* TEREZINHA AZEREDO RIOS
Ao olhar criticamente para a escola, você pode corrigir o que não funciona e aprimorar o que vai bem
No início do livro Ensaio sobre a Cegueira, o escritor português José Saramago traz uma advertência: "Se podes olhar, vê; e se podes ver, repara!" Quantas vezes olhamos as pessoas, as coisas e os acontecimentos sem ver? Com frequência, só atentamos para o que acontece quando alguém nos alerta: "Você já reparou em tal coisa?"
Reparar, na verdade, é ampliar o olhar para aspectos que merecem consideração e não devem passar despercebidos. Com esse propósito, convido os gestores a reparar no trabalho feito na escola, no jeito como ele é desenvolvido pelos professores, alunos e funcionários e como se articula com a comunidade. Isso representa uma tentativa de avaliar constantemente a instituição.
Concordo com os que afirmam que avaliar é difícil. Para muitos, chega a ser mesmo uma pedra no caminho. Gestores confessam ter dificuldade em avaliar o desempenho dos professores - e usam como justificativa o fato de todos serem educadores e, portanto, iguais no contexto em que trabalham. Sem dúvida, enquanto pessoas e profissionais, eles são iguais - cada um na sua individualidade. Porém, na escola, desempenham papéis diferentes. Quando se é diretor, coordenador ou orientador, é preciso reconhecer as responsabilidades que decorrem dessas funções - e avaliar é uma delas.
Talvez a dificuldade atribuída à avaliação se deva ao fato de ela constituir uma atitude crítica. É da natureza desse ato olhar um objeto com a intenção de reparar nele, de vê-lo com profundidade e abrangência, com a intenção de emitir um juízo. E não se avalia sem considerar alguns critérios que, de preferência, devem ser definidos por todos e ter como referência princípios reconhecidos como significativos. Dessa forma, não há que temer a avaliação - nem a que se faz nem aquela a que se submete.
Ao dizer que avaliar é fazer uma crítica, é preciso cuidado para que não fiquemos presos ao sentido que se dá a essa palavra, no senso comum. Aí, a crítica é considerada uma apreciação que aponta apenas o aspecto negativo do objeto enfocado. Diz-se, então, que criticar é "falar mal": "O aluno criticou a professora", "Os pais criticaram a escola", "Os professores criticaram o governo".
Isso leva a pensar que a resistência à avaliação vem da ideia restrita do termo e do ato, que empobrece o sentido do olhar crítico. No avaliar encontram-se os elementos que precisam ser corrigidos, modificados ou superados. Mas é também avaliando que são descobertas as inovações e as práticas bem-sucedidas. Ao olhar criticamente, ao botar reparo no que acontece na escola, temos a possibilidade de ver o que é bom e o que é ruim, o que anda bem e o que está inadequado. Assim, podemos nos esforçar para mudar o que não é satisfatório e aprimorar o que está indo bem.
Fazer com que os colegas da equipe gestora e os professores percebam a importância e abrangência da avaliação no dia a dia é fundamental para que o projeto construído coletivamente se desenvolva na direção pretendida. Se todos repararem no trabalho de todo mundo, há a esperança de que o conjunto ganhe em consistência e qualidade. Afinal, o bom andamento da Educação pública é responsabilidade de todos.
* Artigo publicado na revista Nova Escola/Gestão Escolar Junho/Julho/2010
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