IRACEMA
Descrição
do Enredo
Além, muito além
daquela serra, que ainda azul, no horizonte, nasceu Iracema, a
virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que
a asa da graúna e mais longos que seu talhe de palmeira.
O favo da Jati não
era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque
como seu hálito perfumado.
Mais rápida que a
corça selvagem, a morena virgem corria o sertão e matas do
Ipu, onde campeava sua guerreira tribo da grande nação
tabajara. O pé glacial e nu, mal roçando, alisava apenas a
verde pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas.
Os ramos da acácia
silvestre esparziam flores sobre os úmidos cabelos. Escondidos
na folhagem os pássaros ameigavam o canto.
A graciosa ará,
sua companheira e amiga, brincam junto dela. Às vezes sobre aos
ramos da arvore e de lá chama a virgem pelo nome, outras remexe
o uru de palha matizada onde traz a selvagem seus perfumes os
alvos fios do crautá as agulhas da Juçara, com que a renda e as
tintas de que matiza o algodão.
Martim, primeiro
colonizador português do Ceará, saíra a caça com seu amigo
Poti, guerreiro potiguara, e perdera-se do companheiro, se pôs
a caminhar sem rumo durante três dias no interior da mata
pertencentes á tribo dos tabajaras.
Rumo suspeito
quebra a doce harmonia da a esta, ergue a virgem os olhos, que o
sol não deslumbra, sua vista perturba-se diante dela e todos a
contempla-la esta um guerreiro estranho se é guerreiro e não
algum mau espirito da floresta, tem na face o branco dos areias
que bordam o mar nos olhos azuis, triste das águas profunda,
ignotas armas e tecidos ignotos cobrem-lhe o corpo.
Foi rápido, como
o gostas olhar, o gesto de Iracema, a flecha embebida no arco e
partiu gotas de sangue borbulham na face do desconhecido. Ele
não reagiu.
Arrependida, a
moça corre até Martim e ofereceu-lhe hospitalidade, quebrando
com ele a flecha da paz.
Iracema perguntou
ao estrangeiro: quem ensinou guerreiro branco a linguagem de
meus irmãos? Donde vieste a estas matas, que nunca viram outro
guerreiro como tu?
Venho de muito
longe, filha da floresta. Venho das terras que teus irmãos já
possuíram, e hoje tem os meus.
Iracema diz:
Bem-vindo seja estrangeiro aos campos dos tabajaras.
O estrangeiro
seguiu a virgem através da floresta quando de longe avista a
cabana de ARAQUEM que morava com sua filha, que sentado na
esteira de carnaúba meditava os
sagrados rito de TUPÃ.
sagrados rito de TUPÃ.
Veio bem. E TUPÃ
que o traz o hospede á cabana de ARAQUÉM assim dizendo, o PAJÉ
passou o cachimbo ao estrangeiro e entraram ambos na cabana.
IRACEMA acendeu o
fogo da hospitalidade e trouxe o que havia de provisões para
satisfazer a fome e a sede. Trouxe restos de pesca, caça e
farinha d’água, os frutos silvestres os favos de mel, vinhos
de caju e ananás.
Bem vindo seja, o
estrangeiro e o senhor da cabana de ARAQUÉM, os TABAJARAS tem
mil guerreiros para defendê-lo e mulheres sem conta para servi-lo. O
estrangeiro agradeceu e disse ao PAJÉ: sou dos guerreiros
brancos que levantaram a TABA na margem do JAGUARIBE. Perto do
mar, onde habitam os PITIGUARAS inimigo da nação. Meu nome
é MARTIM SOARES MORENO que na tua língua quer dizer FILHO
DE GUERREIRO; Meu sangue, o do grande povo que primeiro viu as
terras de tua pátria já destroçado companheiros voltaram por
mar as margens do Paraíba de onde vieram, só eu de tantos
fiquei porque estava entre os PITIGUARAS de ACARACU. Na cabana
do bravo POTI irmão de JACAUNA que plantou comigo a arvore da
amizade.
