O MAESTRO
BRASILEIRO ESTÁ NA TERRA DE NOEL. A PARTITURA É AZUL E BRANCO, DA NOSSA VILA
ISABEL
Preparem-se
para um grande concerto!
O
maestro sobe ao púlpito, exercendo uma função primordial como "elemento de
ligação das ideias do compositor aos instrumentistas e/ou cantores*", e,
suavemente, ergue a batuta ao ato sublime que transcende a essa dualidade e se
lança aos encantos da regência sinfônica, inscrita "dentro de parâmetros
do imponderável, da mítica, da aura que acompanha o artista e determina a sua
sonoridade**".
Sua
regência é mais que um gesto, ruma-nos à poesia dos sons, traduz das partituras
a emoção da formação de um povo, a genialidade espontânea da criação, a
musicalidade orquestrada à inspiração de significativas apresentações que
provêm do canto e do balé. Numa relação humana onde o elemento principal é a
música, o maestro Isaac Karabtchevsky transforma a Sapucaí num palco e rege o
enredo do meu samba: "O Maestro brasileiro na terra de Noel... Tem
partitura azul e branca da nossa Vila Isabel".
Em
tons graves, agudos, altos ou baixos... As notas musicais saltam dos
instrumentos. Afinam-se cordas, metais, sopros, percussão... Os efeitos sonoros
vão criando uma incrível e mágica sonoplastia... E de uma forma livre e
espontânea, o prelúdio se inicia.
Tudo
pronto. Ouvimos o terceiro sinal. Deixem-se contagiar pelos sentidos da música.
Peguem seus libretos, o espetáculo vai começar!
Na
forja do destino, um momento divino: "Faunos" entoam seus sons
cristalinos.
Envolvidos
pela poesia, a saudade aperta em nosso peito. Em tempo de inspiração, os
"retratos da vida" são o cocar da cultura do nosso Brasil. De um
índio, bravo nativo, chamado Guarani - que se veste de paixão e luta para
conquistar seu grande amor.
Viajamos
pelo canto do "Uirapuru" e descobrimos cada pedacinho desse chão. Do
"Concerto da Floresta" ao sertão brasileiro, seguimos pelos trilhos
do "bachiano menino" a todo o vapor. Pulsantes sejam o "canto da
alma caipira" e o "canto da nossa terra", aventuras de meninos
moleques e de seus coloridos papagaios, a matriz da genuína cultura brasileira!
"Corremos
pelas partituras de mãos dadas com notas musicais" ao requinte de
sinfonias clássicas, barrocas e românticas. Suítes, sonatas,
concertos...embalam, musicalmente, as "Quatro Estações" dos fenômenos
da Natureza; enredam-se pelo amor shakespeariano de "Romeu e Julieta",
pelas aventuras de "Fígaro", o astuto criado da velha Sevilha, e
protagonizam um conjunto de revelações e disfarces num festivo e simbólico
"Baile de Máscaras". Seus sons, ainda entrelaçam-se às nuances, aos
detalhes, às "cores" que a voz consegue, sem possibilidade de confronto,
reproduzir, navegando por entre mares de compassos, declamações líricas à
ousadia do capitão, o que carrega uma maldição por desafiar "Satanás"
a bordo de um "O Navio Fantasma".
Um
momento esplêndido: o maestro reduz seu gesto à proporção justa. Expressa o
máximo com o mínimo...respira com a orquestra! Um espetáculo à parte. Allegro,
avante... Seu realismo fantástico cruza as fronteiras da criação com a regência
da Nona Sinfonia de Beethoven!
Entre
românticos arcos de flores, a "Sagração da Primavera"! Linda é a
bailarina, princesa, camponesa que, ao som da sinfonia, reflete o brilho de
raro esplendor do "Lago dos Cisnes". Não há quem não se emocione com
a majestosa e exuberante coreografia, aventurando-se, sob muitas formas, diante
do "fogo sagrado" de "La Bayadère". Nem com "Balé de
Bolshoi", com o "Quebra Nozes" e com tantos outros... É girando
na ponta dos pés que a orquestra revela a emoção da "arte dos
passos".
Nossos
olhos, sem mais prova, atestam, deslumbrados, um magnífico espetáculo. Diante
do que se vê, sopranos e tenores entoam da arte teatral: a ópera, voz encenada
em drama musical. Castelos, histórias de amor, contos e fábulas... Faces do
imaginário, um tom magistral de sonhos em sintonia com a vida.
Ó
magia! Sob a partitura azul e branca, tudo soa, recebendo, em si, o sopro que
do Brasil ecoa. Vem, meu "povo do samba", desfrutar dessa música boa,
de um "Aquarius Concerto", ao solo de um pandeiro e renascer das
cinzas nos versos de um "senhor partideiro": Martinho da Vila. Vem
com a Vila Isabel, com seu reduto de bambas que "não quer abafar
ninguém***", "só quer mostrar que faz samba também****".
Ideia Original e Carnavalesco: Max Lopes
Pesquisa
e texto: Marcos Roza
1
HAAG, Carlos. Maestro fala da ligação histórica da música popular com a erudita
e conta que foi a voz que o ensinou a reger. Pesquisa FAPESP, São Paulo,
Entrevista, edição 181, 2011.
2 Idem
3 ROSA, Noel. Palpite Infeliz, 1935.
4 Idem.
2 Idem
3 ROSA, Noel. Palpite Infeliz, 1935.
4 Idem.
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