segunda-feira, 28 de março de 2011

CARNAVAL NA ARGENTINA

Desfile das escolas de samba do Rio vira produto de exportação e sucesso

Alberto João* | Carnavalesco | 27/03/2011 23h11min
O carnaval carioca, chamado de maior espetáculo da terra, virou exportação e conquistou corações hermanos. Na noite de sexta e sábado, em San Luis, Argentina, pelo segundo ano consecutivo, dois mil sambistas de todas escolas do Grupo Especial e do Grupo de Acesso A fizeram desfiles completos para os argentinos, que lotaram o autódromo da província, em Potrero de Los Funes, a 20 km da capital, onde foi feito o "Sambódromo" de um quilômetro de extensão com capacidade para 30 mil espectadores por dia. O evento custou US$ 5 milhões de investimento, mas gerou lucros altos no turismo, economia e na inclusão social entre Brasil e Argentina.
Na abertura de cada dia, um grupo de argentinos desfilou pela pista. Chamados de comparsas, eles tocavam alguns instrumentos de bateria, mas sem nenhuma música de fundo. Todos arriscavam sambar, mesmo que fosse com as mãos ou com a parte de cima do corpo.
Na hora do samba brasileiro, a emoção tomou conta do lugar. Cada escola tinha seu próprio enredo: meio ambiente ou tecnologia. Além disso, a organização construiu dois sambas em cima de obras consagradas da União da Ilha, como "É hoje".
Esse trabalho foi feito pelo ex-presidente da Mangueira, Álvaro Luis Caetano, o Alvinho, que é compositor e pediu permissão para os compositores das obras e para escola. As baterias eram comandadas por mestre Marcone, da Imperatriz, e Átila, da Vila Isabel. Clóvis Pê e Igor Sorriso cantaram os sambas. Viviane Araújo e Quitéria Chagas representavam rainhas.
- Trouxemos craques. Nas baterias, o Átila é mestre como "m" maiúsculo e o Marcone é um dos que mais tem se destacado. Fazer o carnaval na Avenida é o que realizamos desde criança. Nosso maior desafio era reunir todos. O resultado desse ano foi um desfile perfeito. Não foi difícil fazer os sambas. O governo local deu a ideia dos enredos. Peguei a caneta e fiz os sambas. Pedi autorização, porque não queria macular essas obras. Procurei dar a identidade da Ilha nos sambas e com eles prontos, gravamos CDs e distribuimos nos ônibus. As pessoas chegaram aqui com todos na ponta da língua - disse Alvinho, que contou com um complemento de Elmo José dos Santos, diretor de carnaval da Liesa e um dos sócios da AM7, que organizou toda estrutura.
- Quebramos todos os recordes. Estou realizado como sambista. Tivemos Cartola, Candeia e outros que foram marginalizados no passado e hoje estamos com o nosso samba em outro país e fazendo sucesso - comentou Elmo. 
Os carnavalescos Milton Cunha e Jorge Caribé foram os responsáveis pela construção de dois carros alegóricos. O evento contou com fantasias usadas no Carnaval 2011 do Rio de Janeiro. Por toda pista de desfile foi possível encontrar personalidades das escolas, como Tia Nilda, que estava comandando as baianas da Mocidade, Carlinhos Coreógrafo, que trouxe seus integrantes que levantaram o público no desfile oficial do Salgueiro, o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira da Santa Cruz e Imperatriz, Jerônimo e os componentes da Portela, que formaram uma comissão de frente, além de muitos sambistas e dirigentes que foram responsáveis pelos componentes trazidos do Rio de Janeiro.
- Tenho muito orgulho do meu povo. Esse desfile é a nossa cultura. É do Rio de Janeiro, do Brasil - afirmou mestre Átila.
Sempre com o jeito malandro, os componentes das escolas de samba do Rio agitaram toda cidade. Eles tomaram conta da praça principal e lá foram incansáveis. Vendiam camisas oficias das agremiações e dos ensaios técnicos por 15 a 20 pesos argentinos (R$ 30 a 40) e ainda cobravam dois pesos por cada beijo de uma passista carioca. O clima de alegria foi incrível.
Entusiasmados, os argentinos queriam tocar nas fantasias, nas pessoas, abraçar todos, tirar fotos ou simplesmente falar gracias (obrigado) pela contribuição cultural do Rio de Janeiro para cidade. Os comerciantes locais ficaram sorrindo sem parar. Segundo eles, o "carnaval do Rio en San Luis" movimentou quatro vezes mais o comércio da região, que também recebeu bastantes turistas de outras regiões da Argentina. Célia Domingues, coordenadora geral do evento, explicou que a proposta não é somente do show, ela envolve a troca de cultura e a inclusão social.
- Fizemos a inclusão social através da cultura. Ano passado foi a novidade. Esse ano, eles se preparam mais. Só em oficinas de carnaval na cidade, nós tivemos três vezes mais - explicou Célia, que prepara uma escola de samba local e ainda está com diversos projetos na cabeça para o ano que vem.
Realizado pela empresa Ganga Zumba Produções, o carnaval do Rio em San Luis teve participação ativa do ator Antônio Pitanga e da deputada Benedita da Silva. Os dois comemoraram o sucesso e elogiaram o lado cultural brasileiro como fonte de espetáculo e aproximação do Brasil com a Argentina.
- Conseguimos internacionalizar nossa cultura. Estamos levando essa indústria do carnaval como um produto de turismo, qualificação profissional, economia e de divulgação da arte. Já entrou para o calendário de San Luis e podemos ter mais cidades e países - revelou Benedita.
Antônio Pitanga também ressaltou que o desfile completo das escolas do Rio desmistificou o imaginário de outros países que o samba do Rio de Janeiro é só de mulatas e apelo sexual. - Estabelecemos uma questão fundamental no imaginário argentino. Trouxemos a história de Paulo da Portela, Cartola e Noel Rosa para um outro país. Mostramos nossa preciosidade, que é o desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro. Marcamos um gol de placa. Estamos aqui principalmente pelo social - contou.
O governador da província, Alberto Rodríguez Sáa, que também é candidato à presidência da Argentina, vibrou com o sucesso do evento na cidade e prometeu mais para 2012. Seu sonho é trazer quatro mil sambistas, o que assusta a organização, mas que depois de todo o sucesso alcançado, nada fica impossível.
* Alberto João viajou a convite da organização do "Carnaval do Rio en San Luis"
http://www.sidneyrezende.com/noticia/126067+desfile+das+escolas+de+samba+do+rio+vira+produto+de+exportacao+e+sucesso

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