quinta-feira, 5 de setembro de 2019

GRES FLOR DO JARDIM PRIMAVERA (DUQUE DE CAXIAS/RJ)

IRACEMA

 
Descrição do Enredo
Além, muito além daquela serra, que ainda azul, no horizonte, nasceu Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna e mais longos que seu talhe de palmeira.
O favo da Jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado.
Mais rápida que a corça selvagem, a morena virgem corria o sertão e matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo da grande nação tabajara. O pé glacial e nu, mal roçando, alisava apenas a verde pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas.
Os ramos da acácia silvestre esparziam flores sobre os úmidos cabelos. Escondidos na folhagem os pássaros ameigavam o canto.
A graciosa ará, sua companheira e amiga, brincam junto dela. Às vezes sobre aos ramos da arvore e de lá chama a virgem pelo nome, outras remexe o uru de palha matizada onde traz a selvagem seus perfumes os alvos fios do crautá as agulhas da Juçara, com que a renda e as tintas de que matiza o algodão.
Martim, primeiro colonizador português do Ceará, saíra a caça com seu amigo Poti, guerreiro potiguara, e perdera-se do companheiro, se pôs a caminhar sem rumo durante três dias no interior da mata pertencentes á tribo dos tabajaras.
Rumo suspeito quebra a doce harmonia da a esta, ergue a virgem os olhos, que o sol não deslumbra, sua vista perturba-se diante dela e todos a contempla-la esta um guerreiro estranho se é guerreiro e não algum mau espirito da floresta, tem na face o branco dos areias que bordam o mar nos olhos azuis, triste das águas profunda, ignotas armas e tecidos ignotos cobrem-lhe o corpo.
Foi rápido, como o gostas olhar, o gesto de Iracema, a flecha embebida no arco e partiu gotas de sangue borbulham na face do desconhecido. Ele não reagiu.
Arrependida, a moça corre até Martim e ofereceu-lhe hospitalidade, quebrando com ele a flecha da paz.
Iracema perguntou ao estrangeiro: quem ensinou guerreiro branco a linguagem de meus irmãos? Donde vieste a estas matas, que nunca viram outro guerreiro como tu?
Venho de muito longe, filha da floresta. Venho das terras que teus irmãos já possuíram, e hoje tem os meus.
Iracema diz: Bem-vindo seja estrangeiro aos campos dos tabajaras.
O estrangeiro seguiu a virgem através da floresta quando de longe avista a cabana de ARAQUEM que morava com sua filha, que sentado na esteira de carnaúba meditava os
sagrados rito de TUPÃ.
Veio bem. E TUPÃ que o traz o hospede á cabana de ARAQUÉM assim dizendo, o PAJÉ passou o cachimbo ao estrangeiro e entraram ambos na cabana.
IRACEMA acendeu o fogo da hospitalidade e trouxe o que havia de provisões para satisfazer a fome e a sede. Trouxe restos de pesca, caça e farinha d’água, os frutos silvestres os favos de mel, vinhos de caju e ananás.
Bem vindo seja, o estrangeiro e o senhor da cabana de ARAQUÉM, os TABAJARAS tem mil guerreiros para defendê-lo e mulheres sem conta para servi-lo. O estrangeiro agradeceu e disse ao PAJÉ: sou dos guerreiros brancos que levantaram a TABA na margem do JAGUARIBE. Perto do mar, onde habitam os PITIGUARAS inimigo da nação. Meu nome é MARTIM SOARES MORENO que na tua língua quer dizer FILHO DE GUERREIRO; Meu sangue, o do grande povo que primeiro viu as terras de tua pátria já destroçado companheiros voltaram por mar as margens do Paraíba de onde vieram, só eu de tantos fiquei porque estava entre os PITIGUARAS de ACARACU. Na cabana do bravo POTI irmão de JACAUNA que plantou comigo a arvore da amizade.
