A Revolução do Riso: A Arte de Subverter o Mundo pelo Divino Poder da Alegria
“Depois
de o deus rir, nasceram os sete deuses que governam o mundo…
Quando ele rompeu às gargalhadas, surgiu a luz!
Gargalhou segunda vez, e tudo foram águas!
À terceira gargalhada, apareceu Hermes;
à quarta, a geração;
à quinta, o destino;
à sexta o tempo.
Depois, antes do sétimo riso, o deus inspirou fortemente, mas tanto riu que até chorou, e das suas lágrimas nasceu a alma…”
Papiro de Leyde (Século III)
Quando ele rompeu às gargalhadas, surgiu a luz!
Gargalhou segunda vez, e tudo foram águas!
À terceira gargalhada, apareceu Hermes;
à quarta, a geração;
à quinta, o destino;
à sexta o tempo.
Depois, antes do sétimo riso, o deus inspirou fortemente, mas tanto riu que até chorou, e das suas lágrimas nasceu a alma…”
Papiro de Leyde (Século III)
E
riu-se Deus… e de Sua gargalhada primordial brotaram sete criações
divinas que passaram a reger o universo. Esta outra versão do
Gênesis a partir de um Big Bang cósmico e cômico, revelada no
papiro alquímico de Leyde (Século III), põe-nos diante de uma nova
perspectiva: a potência revolucionária do riso. Por meio dele,
podemos subverter a ordem das coisas, virar tudo de pernas pro ar,
mudar a percepção do que há em nossa volta. Rir é consagrar nossa
melhor face às divindades. É a dádiva alcançada pela aventura de
viver!
Se
“no princípio era o riso”, a arte de gargalhar se tornou também
um meio poderoso de brincar com a realidade. Assim, surge a
“comédia”, representação cênica que deriva dekômos ou
komoidia, termos ligados a festas, aos desvairados cortejos de
Dionísio. O deus da alegria incontida dava aos seus discípulos a
chance de subverter o mundo, proporcionando o sonho, a galhofa e a
liberdade de serem o que quisessem. As lupercais e as saturnais, por
sua vez, eram festivais de risos em Roma que burlavam a ordem social
estabelecida no mais poderoso império da humanidade, que, no apogeu
de suas conquistas, passava a gargalhar de si mesmo.
Se
aos deuses o riso tinha uma potência mística, aos mortais
propiciava uma outra forma de encarar tudo o que acontecia sobre a
face da Terra. Desta forma, mesmo na Europa medieval, onde a sisudez
e a contrição dominavam, a sátira se apresentou como um
impertinente contraponto ao meio de vida austero na corte. Bobos,
bufões e irônicas cantorias nas tavernas faziam parte do cardápio
de gozações que garantiam o riso, ato não muito bem visto em
épocas de domínio soberano da Igreja sobre a sociedade feudal. No
Renascimento, a volta da razão humana ao centro das coisas virou
tudo pelo avesso com as comédias de costumes de Molière e a visão
irônica de Shakespeare sobre a sociedade da época. No mundo em
revoluções, da francesa à industrial, charges colocavam as
peripécias da realeza empoada e da elite abastada no devido lugar do
ridículo.
E
ao falarmos de “humor em tempos de cólera”, chegamos ao período
em que o riso se assombrou. Os “donos do mundo” não escaparam do
olhar mordaz de artistas como Charles Chaplin, em “O Grande
Ditador”, uma crítica ácida em uma era na qual o planeta ainda
respirava os ares da loucura totalitária. Nos anos de censura no
Brasil, “Alegria, Alegria” se camuflava nas “receitas de bolo”
que vinham estampadas nos jornais no lugar de matérias críticas ao
regime vigente no então Brasil golpeado. Correndo “riscos”, os
“heróis da resistência” montavam suas trincheiras armados de
pincel e nanquim. Henfil, Millôr, Jaguar, Ziraldo, entre tantos
outros “traçaram” as linhas de frente nas folhas pálidas dos
“pasquins”.
Mas
chegou enfim a hora de afastar o “cale-se” da mordaça e pintar o
rosto com as tintas da alegria. Se só a arte expulsa coisas ruins
das pessoas, ela é, mais que tudo, capaz de virar o jogo. A
revolução pelo riso se dá ao transformar o nosso interior, dando o
fora na tristeza, espantado o desamor, colorindo a vida e curando o
baixo astral. Crise? Só se for de riso! Chorar? Só se for de tanto
rir! Na nossa escola, conhecida por reunir gente feliz, cada
componente é um artista com a inadiável missão de espalhar
felicidade. Que sejamos doutores de todas as alegrias nesta lúdica
terapia coletiva carnavalesca.
Há
vinte carnavais temos aprendido que a verdadeira felicidade só tem
sentido se for compartilhada. Por isso, VAMOS BUSCAR o nosso sonho,
acreditando na fantasia de que, pelo menos por uma noite, o universo
é governado pelo poder supremo do riso. Afinal, se Deus criou tudo
ao nosso redor a partir do ato de gargalhar, é porque não há nada
mais revolucionário, belo e divino que o milagre da ALEGRIA.
Mauro
Quintaes
Carnavalesco da Dragões da Real
Carnavalesco da Dragões da Real
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