“Da
Majestosa África, Tu És Negra Mulher Guerreira a Verdadeira Pérola
Negra”
A
escola de samba Pérola Negra traz para o ano de 2019 o tema alinhado
com nosso tempo, mas que ecoa do passado mitológico da África,
considerada o berço da civilização, um tema polêmico e atual que
nesse momento representa uma antiga ferida. A história de força e
resistência da mulher negra.
O
nome da escola traz uma simbologia que pode ser perfeitamente
alinhada ao tema de 2019, pois a mulher negra é um símbolo de luta,
pois representa um tipo feminino raro, tal qual as pérolas negras. A
pérola é gerada de um fenômeno no qual a ostra se defende de um
intruso (grão de areia, ou qualquer outra coisa que representa uma
ameaça a ostra), e na sua ação de defesa gera uma joia valorizada
por sua perfeição e beleza, a pérola negra é rara e exuberante,
que pode ser relacionada como uma metáfora a luta da mulher negra,
que na defesa de sua identidade e seus direitos, gera uma cultura de
resistência e força que a cada dia ganha espaço e respeito,
conquistado com sua luta diária, sua ancestralidade representada em
sua arte, sua cultura, sua forma de amar e de ser no mundo. Essas
mulheres guerreiras seguem amparadas em sua ancestralidade espiritual
com as bênçãos de Orumilá, que representa: ‘A soma da sabedoria
suprema, a vida e a morte, o nascimento da natureza, a visão total
do mundo e da existência estabelecendo normas éticas que irão
comandar as sociedades e os homens, e assim determinando uma conduta
nobre diante de todas as forças que se formam contra o bem da
humanidade. É o equilíbrio que ajusta as força que conduz a
sustentação do planeta. Orunmilá representa a antiga sabedoria do
Culto Yorubá’.
E
seguem seu destino de defender sua herança cultural sua identidade
para além de sua terra natal, quando em tempos de invasão foram
retiradas de seus lares e arrastadas em condições subumanas para
novas terras, sua luta pela sobrevivência e pela conquista de
direitos é antiga e legitima, luta essa que atravessa o tempo e
contempla várias gerações de mulheres guerreiras unidas até a
atualidade nessa busca histórica por seu lugar de mulher poderosa e
livre que lhe é direito.
Hoje
em pleno século XXI os desafios se lançam para todas as mulheres e
homens em busca de uma sociedade melhor, mas a luta da mulher negra
tem lugar representativo, pois nessa luta está impregnada a busca
pela liberdade de ser a mulher que sua própria história lhe
autoriza a ser, mesmo diante de todo o racismo, violência,
preconceito travestido em falsa civilidade, que mantém o preconceito
velado e dissimuladamente manifesto, e correntes da escravidão que
se tenta impor a essas mulheres de várias formas, desde a tentativa
de desprezar suas tradições até a falta aceitação.
A
escola de samba Pérola Negra vem no ano de 2019 homenagem as grandes
pérolas negras femininas que representam bravamente a luta pelos
direitos por meio de um canto conjunto dessas vozes que dizem: “Eu
sou negra, mulher e guerreira.” E assim essa homenagem proclama que
és tu mulher negra a verdadeira pérola negra.
A
organização dos setores foi idealizada sem apego a cronologia de
fatos, pois o objetivo é lançar mão da licença poética que
permite preservar a perspectiva da arte e fantasia que conduz a mente
e o coração na trajetória da narrativa que a organização dos
setores propõe.
Primeiro
setor
O
primeiro setor começa apresentando a criação do universo na visão
africana, com o
surgimento
da majestosa África e sua mitologia com figuras femininas de grande
importância.
No
início havia apenas escuridão e o vazio, Orumilá que é o òrisá
senhor da sabedoria e do conhecimento, que tendo adquirido o direito
de viver entre o órun (céu) e o aiye (terra), tudo sabe e tudo vê
em todos os mundos. Deus supremo legou o dom da criação e da
transformação, e Yamim Oxorongá grande mãe ancestral ou grande
Gêledéa a feiticeira, que reclama a responsabilidade sobre os
cuidados com a terra África.
Foi
me dada a grande responsabilidade por toda a criação e
transformação da vida, sendo
assim
emoldurei paisagens exuberantes em chão abençoado no qual brotou a
flora que se
espalhou
pelas Savanas; Grandes raízes se levantaram dando origem as árvores,
como a
Baobá,
símbolo de força e resistência.
Todo
este cenário fez-se habitat para uma rica fauna, de pássaros e
outros animais de várias formas e cores. Em meio a tanta beleza a
África simboliza o grande berço da humanidade, que assim se
configura como história e ancestralidade, na qual predominava o
domínio masculino, como Reis e Guerreiros, mas acompanhados de
grandes mulheres que se revelaram como grandes guerreiras, que
defendiam seu povo, sua honra e seus ideais e que ajudaram a escrever
a história de seu povo, com suas habilidades naturais de cuidar e
defender tanto seus filhos quanto sua terra. Com notáveis qualidades
de guerreiras e estrategistas por muito tempo mantiveram-se, como
símbolos de poderes, soberania e muita bravura, capazes de preservar
seus costumes e tradições.
