CARNAVAL 2019
G.R. C. S. E. S. VAI VAI
O QUILOMBO DO
FUTURO
Sinopse:
Eis o Elo perdido, que todos
encontrem os seus, conectem-se com o cordão do umbigo, com os
velhos mentores de suas
tribos.
Dos em cor de bronze e ébano
esculpidos, esse sou eu.
Estou na estrada, sou o
senhor do tempo, rezo por calmaria e sopro pra fazer vento, meus
braços
vertem-se em asas se
necessito pressa, o tempo urge, a hora é essa.
Ouvi o chamado de vossos
tambores, dos cantores, o clamor por justiça.
Que corra a notícia que o
Afronauta Griot está em Terra, avisa aos poetas, magos, trovadores
que
tenho a chave da sala
secreta que guarda as raízes de nossa esfera, aos pintores, que
trago todos
os matizes para que realizem
a primavera.
Minha missão só se encerra
quando o sol subir ao meio dia e, assim, da sombra eliminada a
geografia, que nunca mais
sobre nós, haja treva.
Desacorrentem a história,
recuperem a memória, restituam o esplendor, a glória à Mãe das
civilizações, que os
livros devolvam os tons, as tantas nuances marrons à terra dos
Faraós, façam
com o colorido em nós a
face dos Orixás, porque o Orum é assim, não há em Aruanda nenhum
que não seja retinto,
nenhum tão diferente de mim, Minha África é Mãe da magia, berço
da
metalurgia, da escrita.
2
Essa idosa senhora trouxe o
sol da religiosidade à alma do ser humano, não é por acaso o Sinai
erguido em solo africano.
Ali e na vizinhança o mundo
emerge da infância e torna-se adulto.
Eu, por ordem de Mãe, com
sua chancela, a mesma com que autorizou Mandela, assino o indulto
aos que mantiveram a herança
dos meus, no breu, em estado oculto.
É chegada a hora. Meu povo
canta, ri, reza e chora às vésperas de uma nova aurora e, acampado
no negro céu do Cruzeiro do
Sul, deuses de África adornam os altares e acendem a lua de Palmares
pra iluminar a marcha à
santa Liberdade…
Mas, povo de minha raça,
não se esqueça, Maafa, quando velas invasoras singram o oceano, em
fímbrias do solo africano
insuflam conflitos, instauram sangrentos ritos e, algo sem precedente
surge no livro da
humanidade, a escravidão negra.
É carregado de angústia e
dor que retorno a esse instante, mas sou Griot, um tambor, do
Criador,
ordenança, trago-vos isso,
à lembrança para que nunca mais, a tal semelhança, algo nos
acometa.
Ó! Povo da pele preta,
atento, quando cortejado. Naquele nefasto momento chegaram juntos,
impostores do profano e do
sagrado envoltos num mesmo véu, um, à sangue, retalhou nossa terra,
o outro, nosso céu.
Na escuridão dos tumbeiros,
reis, rainhas, guerreiros presos às correntes do cativeiro cruzaram
o
Atlântico, muitos
enlouqueceram, outros tantos mancharam as vestes de Iemanjá com o
sangue
de suas crianças.
Por esses, no Novo Mundo,
meu povo foi ao profundo para religar-se à essência.
Não sabiam o que traziam,
os sem valia, nos porões dos negreiros, erraram, esses forasteiros.
Como calar num guerreiro seu
canto revolucionário? Não há, em sã consciência, alguém que a
outro pertença que resista
à violência de seus sonhos libertários.
E nas Américas, um novo
cenário.
Fundem-se nossas culturas,
como se fundem os matizes de originais tinturas extraídas de
diferentes raízes para
assim tornar possível uma pintura nova, fecunda e arrojada.
Eis a envergadura da
diáspora africana nas terras do Mundo Novo.
É uma nave colossal,
fulgurante, colorida, voa com a elegância da negra que dança ao som
dos
tambores, canta com a voz
quase santa que borda a garganta de nossos cantores, faz na
instigante
cadência do jazz, do samba,
um novo grito do Ipiranga, traz, do passado, os pilares para que se
reerga Palmares, o porto
seguro e, do tesouro ancestral, em urgência espacial, a pedra
fundamental
do quilombo do futuro.
Pousa no céu da Vai, Vai.
No contato imediato, além do terceiro grau, eu, o Griot Afronauta,
autorizo, à ribalta meus
tambores, ousem meus trovadores, poetas, magos, atores no palco do
carnaval.
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