Sinopse enredo 2019
A
INVENÇÃO DO TEMPO - UMA ODISSEIA EM 65 MINUTOS
O tempo tem tempo de tempo ser
O tempo tem tempo de tempo dar
Ao tempo da noite que vai correr
O tempo do dia que vai chegar
(Paulo André / Ruy Barata)
...nada será como antes.
Ao chegar ao fim deste texto, algo extraordinário terá
acontecido: você não vai ser mais o mesmo. De uma forma ou de outra, o tempo
terá agido sobre seu corpo, seu espírito e seu pensamento. A força de Cronos,
deus invisível e indestrutível que habita em nós e em tudo que existe no
universo é um dos mistérios que mais intrigam e seduzem a mente humana. E sendo
o tempo uma divindade em constante mutação, manifesta-se em forma de
engrenagens que movimentam o tic-tac do relógio cósmico, aquele que nunca para.
Aquele que nunca falha. Aquele que sempre há de girar no compasso das leis do
destino. Implacável. Provocador. Fascinante.
No correr dos ponteiros da história, a humanidade tem se
lançado ao desafio de inventar o tempo dando-lhe a forma de anos, dias, horas,
minutos, segundos... Um grande passo na direção de buscar compreender os ciclos
da natureza que se repetem e se repetem e se repetem sem parar. Foi assim que
simples mortais ousaram fatiar o tempo em camadas de instantes que se
materializam nos deslocamentos da sombra do Sol sobre a pedra, nas areias que
escorrem aprisionadas em vidros, na cadência compassada dos pêndulos suspensos
no ar, no soar dos velhos carrilhões, no correr ligeiro dos dígitos... Enfim,
fez-se da divisão do tempo um artifício para inventá-lo, entendê-lo... e
controlá-lo.
O ímpeto de desvendar os mistérios do tempo é também
combustível para coletar os vestígios do passado e projetar-se na esperança do
futuro. Num piscar de olhos podemos estar em 2019 antes da era cristã ou mesmo
aportar em um dia qualquer do ano de 3019. A experiência de decifrar os códigos
para navegar entre as épocas de glórias que se foram e as novas eras que virão
é a mais atrevida das aventuras no tempo. Nesta Odisseia, o ontem e o amanhã
podem se encontrar nos domínios do “hoje”, na esquina do “agora”, na travessia
do “já”. Reger o vai e vem do tempo parece, por um instante, uma jornada
possível. Mas ele sempre há de escapar entre os dedos. Ágil, astuto e movediço.
A tentativa audaciosa de controlar o tempo nos tornou
cativos de um ciclo bárbaro que fabricamos. Caímos na armadilha de forjar
nossos próprios grilhões feitos de pressa e ânsia. No frenético badalar das
horas, cada um se torna mero ator num palco de urgências sem causa. Acorda.
Corre. Trabalha. Gira. Acelera. Aperta. Para... Acorda, corre, trabalha, gira,
acelera, aperta, para... acorda-corre- trabalha-gira- acelera-aperta (...)
Para? Uma marcha insana que nos rouba o tempo livre de ser apenas... humanos. E
ri-se o tempo do balé descompassado de corpos robóticos e da orquestra ruidosa
regulada pelo veloz andamento da vida. É hora, enfim, de despertar para deter
os ponteiros das horas e fazer um pacto com o tempo.
Contagem regressiva. Chegou o momento de viver a mais
fantástica das odisseias em que toda a eternidade cabe em 65 minutos. São os
instantes que ficarão para sempre na nossa memória pelo encanto que se
manifesta no toque compassado da bateria, na palavra tomada de inspiração em
poesia e na melodia sincopada a impulsionar a glória de um desfile memorável,
no gingado de cada componente que risca o chão da Avenida na cadência bonita do
samba, no calor que acende a chama da eterna felicidade. Por isso, roguemos ao
tempo, poeta e compositor de afetos, que nos destine a perpétua alegria de, por
alguns instantes de ilusão, sermos imortais. Porque somos corpo, alma e emoção
em uma apoteótica Odisseia chamada Carnaval.
É tempo de ser feliz. Quem sabe faz a hora. O nosso
tempo é o já, agora e por todo o sempre.
E nada será como antes...
Carnavalesco: Mauro Quintaes
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