"Um conto marcado no tempo - O
olhar suíço de Clóvis Bornay"
Ainda
me lembro, sentado aos pés do meu pai... entre as páginas dos livros, ouvindo
suas histórias de uma terra mágica, viajava nos contos encantados que davam
vida aos cavaleiros medievais montados em ginetes, cavalgando em direção aos
montes gelados e brancos. Dragões alados sobrevoavam castelos e aldeias, o povo
aterrorizado, fez um pacto até mesmo com o diabo para construir uma ponte e,
assim, seguir seu caminho. Minha imaginação me embalava; ali eu estava,
guardado pelas emoções o tempo não passava. Os ponteiros do relógio bailavam em
prosa e verso, eu ali continuava, despertando personagens sem fronteiras nesse
universo.
Fiquei
admirado com um bravo caçador, de pontaria certa, salvou seu filho da tirania
fatal. Homem de bem, respeitado por todos, lutou pela independência de sua
terra e pela liberdade de seu povo. Subindo aqueles montes gélidos, forrados
por nobres estrelas brancas que caiam do céu, vivia um lendário gigante
soprando ventos frios, congelando plantações e lagos ao léu. Eis que surge para
salvar os que estavam a precisar, o anjo dos Alpes sempre pronto a zelar.
A
cada instante, minhas lembranças giravam como engrenagens de uma caixinha de
música, dando vida a uma variedade de proezas e façanhas que jamais pude
imaginar, onde em um instante tudo cabia no bolso, na palma da mão, tantas
ferramentas em uma só. Em outra caixa, curioso fiquei, nelas senhas secretas
que nem mesmo o tempo era capaz de apagar.
De
repente, deparo-me com um novo tempo que se forma, ponteiros a girar em todas
as direções. "Uma nova hora começou! Aproveite-a sabiamente" - assim
o cuco falou. Livros, então, passaram a registrar pensamentos e teorias
escritas por um homem de mente brilhante e coração puro, que, no girar dos
ponteiros, viajou a um futuro, transformando o tempo em fórmulas, fórmulas em
sonhos, e sonhos em realidades. O tempo voa, o tempo vai, o tempo me leva na
brilhante história de um viajante a planar entre o céu e o mar na aeronave que
tem o sol a te alimentar.
Assim,
um novo tempo se anuncia. Pessoas que passam pessoas que vêm e que ficam.
Bandeiras que voam, dançam e giram acompanhadas de trompas gigantes encantadas,
soando uma melodia em perfeita harmonia. Mas vejam só: nessa história
fascinante, um escultor transformou o movimento, alcançando todos seus desejos,
fazendo com que sua arte fosse importante para aquela terra de cores. Cores que
protegiam, em tempos distantes em que guardas fardados defendiam igrejas,
vestindo ricos trajes. Cores que brincavam sobre folhas brancas, riscos e
traços que conduziam a cadência pintavam o que eu não via. Atravesso, então,
para um tempo futuro, nos filmes de máquinas e seres viajantes.
Gotas
de chuva caem do céu, passeiam entre as nuvens, descem montanhas, alimentam
pastos e fontes. Entro em uma página que uma fábrica se faz presente. Sinto o
gosto de tudo que já comi, de tudo que já bebi. Litros e mais litros do mais
puro leite, repleto de aromas e sabores, são transformados em passe de mágica
em queijos empilhados. E lá do alto vejo uma coroa a reluzir, nossa... existe
um rei ali! Percebo o giro dos ponteiros, como a colher do cozinheiro mexendo
sem parar. Cachos de uvas enfeitam todos os cantos. São cascatas e rios dos
mais deliciosos chocolates, levando meu paladar a percorrer minhas lembranças.
E o cuco? Novamente alegre a cantar, anuncia "A fábrica não pode parar!"
As
páginas do livro vão se acabando. Vejo que as histórias de ontem e de hoje
misturam-se com as do amanhã. Percebo diante dos meus olhos uma avenida
estendendo-se a mim, aqui e acolá, festas que duram o ano inteiro, até o sol
brilhar. Foliões fantasiados fazem soar instrumentos, girando os ponteiros da
engrenagem do tempo, bailando em versos despertando luzes acesas e o brilho das
cores. Agora não mais uma criança e sim um folião a desfilar, ainda fascinado
pelos contos daquele lugar. Encontro-me em meio à Sapucaí, de tantos carnavais,
que sempre festejei. Escrevo mais um conto marcado no tempo, neste lugar de
riquezas mil, laços Suíça-Tijuca-Brasil.
Departamento
de Carnaval:
Mauro Quintaes
Annik Salmon
Hélcio Paim
Marcus Paulo
Carlos Carvalho
Mauro Quintaes
Annik Salmon
Hélcio Paim
Marcus Paulo
Carlos Carvalho
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