Sinopse Enredo 2021
PUNGA,
CRIOULA!
APRESENTAÇÃO
O GRES Acadêmicos
do Engenho da Rainha aquece os seus tambores e viaja à Ilha de São
Luís do Maranhão para conhecer uma das suas mais singulares
manifestações culturais.
Você já viu o
Tambor de Crioula, nego?
Não? Então, venha
ver!
“Vem vê, vem vê
Eu demorei, mas
cheguei
Vem vê!”*
Na terra da
encantaria, as fogueiras estão acesas e os tambores já estão “no
ponto”.
Rufam o roncador e o
meião, repica o crivador:
“Eu vou fazer
baião
Eu vou fazer baião
Tambor pra São
Benedito
Paneiro pra São
João.”*
Louvado seja São
Benedito! Aho gbo gboy, Averekete! Salve os Pretos Velhos!
No toque dos
tambores de Mestre Leôncio, de Dona Daíde e da Tenda de Iguaraúna;
Minha Ginha e Ginga de Zé Macaco; Lírio, Manto, Terreiro e
Mensageiro de São Benedito; Raízes da Terra, de Aruanda, Abanaje-um
e Catarina Mina; Amor a São Luís, Alegria do Maranhão e Desejo do
Nordeste; Pungar da Ilha, Maracrioula, e Turma dos Crioulos.
Saias rodando,
corpos em transe na Ilha do Amor.
Punga, Crioula!
Da roda da saia à
roda de samba, a Primeira Academia dá voz ao teu Tambor.
“Ao tambor, quando
saio da pinha
Das cativas, e danço
gentil,
Sou senhora, sou
alta rainha,
Não cativa, de
escravos a mil!
Com requebros, a
todos assombro
Voam lenços,
ocultam-me o ombro,
Entre palmas,
aplausos, furor!…
Mas, se alguém ousa
dar-me uma punga,
O feitor de ciúmes
resmunga,
Pega a taca,
desmancha o tambor!”*
* Versos retirados
de toadas de Tambor de Crioula.
JUSTIFICATIVA
Única cidade
brasileira fundada por franceses, São Luís do Maranhão abriga uma
cultura bastante peculiar. A influência de indígenas, franceses,
portugueses, holandeses e africanos resultou em lendas e mistérios
que emergem das águas que rodeiam a Ilha de Upaon-Açu,
carinhosamente chamada de Ilha do Amor.
Dizem que o
vai-e-vem das marés é tão forte que até se pode ver um Castelo no
fundo do mar! E que um dia, quando o Touro Negro for espetado bem no
meio da testa, toda a ilha vai afundar e dará lugar à Cidade
Encantada de El-Rei Dom Sebastião!
Mas enquanto o Rei
não volta, nas madrugadas de sexta-feira, a alma amaldiçoada de
Sinhá Jança, em sua carruagem puxada por uma mula-sem-cabeça e
guiada por um escravo igualmente decapitado, passeia entre os
casarões azulejados da cidade…
Lá vive um povo
festeiro, que dança o cacuriá para o Divino Espírito Santo, cultua
o Tambor de Mina e brinca o Bumba-meu-Boi. E nesse conjunto bastante
diversificado de manifestações culturais, destaca-se o Tambor de
Crioula!
Os homens são os
“tambozeiros”, aquecem os tambores no calor das fogueiras e fazem
ouvirem-se as suas vozes pela cidade: o tambor grande, o meião e o
crivador compõem a parelha; a eles se juntam pandeiros e matracas.
As mulheres são as
“coreiras”, que entram na roda e “pungam”. Entram em transe
ao som dos tambores e dançam dando umbigadas umas nas outras. Uma
vez incorporada, a coreira encontra o mundo dos encantados.
Também chamado de
Punga, o Tambor de Crioula é, acima de tudo, uma forma de expressão
através da dança, do canto e da percussão. Com toda sua sagrada
ancestralidade, os tambores comunicavam simbolicamente a resistência
do negro à escravidão. Sua prática teve origem em cerimônias
religiosas do século XIX, quando o toque dos tambores foi associado
ao louvor a São Benedito, o “santo preto”, com o qual os
escravos sincretizaram o vodun Averekete. O tambor é dos santos, o
tambor é das entidades.
O Tambor de Crioula
tem voz! A negra voz, que para não se calar, reverberou no couro e
nos corpos, rememorando a essência da liberdade perdida com a
escravidão.
O Tambor de Crioula
tem mistérios invisíveis! O transe libertava as almas de corpos
aprisionados, garantindo aos escravos a resistência espiritual
necessária para suportar os sofrimentos.
O Tambor de Crioula
é dos antigos! Sua história é contada pela memória dos mais
velhos.
Assim como o samba,
por longo tempo foi proibido, perseguido e marginalizado, mesmo após
o fim da escravidão. Apesar disso, encantou o escritor modernista
Mário de Andrade em sua Missão de Pesquisas Folclóricas, realizada
em 1938, quando se referiu ao Tambor de Crioula como “dança de
feitiçaria”.
Declarado Patrimônio
Cultural Imaterial Brasileiro em 2007, o Tambor de Crioula é
praticado ao longo do ano inteiro, mas tornou-se uma das
manifestações mais importantes do carnaval de São Luís.
Tanto lá quanto cá,
as vozes dos tambores se intensificam em fevereiro!
E no Rio de Janeiro…
a Primeira Academia, pioneira que nem ela só, mescla a toada com
samba e abre a roda pro povo dançar.
É carnaval! Punga,
crioula! Com as bençãos de São Benedito, no Morro do Engenho
ressoa o teu tambor!
