Enredo 2017
NAS ASAS DA ÁGUIA, O ORGULHO DE UMA
NAÇÃO
CARNAVALESCO: EDSON
SIQUEIRA
JUSTIFICATIVA:
No mundo do samba,
quem não conhece Tia Surica? Sua história quase se confunde com a história da
Portela. Quando ela nasceu, a escola tinha apenas 5 anos do seu primeiro
desfile. Desde então, a Portela foi campeã por mais 19 vezes. Do colo da mãe,
passando pelo microfone principal, até chegar à Velha-guarda, Tia Surica sempre
fez questão de marcar sua trajetória de forma festiva e saborosa. Cozinheira de
mão cheia, deixa sua marca registrada, a famosa Feijoada da Tia Surica, como um
marco de grandes comemorações e encontros de sambistas. Quem sabe, em 2017, ela
não esteja preparando mais uma para comemorar o vigésimo segundo campeonato da
Majestade do samba?
O enredo é costurado
por citações a sambas e enredos da Portela, bem como por obras interpretadas
por Surica, porém, trata-se de uma adaptação livre, sem ordem cronológica.
HISTÓRICO DO ENREDO:
É fevereiro no “Rio, a capital eterna do samba”*.
A Fênix e a Águia se encontram para celebrar a presença da Dama do samba em
mais um carnaval, mais precisamente seu septuagésimo segundo. Ela nasceu
Iranette, em Madureira, no ano de 1940, entre dois campeonatos da Portela. O
apelido “Surica” foi dado pela avó, ainda criança. A sua “Vida do Samba” começou ainda aos 4 anos, presa à
cintura da mãe, desfilando naquele que seria o sétimo campeonato da escola,
fantasiada de baianinha.
Assim abrimos o Baú do
samba com a chave da nobreza.
"Corri pra
ver, pra ver quem era ... chegando lá era a Portela. Era a Portela do Seu Natal
... era a Portela do Claudionor. Portela é meu grande amor."
Filha de portelenses,
Surica pouco se lembra do tempo em que não esteve na Azul e Branco. Em 1957
gravou o LP “A vitoriosa escola de samba da Portela”.
Levada por seu Natal
da Portela e Nelson de Andrade, Surica foi crooner da escola no carnaval de
1966, puxando o único samba enredo que Paulinho da Viola compôs para a Portela: “Memórias de um Sargento de
Milícias”, sagrando-se campeã do carnaval. Eis aí uma “Doce Recordação”*.
De pastora à
matriarca. Mestra do samba e do feijão.
As pastoras têm papel
fundamental na tradição das escolas de samba. A escolha do tema para embalar o
desfile se dava nos terreiros, na base da paixão. Ali, as composições dos
candidatos eram postas à prova e aquela que a mulherada cantava com gosto era
invariavelmente a escolhida. Surica é pastora da Portela desde 1980, sendo uma
das mais importantes vozes femininas do samba que guardam a história do seu
Pavilhão. Muitos sambas que compositores da Portela esquecem, deixa que a Tia
Surica lembra.
"não, não basta
ter inspiração nem fazer uma linda canção ...pra cantar samba é preciso muito
mais ...".
Pra ela, toda música tem uma história. Faça “Chuva” ou faça sol, não se apega à “Banalidades”. Tem que estar sempre “Tudo Azul”..”Quantas lágrimas” já derramou, de alegria e até de tristeza. Não, “O samba nunca foi de arruaça”, mesmo que estivesse com o “Coração em desalinho”, mesmo que estivesse “Depois de Madureira”. Uma verdadeira “Mulher à brasileira”, firme tal qual “O tronco do Ipê”. Com ela não existe “Indecisão”. Pra ela não existe “Pintura sem arte”. Faz da vida uma eterna “Doce Melodia”. A saudade de Candeia bate forte. É preciso amar e viver o samba. Candeia sabia o que estava compondo...Cantar samba é preciso muito mais. É esse “Resgate” que a faz continuar caminhando. Aliás, como bem cantaria:"Chegou a hora de caminhar, eu vou ... vou pra Portela que o samba já me chamou".
O samba a chamou, “Desde que o samba era samba”.
Sempre fez questão de viver tudo que fosse “Incrível,
fantástico, extraordinário!”. Desvendou as “Lendas e mistérios da Amazônia” e até em “O segundo casamento de D. Pedro I” ela fez questão de comparecer. Com a
alegria de um Azulão, ao sobrevoar o lindo azul do mar, deu bilhete azul para a
tristeza, defendendo sempre “Todo
o azul que o azul tem”. “E
por falar em amor, onde anda você?” Talvez
na Broadway brasileira, onde o samba entrou em cena... ou mesmo em “Madureira, onde meu coração se
deixou levar”.
“Portela, uma
família reunida”:
Na velha-guarda
desde 1980, tanta dedicação à sua bandeira acabou por valer o recém título
recebido de “Matriarca da Portela”. Até hoje, Tia Surica permanece fiel ao
bairro onde nasceu, permanecendo morando em uma vila, bem próxima ao seu
“Grande amor”: Portelão. Quem a conhece não hesita em dizer: “Que Mulher!”. Com certeza, é o “Poderio de Oswaldo Cruz”. A
exemplo da mais famosa entre as pastoras – Vicentina, cujos dotes culinários
foram louvados em No Pagode do Vavá do portelense
Paulinho da Viola –, também é cozinheira de mão-cheia. Sua casa é palco de
festas memoráveis nas quais além de uma boa roda de samba, “causos” e
“estórias”, pode-se apreciar a sua deliciosa feijoada. Pra ela, o sucesso da
feijoada não tem mistério, tem que fazer com carinho e com amor. Com certeza
esses são os ingredientes que nunca faltaram em tudo que fez.
Nesta
noite, em verde, amarelo, AZUL e BRANCO, a Nação insulana se une à Nação
Portelense para a “Festa da
Aclamação”. Ao som dos clarins e embalados na poesia, reverenciamos a Dama
do Samba. Foi um rio que passou em nossas vidas, e vai continuar passando, pois
afinal, o voo da águia é uma viagem sem fim. E nas asas da águia, ela, o
orgulho de uma NAÇÃO. “Hoje
tem marmelada?”. Claro que não! Hoje tem feijoada, no Cafofo da Surica,
comemorando mais uma estrela a brilhar no pavilhão de Madureira.
Pesquisa e texto:
Edson Siqueira
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