Ao cair da noite,
ARAQUÉM havia deixado seu hospede sozinho, para que ele fosse
servido pelas mais belas índias da tribo. O jovem branco
estranhou que entre elas não estivesse IRACEMA, a qual lhe
explicou que não poderia servi-lo porque era quem conhecia o
segredo da bebida oferecida ao PAJÉ e devia prepará-la.
Naquela noite, os
TABAJARAS recepcionavam festivamente seu grande chefe IRAPUÃ,
vindo par comandar a luta conta os inimigos PITIGUARAS.
Aproveitando da escuridão, MARTIM resolve ir-se embora. Ao
penetra na mata, surgiu-lhe á frente o vulto de IRACEMA.
Visivelmente magoada, ela o segue e lhe pergunta se alguém lhe
fizera mal, para ele fugir assim. Percebendo sua ingratidão,
MARTIM se desculpa. IRACEMA pediu-lhe que esperasse, para
partir, a volta, no dia seguinte de CAUBI, que saberia guiar
pela mata. O guerreiro branco voltou com IRACEMA.
Na manhã
seguinte, incitado por IRAPUÃ, os TABAJARAS se preparam para a
guerra contra os PITIGUARAS, que estavam permitindo a entrada
dos brancos.
Martim foi passear
com IRACEMA . Ele estava triste; ela lhe perguntou se era
saudade da noiva, que deixou para trás. Apesar da negativa de
MARTIM, a moça o levou para um bosque silencioso e prometeu
faze-lo ver a noiva; deu-lhe gotas de uma bebida que ela
preparou. Após toma-las, MARTIM adormeceu e sonhou com IRACEMA;
inconsciente, ele pronunciou o nome da índia e a abraçou; ela
se deixou abraçar e os dois se beijaram.
Quando IRACEMA ia
se afastando, apareceu IRAPUÃ, que era apaixonado pela índia,
declarando seu amor no silencio do bosque a moça se assusta.
O guerreiro
apaixonado pela índia ameaçou matar MARTIM. Diante da reação
contraria dela, IRAPUÃ se foi, ainda mais apaixonado.
Apaixonada, porém estava IRACEMA por MARTIM e passou a ficar
preocupada pela vida dele.
MARTIM achou
IRACEMA triste, ao anunciar-lhe que poderia partir logo. Para
voltar á ele disse que ficaria e a amaria.
Mas a índia lhe
informou que quem se relacionasse com ela morreria, porque, por
ser filha do pajé, ela tomava conta do bosque sagrado era da
Jurema sagrada bebida verde na qual IRACEMA tinha sabedoria do
fazer desse encantamento da selva.
Ambos sofriam com
a ideia da separação.
Seguindo Caubi
irmão de IRACEMA, MARTIM partiu triste, acompanhado por IRACEMA
também triste. Com um beijo, os dois se despediram e o branco
continuou sua caminhada somente com Caubi.
IRAPUÃ, afrente
de cem guerreiros, cercou os caminhantes para marta MARTIM.
Caubi se opôs e soltou o grito de guerra, ouvindo da cabana por
ARAQUEM e pela filha. Esta correu e assistiu a cena; IRAPUÃ
ameaçando MARTIM, que mantinha calmo. A moça quis persuadi-lo
a fugir; ele não aceitou a ideia, resolveu enfrentar IRAPUÃ,
quando iam começar uma luta corporal, ouviu-se um som de guerra
dos PITIGUARAS, que vinham atacar os TABAJARAS.
IRACEMA leva
MARTIM para acabana do pajé e esconde num esconderijo e pedi
para seu irmão ficar de guarda.
IRAPUÃ chega á
porta da cabana ,acompanhado de seus subordinados, e discute com
Caubi. Nesse instante, reboou o trovão de TUPÃ. O vingativo
chefe não se acalmava. Reboou mais uma vez o trovão TUPÃ.