SINOPSE
Do mundo dos
encantados
Dos mistérios desse
chão
É tambor ou
brincadeira
De crioula, é
Maranhão.
É matriz
afro-brasileira
É samba, toada,
religião
É canto, música e
dança
Patrimônio, cultura
e expressão.
Acóssi, Divino
Espírito Santo.
Nhá Jança, vade
retro assombração!
Touro Negro, estrela
na testa,
Viva Dom Sebastião!
É Bumba-meu-boi
Na festa da devoção!
Crença, povo,
identidade
Jogo, transe,
ressignificação
Negra herança e
irmandade,
Arte, riqueza e
tradição.
Na fala do corpo
Na voz do tambor
Pererenga, crivador,
Rufador, meião
Coro, poesia e
história
Resistência à
opressão.
Festejo de liberdade
Desde os tempos da
escravidão
Tambor de crioula,
do Norte
É saber, memória e
transmissão.
Dos antigos, dos
Pretos Velhos
Ancestral
manifestação
Mestre, “tambozeiro”
e coreira
Aho gbo gboy,
Averekete!
É vodun, é
louvação.
Da roda da saia
À roda de samba
tudo gira, tudo
roda:
– toada, toque,
tambor,
improviso, umbigada,
requebros e rodopios
-.
Tudo é dança e
circular.
Jeje Mina, Ouidah!
O mi manlan, ô
mimalá.
Na batida, a
saudação.
No convite, o
chamado.
Fogo, fogueira e
fogão.
Na roda, a saia
rodada
De renda, cetim ou
chitão.
Para brincar o
carnaval
Ou festejar São
João,
O som é o batuque
dos tambores
de São Luís ao Rio
de Janeiro em comunhão.
Ê, tambor, eu tô
chegando…
Co’as bençãos de
São Sebastião.
Valha-me Deus, Nossa
Senhora!
Nossa Senhora da
Conceição.
Os tambores do
Engenho da Rainha
Saúdam os do
Maranhão
Ressoa uma
“toada-enredo”
A parelha em
vibração
com matraca,
pandeiro
E tamborim na
marcação.
Samba, crioula!
Punga, cabrocha!
Pisa forte nesse
chão!
De São Benedito, a
bênção
À Primeira
Academia:
um desfile campeão!
Carnavalesco: Leo
Jesus
Autores da Sinopse:
Leo Jesus e Lucia Helena Ramos
GLOSSÁRIO
Acóssi (Acóssi
Sapatá, Acossapatá) – Divindade Jeje (Vodun) cultuada no Tambor
de Mina. Curador e cientista, conhece o remédio para todas as
doenças.
Averekete –
Divindade Jeje (Vodun) cultuada no Tambor de Mina. Sábio e dinâmico,
é responsável pela arrebentação marinha e apresenta-se como um
pescador.
Cacuriá – Dança
típica do Maranhão, surgida como parte das festividades do Divino
Espírito Santo.
Jeje Mina – também
conhecido como Tambor de Mina, é o culto dos Vodun praticado no
Maranhão, proveniente da Costa da Mina, região do Daomé.
O mi manlan
(pronuncia-se “ô mimalá”) – Expressão na língua fon (falada
pela Nação Jeje) que significa “louvamos”.
Ouidah (pronuncia-se
“Uidá”) – antigo cidade no litoral do Daomé onde os
portugueses construíram a Fortaleza de São João Baptista d’Ajudá,
entreposto onde eram embarcados os africanos escravizados da Nação
Jeje, que foram levados para o estado do Maranhão.
Parelha – conjunto
de três tambores que fazem a percussão do Tambor de Crioula, feitos
de troncos de mangue, pau d’arco, soró ou angelim. O tambor
pequeno é conhecido como crivador ou pererenga; o médio é chamado
de meião, meio ou chamador e o grande também pode ser chamado de
roncador ou rufador.
BIBLIOGRAFIA
ALVARENGA, Oneyda.
Tambor de mina e tambor de crioula. Registros sonoros do folclore
musical brasileiro. São Paulo: Discoteca Pública Municipal, 1948.
BARBOSA, Yêda
(coord.). Tambor de Crioula do Maranhão. Brasília: IPHAN, 2016.
CAMARA CASCUDO,
Luis. Dicionário de Termos Folclóricos. São Paulo: Editora Global,
2000.
FERRETTI,
Mundicarmo. Pureza nagô e nações africanas no tambor de mina do
Maranhão. Ciências Sociais e Religião, Porto Alegre, ano 3, n. 3,
p. 75-94, out. 2001.
FERRETTI, Sergio.
Tambor de Crioula Ritual e espetáculo. São Luís: Edições SECMA,
COMISSÃO MARANHENSE DE FOLCLORE e LITHOGRAF, 1995.
____________. Mário
de Andrade e o Tambor de Crioula do Maranhão. Revista Pós Ciências
Sociais, São Luís, v.3, n.5, jan./jul. 2006.
MONTELLO, Josué. Os
Tambores de São Luís. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1985.
RAMASSOTE, R
(coord.). Os Tambores da Ilha. São Luís: IPHAN, 2006.
SÃO LUÍS DORME AO
SOM DOS TAMBORES. Direção de Sérgio Sanz, 2007. Disponível em
https://www.youtube.com/watch?v=p3NyNIGLZ0A
SILVA, Renata de
Lima. Sambas de umbigada: considerações sobre jogo, performance,
ritual e cultura. Textos escolhidos de cultura e arte populares, Rio
de Janeiro, v.7, n.1, p. 147-163, mai. 2010.
VIEIRA FILHO,
Domingos. A linguagem popular do Maranhão. Rio de Janeiro: Gráfica
Olímpica, 1979.
Nenhum comentário:
Postar um comentário