Segundo
setor
O
segundo setor se dedica a retratar um dos eventos mais tristes da
história do povo africano e por sua vez da história da mulher
negra, no qual por meio da escravidão foram injustiçados e
submetidos à discriminação pelas mãos do homem branco, que
dominaram mundo à fora, invadindo terra á dentro expandindo sua
ganância, tornando assim o continente o seu maior mercado. Levou uma
raça a oferecer-lhe da própria carne e separou familiares,
subjulgou reis e rainhas, aprisionou guerreiros e guerreiras, tornou
seres humanos em mercadorias.
Atravessou
a Calunga Em grandes Tumbeiros guiados por Yemanja abarrotados, para
o novo continente para serem escravizados em lavouras de canaviais e
em minas de ouro e diamantes. A negra mulher tornou- se senhora de
todos os senhores, mães das Sinhás, amantes de Feitores.
Foram
açoitadas e marcadas á ferro, presas em Grilhões e jogadas em
Senzalas. Foram perseguidas as indomáveis que corriam ao encontro do
sonho de liberdade Quilombola. Em meio aos sussurros e lamentos,
ecoavam os sons dos tambores, em louvor ao seus Deuses ancestrais,
clamando a chegada da tão sonhada liberdade; Conquista esta
alcançada pelas mãos da princesa Regente Isabel. Com a chegada da
tão desejada liberdade os negros foram jogados ás ruas à própria
sorte.
Essa
luta pelo reconhecimento de sua cultura e direito a preservar sua
identidade, foram
sobrevivendo
e lutando por sua liberdade legitima.
E
ainda hoje no século XXI, depois de tanta luta e conquistas
indagamos… Será que a escravidão realmente foi extinta?
Porque
não houve um preparo para tão sonhada liberdade, pois não trouxe
para o povo negro a cidadania, a integração e a igualdade de
direitos, que permanece como luta social e de direitos que ainda não
fazem justiça a toda grandeza da história do povo africano e
feminilidade negra que da sustentabilidade e cuidados a esse grupo.
Pois ainda ouvimos os ecos da opressão e preconceitos existentes nos
campos e nas grandes metrópoles, ao qual a mulher negra responde com
resistência e força ao preconceito avassalador disfarçado em
civilidade. Essa mulher buscando em suas raízes a força de seu
povo, se mantém guerreira e representa a verdadeira Pérola Negra.
Terceiro
setor
O
terceiro setor busca exaltar a força, a bravura, a ousadia e as
conquistas da mulher negra, que lutam por seu espaço na sociedade.
Em meio à tantas humilhações e maus tratos, o Brasil viu nascer
guerreiras que aclamaram a chegada de um novo tempo, para a mulher
negra nesse chão. Foi uma luta trilhada por caminhos difíceis
marcados pela sombra da escravidão e preconceitos, mas que não
impediram o sucesso de muitas delas. Vitoriosas nos pódios da vida
cotidiana ou em espaços públicos, superando o preconceito por serem
mulheres e negras, as conquistas em tantas competições às
consagraram vencedoras, retratadas pela literatura e tantas outras
formas de arte, marcam a história social com sua luta e sua força.
Muitas
delas brilharam na dramaturgia nacional, nos palcos dos teatros, nas
telas do cinema e televisão, tornando-se grandes estrelas e tantos
outros espaços desde os comuns até os mais glamorosos. Se
destacaram também na dança, como eximias dançarinas e bailarinas.
Consagraram-se
pelo sublime dom de cantar e encantar. Nossas negras notáveis,
encantaramplateias de todo o mundo. Mulher negra vencedora em todas
as áreas e funções, em que atuam.
Exaltamos
você mulher negra guerreira!
Quarto
setor
O
quarto setor é dedicado à figura da negra mulher, inspiradora a
nossa verdadeira joia rara, nossa grande Pérola Negra; Que lutou,
resistiu e venceu. É um convite para que essa guerreira seja à
nossa anfitriã, e adentrar ao nosso Palácio no qual ela será nossa
rainha. Exaltada pela sua luta e bravura, na certeza que como em um
grande Quilombo, os seus sonhos jamais serão Usurpados.
É
com um exército de guerreiras onde suas armas serão substituídas
pela Democracia, pela Igualdade, pelo seu empoderamento e seu lugar
de fala como espaço de poder legítimo, lugar este que representa
sua resistência, bravura e poder, pois jamais poderemos permitir que
calem essas vozes potentes e poderosas, para que venha a ecoar aos
quatro cantos do mundo um exemplo de luta pois… Tu és negra,
mulher, guerreira a verdadeira Pérola Negra.
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