continente sofreu tantas transformações, tantas
violações, em tão pouco tempo!
Nossos
guerreiros não conseguiram impedir a marcha do invasor. Suas preces foram
sufocadas pelos canhões. Perdemos nossos bens, muitas vidas, dialetos e nações.
O pranto foi pouco para tanta dor...
Fomos
submetidos aos mais diferentes tipos de colonialismo. Aprendemos as mais
contundentes formas de respeitar o "senhor". A pior delas foi o
racismo - linha reta entre quem manda e é mandado.
Nos
impuseram uma nova etnia, religiões, obrigações, devoções e economia. Fomos
escravizados à tecnologia, em nome de um mundo "civilizado".
Pelas
janelas do Atlântico, nossos olhos ainda choram amargas lembranças, vendo
nossos irmãos partirem para terras desconhecidas. Não houve despedida, nenhuma
notícia, nenhuma esperança.
Uma
delas fica do outro lado do oceano e se chama Brasil. É uma terra muito
parecida com a nossa: tem florestas, praias, muitos rios, clima quente, clima
frio, gente que ginga, brinca e que também faz festa na roça.
Irmãos
do Congo, Angola, Daomé, Gaô e Jané foram levados para lá. Carregaram na
lembrança nossos deuses, nossas danças, nossa música, bebidas e comilanças,
misturando nosso sangue ao brasileiro. É por isso que eles são tão festeiros.
Não
fazem uma roda sem que haja um tambor, berimbau, reco-reco e agogô. Cantam em
iorubá, rimam em nagô e começam a sambar. O que era uma roda vira festa,
colorindo o país de Norte a Sul. Vem maracatu... boi-bumbá, congada, capoeira,
reisado, umbigada, é jongo a noite inteira.
Como
num rap, ou num partido-alto, criam vários sentidos com a magia das palavras...
Acarajé,
quibebe, munguzá,
Caruru, abrazô, vatapá...
"Gererê, sarará, cururu
Olerê!
Balá-blá-blá, bafafá, sururu.
Olará!"
E vejam só que interessante... Depois das lágrimas de uma chegada angustiante, nasceram festas e folias que alegram o povo até os nossos dias.
Caruru, abrazô, vatapá...
"Gererê, sarará, cururu
Olerê!
Balá-blá-blá, bafafá, sururu.
Olará!"
E vejam só que interessante... Depois das lágrimas de uma chegada angustiante, nasceram festas e folias que alegram o povo até os nossos dias.
Nossos
irmãos rezavam para os deuses que não eram seus. Cantavam músicas que não eram
suas. E fechavam as procissões que se arrastavam pelas ruas.
Foi
assim que aprenderam a desfilar. Nasceram irmandades de bambas, organizadas
como verdadeiras Escolas de Samba! Que, aliás, são Escolas de Cultura e Arte
Africanas!
Nelas
se aprende as coisas mais elementares da vida: Por exemplo... uma banana,
subvertida como símbolo de racismo, na verdade é o africanismo mais popular do
Brasil... E se não devemos dar asas para o mal, podemos transformá-lo numa
brincadeira de carnaval. Que tal?
Cantemos
a LIBERDADE! E para que ela abrisse as asas sobre nós, tivemos que ser fortes
de verdade. Aprendemos com Zumbi, com os Malês, Manoel Congo, João Cândido e
outros irmãos que já não estão aqui. Mas deixaram um caminho a seguir.
Aprendi
que a vida é um permanente ritual de liberdade. Lutando por justiça, movimentos
se espalharam pelo mundo inteiro. Estão documentados nos livros, no cinema, no
teatro, na música, nas artes plásticas, nos grafites, por toda parte. Foi por
ela que dediquei toda a minha existência. E faria tudo novamente.
Para
que esta mensagem fosse tão transparente como as nossas águas, buscamos um
caminho sem mágoas, procurando sempre a simplicidade. É como a África, mãe de
tantas diversidades, lutando sempre por justiça. Foi a forma que encontramos
para mostrar a verdade.
Precisamos
semear nos livros, nas escolas, nas mentes e nos corações.
Precisamos
reconstruir o continente africano e a mentalidade de muitos. Precisamos
escrever uma nova História de Vida, pontuada de ações humanas, fraternas e
solidárias!
Precisamos
despertar em nossos irmãos, o mais difícil de todos os desejos: o de aprender a
amar. Para que, então, a voz da igualdade seja sempre a nossa voz
Este
será o nosso maior desafio.
Axé,
Nkenda!
Nelson Mandela
Céu - Departamento da África do Sul, Mvezo
GLOSSÁRIO
NKENDA - Amor, segundo o Kimbundu, língua africana falada no Noroeste de Angola.
Nelson Mandela
Céu - Departamento da África do Sul, Mvezo
GLOSSÁRIO
NKENDA - Amor, segundo o Kimbundu, língua africana falada no Noroeste de Angola.
BAOBÁ
(Andansonia digitata) - Também chamado de embondeiro. Árvore que pode atingir
25 m de altura e 7 m de diâmetro. É a árvore nacional de Madagascar, emblema do
Senegal e considerada sagrada em todo o continente africano.
ZULUS,
MASSAIS, BANTOS, MOSSIS, BOKONGOS e HAUÇÁS - Algumas das mais tradicionais
etnias africanas.
Acarajé,
quibebe, munguzá, caruru, abrazô, vatapá - Comidas e iguarias da culinária
africana.
"Gererê,
sarará, cururu/ Olerê!/ Balá-blá-blá, bafafá, sururu/ Olará!" - trecho da
letra de "Querelas do Brasil", música de Maurício Tapajós e Aldir
Blanc, gravada por Elis Regina.
Carnavalesco: Cahê Rodrigues
Pesquisa e Texto: Marta Queiroz e Cláudio Vieira
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