Ao cair da noite, ARAQUÉM havia deixado seu hospede sozinho, para que ele fosse servido pelas mais belas índias da tribo. O jovem branco estranhou que entre elas não estivesse IRACEMA, a qual lhe explicou que não poderia servi-lo porque era quem conhecia o segredo da bebida oferecida ao PAJÉ e devia prepará-la.
Naquela noite, os TABAJARAS recepcionavam festivamente seu grande chefe IRAPUÃ, vindo par comandar a luta conta os inimigos PITIGUARAS. Aproveitando da escuridão, MARTIM resolve ir-se embora. Ao penetra na mata, surgiu-lhe á frente o vulto de IRACEMA. Visivelmente magoada, ela o segue e lhe pergunta se alguém lhe fizera mal, para ele fugir assim. Percebendo sua ingratidão, MARTIM se desculpa. IRACEMA pediu-lhe que esperasse, para partir, a volta, no dia seguinte de CAUBI, que saberia guiar pela mata. O guerreiro branco voltou com IRACEMA.
Na manhã seguinte, incitado por IRAPUÃ, os TABAJARAS se preparam para a guerra contra os PITIGUARAS, que estavam permitindo a entrada dos brancos.
Martim foi passear com IRACEMA . Ele estava triste; ela lhe perguntou se era saudade da noiva, que deixou para trás. Apesar da negativa de MARTIM, a moça o levou para um bosque silencioso e prometeu faze-lo ver a noiva; deu-lhe gotas de uma bebida que ela preparou. Após toma-las, MARTIM adormeceu e sonhou com IRACEMA; inconsciente, ele pronunciou o nome da índia e a abraçou; ela se deixou abraçar e os dois se beijaram.
Quando IRACEMA ia se afastando, apareceu IRAPUÃ, que era apaixonado pela índia, declarando seu amor no silencio do bosque a moça se assusta.
O guerreiro apaixonado pela índia ameaçou matar MARTIM. Diante da reação contraria dela, IRAPUÃ se foi, ainda mais apaixonado. Apaixonada, porém estava IRACEMA por MARTIM e passou a ficar preocupada pela vida dele.
MARTIM achou IRACEMA triste, ao anunciar-lhe que poderia partir logo. Para voltar á ele disse que ficaria e a amaria.
Mas a índia lhe informou que quem se relacionasse com ela morreria, porque, por ser filha do pajé, ela tomava conta do bosque sagrado era da Jurema sagrada bebida verde na qual IRACEMA tinha sabedoria do fazer desse encantamento da selva.
Ambos sofriam com a ideia da separação.
Seguindo Caubi irmão de IRACEMA, MARTIM partiu triste, acompanhado por IRACEMA também triste. Com um beijo, os dois se despediram e o branco continuou sua caminhada somente com Caubi.
IRAPUÃ, afrente de cem guerreiros, cercou os caminhantes para marta MARTIM. Caubi se opôs e soltou o grito de guerra, ouvindo da cabana por ARAQUEM e pela filha. Esta correu e assistiu a cena; IRAPUÃ ameaçando MARTIM, que mantinha calmo. A moça quis persuadi-lo a fugir; ele não aceitou a ideia, resolveu enfrentar IRAPUÃ, quando iam começar uma luta corporal, ouviu-se um som de guerra dos PITIGUARAS, que vinham atacar os TABAJARAS.
IRACEMA leva MARTIM para acabana do pajé e esconde num esconderijo e pedi para seu irmão ficar de guarda.
IRAPUÃ chega á porta da cabana ,acompanhado de seus subordinados, e discute com Caubi. Nesse instante, reboou o trovão de TUPÃ. O vingativo chefe não se acalmava. Reboou mais uma vez o trovão TUPÃ.
