O Amor Preto Cura: Chica Xavier, a Mãe Baiana do Brasil
Sinopse
Pedi ao tempo inspiração para o nosso povo cantar sobre coisas de afeto.
Pedi ao tempo axé para soprar na alma o princípio de tudo o que encanta.
Ele me respondeu em sonho com a imagem maternal de Chica Xavier.
Veio como vento que balança a folha. Folha que espalha essência. Essência que traz a cura.
Cura que vem do amor preto.
E o amor preto reencanta, reconecta, liberta.
Está no lufar da brisa mansa, na força da tempestade bravia, no farfalhar do verdume em folha, no cheiro molhado do mato, na essência do que se é.
O fundamento que a tudo principia, energia elementar, o rebentar primordial do amor, da vida.
Chica é voz, ancestralidade e movimento!
É palco e terreiro onde agora eu vou cantar!
MÃE CHICA, BAIANA DO BRASIL
O meu canto se faz “nós”, em coletivo, para nos elevar à mãe Chica de Oyá, a doce baiana que acalanta tantas filhas e filhos do Brasil.
Aquela que protege com um sorriso, acalma com um abraço e acolhe com a palavra.
Menina trazida ao mundo na Roça da Sabina, em Salvador, louvou santos de reza e deuses de dança. Foi assim que aprendeu a agradecer cantando. Entregou a própria voz como oferenda em cânticos a Maria, pontos aos caboclos e orixás, hinários a Santo Antônio e São Benedito.
Dobrou-se ao amor por Clementino Kelé, companheiro de toda a jornada. Ao deixar a terra-mãe, o casal veio cumprir irrenunciável missão no Rio de Janeiro. E, à nova terra, Chica chegou rainha em dia de reis. Ouro, incenso e mirra trazidos em nobre caravana.
Filha de Dionísia, fez da arte de representar a voz amplificada de todos os griôs. Mais tarde, incorporou a mãe de santo Majé Bassã. Propagou, como vento de virtudes, a Tenda dos Milagres de Jorge Amado, a universidade do povo que o gênio baiano soprou no imaginário popular.
Prudente e sábia, firme e amorosa, suave e altiva, brisa e tempestade, fez-se Chica Xavier, a ialorixá do terreiro Brasil. Devota, ofertou o rosário de búzios à Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, cruzando fés que não se excluem.
Protagonista no elenco da luta antirracista, teceu-se artesã dos segredos da cena. Tornou-se combativa lutadora pela real inserção do povo preto na sociedade. Um dia, um raio chicoteou revolto no céu. Rum dobrado em estampido solitário.
E Mãe Chica se encantou… mas seu legado se perpetua na Irmandade do Cercado de Boiadeiro, onde entidades benfeitoras produzem, religiosamente, milagres de fé.
“Lá na Jurema, debaixo do pé de Ingá
É onde o luar clareia, Jurema, para os caboclos passar”.
E cá estamos nós, de pé, ventando em todas as direções, espalhando sementes. As sábias curandeiras, pretos velhos e caboclos erguem uma tenda de milagres sob a qual maceram ervas para afastar quizila, tirar quebranto, calundu… batem folha, orvalham aromas, defumam altares e entoam cantares para curar o mundo.
E quem viu milagres como eu, há de sentir a presença de mãe Chica como raio poderoso a luzir na mata, a dobrar o vento e a debelar a dor. Hoje, ela é infinito! Bênção, Mãe Chica Xavier! Que seu axé se espalhe sobre nós. O Amor preto há de nos curar!
(Ele vai nos curar)
Carnavalesco: João Vitor Araújo
Texto: João Gustavo Mello
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