A noite na cabana,
ausente Araquém, MARTIM ao lado de IRACEMA não consegue
dormir; desejava-a, mas ela era proibida. Então lhe pediu que
trouxesse vinho para apressar o sono. Dormiu e sonhou com
IRACEMA, chamando-a; ela acorreu acordada. Ainda dormindo,
sonhou que se abraçavam, sendo que IRACEMA o abraçou de
verdade. Na manhã seguinte, MARTIM se afastou da moça ,
dizendo que só podia tê-la em sonho.
Ela guardou o
segredo do abraço real e foi banhar-se no rio. Mal sabia MARTIM
que TUPÃ havia acabado de perder sua virgem.
IRACEMA dirigiu-se
à cabana do pai para buscar MARTIM e conduzi-lo ate Poti que o
aguardava escondido a fim de levá-lo, livrando-o de IRAPUÃ. IRACEMA
acompanhou ate o limite das terras TABAJARAS. Quando MARTIM
insistiu que ela retornasse para tribo, ela lhe revelou que não
poderia fazer isso, porque já era sua esposa. Surpreso, MARTIM
ficou sabendo que tinha sido realidade o que sonhara.
Ao escurecer, interromperam a caminhada e MARTIM passa a noite
na rede com IRACEMA. Ao raiar da manhã, Poti, preocupado, os
chamou, alertando que os TABAJARAS já estavam na sua
perseguição, informação que ele colheu escutando as
entranhas da terra. Envergonhado, MARTIM pediu que Poti levasse
IRACEMA e o deixasse só, pois ele merecia morrer. O amigo disse que
não o largaria. IRACEMA apenas sorriu e continuou com eles.
Poti retornou á
sua taba, as margem do rio, feliz por ter salvo seu irmão
branco.
Na nova rotina
diária MARTIM caçava e pescava, IRACEMA colhia frutas,
passeava pelos campos, arrumava à cabana, sempre na expectativa
da volta de MARTIM.
Grávida, ela
aguardava a hora do parto e já não sentia mais contrariedade
por ter saído de sua tribo e viver na tribo rival a sua nação.
Com festa, MARTIM foi introduzido na tribo PITIGUARA adotado o
nome de COATIABO.
Numa dessas
manhãs, ouviu o som da JANDAIA que a acompanhava quando morava
entre os seus. Comoveu-se, arrependeu-se de havê-lo deixado
para três e tornou sua amiga de todas as horas.
Um dia, apareceu
no mar, ao longe, um navio dos guerreiros brancos que vinham
aliar-se aos TUPINAMBAS para lutarem contra os PITIGUARAS. Poti
e Martim armaram uma estratégia de defesa. Esconderam seus
guerreiros e atacaram os inimigos de surpresa. À vitória foi
retumbante.
Enquanto Martim
estava combatendo, IRACEMA teve sozinha o filho, a quem chamou
de MOACIR, que na sua linguagem significa, filho da dor.
De tanto chorar
tanta tristeza a falta do seu amado IRACEMA perdeu o leite para
alimentar seu filho. Foi a mata e deu de mamar a alguns
cachorrinhos; eles lhe sugaram o peito e deles arrancaram o
leite copiosa para voltar a amamentar. A criança estava se nutrindo,
mas a mãe perdera o apetite e as forças, por causa da
tristeza.
No caminho de
volta, findo o combate, Martim, ao lado de Poti, vinha apreensivo;
como estaria IRACEMA? E o filho? E lá estava ela, á porta da
cabana, no limite extremo da debilidade. Ela só teve força para
erguer o filho e apresentá-lo ao pai. Em seguida, desfaleceu e não
mais se levantou da rede. Suas ultimas palavras foram o pedido
ao marido de que enterrasse ao pé do coqueiro de que ela
gostava tanto. O sofrimento de Martim foi enorme principalmente
porque seu grande amor pela esposa retornara revigorado
pela paternidade.
O lugar onde se
enterrou IRACEMA veio a se chamar CEARÁ.
De vez em quando,
Martim revia o local onde fora tão feliz e se doía de saudade.
A Jandaia
permanecia cantando no coqueiro, ao pé do qual IRACEMA fora
enterrada. Mas a ave não repetia mais o nome de IRACEMA. “Tudo
passa sobre aterra”.
FIM
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