“Pinah,
a Soberana”
Texto-mestre, ou
sinopse
Corre em minhas veias
o sangue real africano. E aqui, diante do povo e por ele
aclamada, me apresento. Sou Pinah. Sou o rastro.
Sou agora porque já foram. Sou herdeira e
produto das memórias que por Kalunga
Grande navegaram, gritando nos porões. Os homens brancos,
no entanto, diziam que elas não tinham valor. E, por não terem
valor, mereciam ser esquecidas.
Porém, recordá-las
é preciso! Elas são navios das nossas memórias,
principalmente as nobrezas d’África que aqui aportaram.
Essas realezas
africanas, primeiro, ancoraram como algumas lembranças trazidas
pelos escravizados, alguns do Reino de Angola, governado
por Nzinga; outros, do Reino de Oyó,
governado por Sango histórico. Elas, depois,
ancoraram acorrentadas, como Agotime, do Reino de
Daomé; como Galanga, o Chico Rei,
do Reino do Congo.
Aqui, d’outro lado
de Kalunga Grande, essas histórias que navegaram ressoaram
feito tambor: som ancestral. No Quilombo de
Palmares, governado por Zumbi e Dandara; depois,
no Quilombo do Quariterê, governado por Tereza
de Benguela e José Piolho. Nos levantes negros, não
demorou muito para tambor ressoar, com os Zuavos
Baianos, liderados por Dom Obá II; com
os Bem-Te-Vis, liderados pelo Imperador Negro
Cosme. Na mística das manifestações folclóricas
afro-brasileiras, tambor ecoou – e coroou –
no Afoxé, Mãe Menininha do Gantois, A
Rainha do Trono Sagrado de Oxum; no Baião, Luiz
Gonzaga, o Rei Lua; no Maracatu, Maria Júlia
do Nascimento, A Rainha Dona Santa. Todos
eles tambor, negros novamente no altar.
A nobreza dos meus
ancestrais, voz no toque do tambor, fez com que, nos
terreiros daqui, nascesse um novo reino com sangue africano. Era
o Reino do Samba. Ele, na Pequena África,
cresceu embalado no colo da Rainha Ciata.
Com o bumbum
paticumbum prugurundum, de Ismael Silva, o Samba
abraçou o Reino do Carnaval, vizinho, de muito real
valor. Ainda nesse reino, o Samba se encontrou com Zé
Espinguela da Mangueira e Paulo da
Portela, Reis da Revolução no Reino do Carnaval. Mas
a revolução não parou por aí. Do abraço entre o Samba e o
Carnaval, nasceram outros impérios, com outros reis e
rainhas, de muitas tradições. Inclusive, as do negro
falando de negritude do Rei Fernando Pamplona.
Da
mente delirante do Rei João
30, da Corte da Academia à Nilopolitana,
eu brilhei. Fui uma Estrela Negra da Constelação.
Daí, eles fizeram de mim Pinah, a Soberana, sangue azul, cor da
nobreza.
E, com o cortejo
da Lins Imperial, ornado de Beija-Flores, nunca
é tarde para rememorar a tradição da qual sou herdeira.
Carnavalescos:
Eduardo Minucci e Raí Menezes.
Pesquisa, texto e
desenvolvimento: Mateus Pranto, Mauro Sérgio Farias e
Raphael Homem.
Webgrafia e obras
consultadas
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Nogueira. Negrismo e
negritude na história da música popular brasileira: entre textos e
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<https://periodicos.fclar.unesp.br/itinerarios/article/viewFile/10666/8000>.
Acesso em: 13 abr. 2019.
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reis, rainhas e a aristocracia no imaginário negro. Disponível
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Acesso em: 13 abr. 2019.
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