Sinopse 2016
Salve,
Rainha
por
Rogério Rodrigues
Inspiração
e homenagem
“AS
RELIGIÕES NO RIO”
Cecy est
un livre de bonne foy.
MONTAIGNE
A
MANUEL
JORGE DE OLIVEIRA ROCHA
Meu amigo
A
religião? Um misterioso sentimento, misto de terror e de esperança, a
simbolização lúgubre ou alegre de um poder que não temos e almejamos ter, o
desconhecido avassalador, o equívoco, o medo, a perversidade.
O Rio,
como todas as cidades nestes tempos de irreverência, tem em cada rua um templo
e em cada homem uma crença diversa.
Ao ler os
grandes diários, imagina a gente que está num país essencialmente católico,
onde alguns matemáticos são positivistas. Entretanto, a cidade pulula de
religiões. Basta parar em qualquer esquina, interrogar. A diversidade dos
cultos espantar-vos-á. São swendeborgeanos, pagãos literários, fisiólatras,
defensores de dogmas exóticos, autores de reformas da Vida, reveladores do
Futuro, amantes do Diabo, bebedores de sangue, descendentes da rainha de Sabá,
judeus, cismáticos, espíritas, babalaôs de Lagos, mulheres que respeitam o
oceano, todos os cultos, todas as crenças, todas as forças do Susto.
Quem
através da calma do semblante lhes adivinhará as tragédias da alma?
Quem no
seu andar tranquilo de homens sem paixões irá descobrir os reveladores de ritos
novos, os mágicos, os nevrópatas, os delirantes, os possuídos de Satanás, os
mistagogos da Morte, do Mar e do Arco-Íris? Quem poderá perceber, ao conversar
com estas criaturas, a luta fratricida por causa da interpretação da Bíblia, a
luta que faz mil religiões à espera de Jesus, cuja reaparição está marcada para
qualquer destes dias, e à espera do Anti-Cristo, que talvez ande por aí?
Quem
imaginará cavalheiros distintos em intimidade com as almas desencarnadas, quem
desvendará a conversa com os anjos nas chombergas fétidas?
Eles vão
por aí, papas, profetas, crentes e reveladores, orgulhosos cada um do seu
culto, o único que é a Verdade. Falai-lhes boamente, sem a tensão de
agredi-los, e eles se confessarão - por que só uma coisa é impossível ao homem:
enganar o seu semelhante, na fé.
Foi o que
fiz na reportagem a que a Gazeta de Notícias emprestou uma tão larga
hospitalidade e um tão grande ruído; foi este o meu esforço: levantar um pouco
o mistério das crenças nesta cidade.
Não é um
trabalho completo. Longe disso. Cada uma dessas religiões daria farta messe
para um volume de revelações. Eu apenas entrevi a bondade, o mal e o bizarro
dos cultos, mas tão convencido e com tal desejo de ser exato que bem pode
servir de epígrafe a este livro a frase de Montaigne:
Cecy est
un livre de bonne foy.
“João do
Rio”
Salve, Rainha!
Consorte expatriada de Espanha e Portugal, cujo refúgio foram as terras dos
tamoios, Freguesia de Inhaúma, janela, então, dos sertões cariocas.
Salve, Regina Coeli!
Encimada sobre o Outeiro de Uruçurmirim, que assistiu à Glória dos refundadores
Lusitanos desta Muy Leal Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro.
Salve, Iabá!
Mãe dos Pretos Forros, Rainha do Congo, Protetora de Cortes arrancadas à força
e obrigadas ao sincretismo que resiste e é legado para todo o sempre.
Intercedei para que todas as Graças em todos os Vossos nomes sejam alcançadas!
Oh, Imaculada Concepção de Nosso Senhor!
Mãe de todos nós, ventre das nossas águas sagradas...
Olhai por nós do cume da Pedra avistada pela gente deste subúrbio esquecido,
prenhe de preces, culturas e histórias.
Salve, Rainha deste Engenho, onde o samba faz morada e se renova em fé em todas
as suas estações.
Salve a Primeira Academia, agora e por toda a sua permanência.
Amém!
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