Enredo 2017
"No Xirê do Anhembi, a Oxum Mais
Bonita Surgiu... Menininha, Mãe da Bahia - Ialorixá do Brasil"
Vai
que vai o meu canto, soar como acalanto nos braços mágicos de Olorum...
A doce canção
- o verso que balança a rede de luz do infinito universo nos acordes
primordiais do tempo, como brisa ou vento, o sopro da criação que vem animar de
vida o berço dos seus Orixás. Faz-se a negra corte dos reinos de África.
Atravessar o
oceano à terra que, assim como aconchegantes braços, se abriu e se redesenhou
em seus traços - Bahia de todos os santos e de todos os seus súditos - Yorubás,
Jejes e Bantos a tatuar na memória, a soberana história que venceu o Banzo, a
corrente e a dor ao manter o espírito alado e livre, pela fé, na força da sua
cor.
Força que
iluminou os terreiros e senzalas, raízes aqui fincadas como um Baobá a resistir
e se impor, abrindo alas, de crença e esperança, como poder criador a
reconstruir nações, pequenas Áfricas evocadas por seus tambores ancestrais, sua
mais rica herança, os cantos e as danças, as tradições e os rituais.
Venha
transformar a passarela na sua grande casa, o "Ylê ia Omin Axé
Ianassê": em louvação e respeito dobra o rum para o preceito do jeito que
deve ser.
Abra a roda e
faça um terreiro em pleno palco do Anhembi, onde a nossa fé se manifesta e onde
a Vai-Vai faz a festa - é o Xirê das divindades no esplendor de sua beleza, com
a força da Mãe Natureza, o Gantois hoje é aqui!
Rasga o véu
de Orum! Seus deuses mágicos baixando ao Aiyê em cortejo onírico para saudar
aquela, que fez da vida a missão da bondade, conhecimento e verdade, traduzidos
em doçura e amor gentil que por seus filhos foram derramados, qual pureza de
menina, mãe da Bahia, Yalorixá do Brasil.
Ligeiro,
Legbá, Mosubá! Mensageiro, venha abrir os caminhos para a grande convocação e
faça soar os seus atabaques, que, nessa passarela terreiro se refaz nas mãos de
Oduduá, o momento da criação, e assim nos traz a ancestralidade, a elemental
divindade do velho senhor da terra.
Ecoam brados
da floresta como flecha certeira do ofá, cetro do Rei de Ketu, que irrompe da
selva junto ao brado do Príncipe Guerreiro, Loci, Loci, e Ewê Vassa, arrastando
seu manto de relva, no espetáculo que aqui se encerra.
Vem acender a
chama que chama o fogo e resplandece, "káwòò, kábiyèsilé". É a corte
de Oyoó que empresta brilho e luz a essa festa, Rei que acende e assanha o amor
ardente da poderosa rainha Obá Siré que aqui, também se faz presente. Senhor
que abre espaço, riscando o céu de lampejos e fachos para a deusa Oiyá, rainha
dos raios, senhora dos seus desejos e que também conclama a divindade das
armas, guerreira de nossas cabeças, que forja o ferro das entranhas.
Que adentre
ao salão enfeitado, enfeitiçado de encanto, Eeró! O canto é o som do vento -
Iroco que balança ao tempo, onde adormecem seus Ibejis, no sopro de brisa que
vem atiçar suas folhas e a legião de espíritos regida por Ewá, no éter que se
faz palco da dança das nuvens nos braços Oxumaré, eis cintilante melodia de
pingos que vêm molhar a terra e colorir todo o ar.
E, por fim,
venha coroar este evento, derramando axé das entidades da água, abençoe e lave
a nossa alma, venha curar toda mágoa, Epa Babá! Pai divino do princípio da vida
em sua plenitude vem trazer a placidez e a quietude da matriarca do lodo que
modela a nossa existência e com carinho e complacência aplacar nossa saudade.
Éru, Iyá! Que
nos permita a senhora das ondas receber esse mar repleto de boas lembranças de
todos os súditos dessa deusa terrena que nos uniu em seus laços de ternura
plena a multidão de fieis que ainda seguem seus passos ampliando as fronteiras
do seu sagrado Gantois, e que até hoje reforçam sob a guia de Mãe Carmem, a
certeza que o Axé e a força ainda moram por lá.
Orá Iyê Iyê,
Ô! Deusa das águas doces, tão doce quanto a nossa mãe, que agora se embala em
seus braços, receba de nós essa homenagem, um samba em forma de oração que a
Vai-Vai canta e se encanta, pois fala do coração é a mais pura verdade, que
hoje todos em nossa cidade se tornam filhos de Oxum, e que jorram lágrimas de
felicidade que vêm regar nossas vidas e alegrar o nosso cantar:
Oh! Minha Mãe!
Minha Mãe, Menininha!
Oh! Minha Mãe!
Menininha do Gantois!
Minha Mãe, Menininha!
Oh! Minha Mãe!
Menininha do Gantois!
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