Enredo 2017
"Oito Décadas de Samba, Minha Lavapés, Orgulho da
Terra da Garoa"
O
mundo do samba está em festa. Os arautos negros evocam a chegada daquela que é
a mais antiga escola em atividade de São Paulo: a Sociedade Recreativa
Beneficente Escola de Samba Lavapés. Tudo começou com a dedicação de Deolinda
Madre, mas que em função dos inúmeros afilhados era conhecida como
"Madrinha Eunice".
Filha de
escravos, nasceu em 14 de outubro de 1909 em Piracicaba vindo a morar em São
Paulo com doze anos. As notas musicais do jongo, samba rural e do batuque
foram as bases de sua formação para que futuramente se tornasse um ícone do
carnaval paulista. Na capital, morou na Rua Tamandaré,
residindo posteriormente nas ruas da Glória, Galvão Bueno e Barão de
Iguape (onde foi instalada a quadra da agremiação). Tinha como companheiro o
italiano Chico Pinga, um exímio cavaquinhista que ajudou também a fundar a
Lavapés. A "Rainha Negra do Samba" falecia em 1995 deixando um imenso
legado...
Uma inspiração carioca
Madrinha
Eunice e Chico Pinga se conheceram na Festa de Pirapora, uma tradição que
envolvia romarias, sambas e batuques de diversas partes do estado para a cidade
de Pirapora do Bom Jesus. Durante vários anos Dona Eunice manteve o costume de
levar os integrantes da escola e sua família a famosa festa comemorada em 06 de
agosto, que gira em torno da imagem que foi encontrada na região em 1725,
aproximadamente, às margens do rio Tietê, e que passou a ser considerada
milagrosa. Na capital paulista fez parte de um do bloco carnavalesco do
Glicério, na década de 1930, chamado "Baianas Paulistas" que durou
cerca de três anos, até que, em 1936, o casal foi passar uma temporada com
familiares no Rio de Janeiro quando assistiram ao Carnaval da Praça Onze.
Encantada com
o desfile da escola de samba vermelha e branca "Deixa Malhar" ela,
então, reuniu alguns batuqueiros e 20 homens do bairro para desfilarem vestidos
de baianas. Assim nascia a Lavapés. Dona Eunice escolheu as cores vermelho e
branco, como eram as da escola que ela dissera ter gostado de ver no Rio de
Janeiro e o símbolo adotado para a escola foi uma baiana, figura pela qual
tinha grande admiração. Ela representaria a tradicional ala carnavalesca e as
grandes matronas dos terreiros de grupos vindos da Bahia para o Rio de Janeiro
e São Paulo.
O sonho que virou escola, que
virou realidade...
A escola foi
considerada uma das mais fortes em sua época áurea e dela participaram vários
sambistas que, mais tarde, fundariam e participariam de outras escolas da
cidade. Entre eles, Carlão do Peruche (fundador da Unidos do Peruche, em 1956),
Silval do Império (fundador da Império do Cambuci, em 1963), Chiclé e Mestre
Thadeu (do Vai-Vai), os radialistas Moraes Sarmento e Evaristo de Carvalho,
Mestre Lagrila e o multiartista Germano Mathias. A Lavapés passou por,
praticamente, todos os espaços dedicados aos desfiles de carnaval desde sua
fundação em 1937. Praça da Sé, Vale do Anhangabaú, Avenida São João, Tiradentes
e até o sambódromo.
No final da
década de 30 e década de 40, participava de disputas organizadas por
comerciantes e rádios em diferentes pontos da cidade, sendo considerada
a maior campeã deste período. Na década de 50, houve a unificação das
disputas de agremiações carnavalescas na Praça da Sé e, entre escolas e
cordões, a Lavapés foi tetracampeã (1950 a 1953) e também ganhou o campeonato
em 1956.
Hoje a escola
é comandada por Rosemeire Marcondes, neta de Madrinha Eunice, e mesmo longe dos
holofotes do sambódromo é respeitada e admirada por todos, considerada a escola
de coração pelos verdadeiros sambistas do carnaval de São Paulo. A Lavapés tem
verdadeiros guerreiros que honram seu pavilhão. Finalizamos com uma frase
memorável da querida madrinha fundadora: "Lavapés teve começo, mas não
terá fim".
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