"Na
Celebração do Chocolate, a Locomotiva da um Show"
SINOPSE
Quem delira viajando nos trilhos é essa alegre
locomotiva guiada pela imaginação. Que apita e solta fumaça, que se mostra por
onde passa, descarrilhada pela ilusão. Sua cor vibrante não entristece. Seu
vagão animado aos passageiros foliões enlouquece. Por suas portas abertas o
mundo penetra ou desce e a História então acontece.
Em cada histórico momento, por toda estação imaginária
transversada pelo tempo, viaja nossa bamba Maria fumaça transportando cultura
até descarregá-la em seu destino final: a grande festa popular chamada
carnaval. Neste tema-enredo, ela conduz a mais pura energia extraída dum fruto
dourado outrora considerado sagrado. Sua semente considerada mercadoria
valiosa, produto afrodisíaco, foi até convertida em cobiçada moeda de troca.
Quando torrado, aquele pó aromático no líquido quente misturado, logo deixava
qualquer nativo Maia ou Asteca alucinado. Foram eles os primeiros ameríndios
por cujas mãos o cacau foi cultivado.
Frondosa árvore banhada pelas águas nascentes do rio
Amazonas, o cacaueiro ali brotou, cresceu, cravou profunda raiz em meio ao
verde exuberante da floresta tropical, onde até hoje é encontrado provando ser
silvestre seu habitat original. Não seria, então, esse deleitoso cacau, aquele
fruto da tentação fincado no paradisíaco Novo Mundo idealizado como o Éden
perdido no imaginário do colonizador ainda medieval?
Cacau nem havia virado chocolate, mas Cristóvão Colombo
depressa fez sua parte, levou consigo litros desse líquido espalhando-o pelo
continente civilizado e somente daí por diante o leite e o açúcar foram nele
adicionados. Tal bebida faustosa, servida em nobres banquetes de cortes na
Europa, virou uma saborosa arte. Em pouco tempo a semente disseminada ganhava
importância econômica devido ao guloso consumo do chocolate.
Seguimos trilhando ferrovias por entre prósperas
lavouras cacaueiras cultivadas mundo afora. Após germinar abundante em solo
africano, em meados do século XVIII o fruto se espalha pelo Brasil agricultado
com êxito no interior baiano. E por capricho da natureza ele também fincaria
raízes nas temperadas terras da bela Linhares, cidade litorânea do nosso
Espirito Santo, onde produtores cacaueiros comemoram um século cultivando
aprazível encanto.
Hoje, cinco séculos pós-descoberto, derivados do cacau
revelam inusitada faceta porque são consumidos em muitas formas nos quatro
cantos deste planeta: nas barras de chocolate com alto valor nutritivo; nos
salões de beleza sofisticados, nas formas mais variadas de cosméticos; nas
reuniões sociais aliciando paladares com deliciosos docinhos, bebidas diversas,
além de licores e vinhos.
Enfim, numa derradeira estação, a imaginária locomotiva
parece nos fazer voltar no tempo revisitando épocas em que ao fruto cacau se
atribuía sagração. Quatzalcault, profeta asteca, acompanhado por solenes
cerimônias religiosas, ensinava ao povo nativo como bem cultivá-lo porque sua
origem seria divina. Hoje, em festejos sagrados cristãos como Páscoa, o cacau
comercial serve ao mercado toneladas duma quase milagrosa matéria prima.
Calda borbulhante, grossa e bem brilhante, exala cheiro
que é uma tortura, deixando no paladar gosto inebriante. Entre formas e cores,
coberto por finos sabores, essa calda de puro chocolate é uma louca sedução.
Quando saboreado libera na mente sensação de bem-estar, conforto, melhor estado
de humor e produz alegria ao corpo de quem não resiste a doce tentação.
Chocolate é mesmo presente dos deuses. É também uma forma de presentear a quem
se ama com prazerosa devoção.
E com isso o G.R.E.S. Pega no Samba celebra no carnaval
2018 deliciosamente o nosso cacau.
Texto: Júnior Pernambucano
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