A noite na cabana, ausente Araquém, MARTIM ao lado de IRACEMA não consegue dormir; desejava-a, mas ela era proibida. Então lhe pediu que trouxesse vinho para apressar o sono. Dormiu e sonhou com IRACEMA, chamando-a; ela acorreu acordada. Ainda dormindo, sonhou que se abraçavam, sendo que IRACEMA o abraçou de verdade. Na manhã seguinte, MARTIM se afastou da moça , dizendo que só podia tê-la em sonho.
Ela guardou o segredo do abraço real e foi banhar-se no rio. Mal sabia MARTIM que TUPÃ havia acabado de perder sua virgem.
IRACEMA dirigiu-se à cabana do pai para buscar MARTIM e conduzi-lo ate Poti que o aguardava escondido a fim de levá-lo, livrando-o de IRAPUÃ. IRACEMA acompanhou ate o limite das terras TABAJARAS. Quando MARTIM insistiu que ela retornasse para tribo, ela lhe revelou que não poderia fazer isso, porque já era sua esposa. Surpreso, MARTIM ficou sabendo que tinha sido realidade o que sonhara. Ao escurecer, interromperam a caminhada e MARTIM passa a noite na rede com IRACEMA. Ao raiar da manhã, Poti, preocupado, os chamou, alertando que os TABAJARAS já estavam na sua perseguição, informação que ele colheu escutando as entranhas da terra. Envergonhado, MARTIM pediu que Poti levasse IRACEMA e o deixasse só, pois ele merecia morrer. O amigo disse que não o largaria. IRACEMA apenas sorriu e continuou com eles.
Poti retornou á sua taba, as margem do rio, feliz por ter salvo seu irmão branco.
Na nova rotina diária MARTIM caçava e pescava, IRACEMA colhia frutas, passeava pelos campos, arrumava à cabana, sempre na expectativa da volta de MARTIM.
Grávida, ela aguardava a hora do parto e já não sentia mais contrariedade por ter saído de sua tribo e viver na tribo rival a sua nação. Com festa, MARTIM foi introduzido na tribo PITIGUARA adotado o nome de COATIABO.
Numa dessas manhãs, ouviu o som da JANDAIA que a acompanhava quando morava entre os seus. Comoveu-se, arrependeu-se de havê-lo deixado para três e tornou sua amiga de todas as horas.
Um dia, apareceu no mar, ao longe, um navio dos guerreiros brancos que vinham aliar-se aos TUPINAMBAS para lutarem contra os PITIGUARAS. Poti e Martim armaram uma estratégia de defesa. Esconderam seus guerreiros e atacaram os inimigos de surpresa. À vitória foi retumbante.
Enquanto Martim estava combatendo, IRACEMA teve sozinha o filho, a quem chamou de MOACIR, que na sua linguagem significa, filho da dor.
De tanto chorar tanta tristeza a falta do seu amado IRACEMA perdeu o leite para alimentar seu filho. Foi a mata e deu de mamar a alguns cachorrinhos; eles lhe sugaram o peito e deles arrancaram o leite copiosa para voltar a amamentar. A criança estava se nutrindo, mas a mãe perdera o apetite e as forças, por causa da tristeza.
No caminho de volta, findo o combate, Martim, ao lado de Poti, vinha apreensivo; como estaria IRACEMA? E o filho? E lá estava ela, á porta da cabana, no limite extremo da debilidade. Ela só teve força para erguer o filho e apresentá-lo ao pai. Em seguida, desfaleceu e não mais se levantou da rede. Suas ultimas palavras foram o pedido ao marido de que enterrasse ao pé do coqueiro de que ela gostava tanto. O sofrimento de Martim foi enorme principalmente porque seu grande amor pela esposa retornara revigorado pela paternidade.
O lugar onde se enterrou IRACEMA veio a se chamar CEARÁ.
De vez em quando, Martim revia o local onde fora tão feliz e se doía de saudade.
A Jandaia permanecia cantando no coqueiro, ao pé do qual IRACEMA fora enterrada. Mas a ave não repetia mais o nome de IRACEMA. “Tudo passa sobre aterra”.
FIM

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