domingo, 9 de julho de 2017

GRES PEGA NO SAMBA (VITÓRIA/ES)

"Na Celebração do Chocolate, a Locomotiva da um Show"


SINOPSE
Quem delira viajando nos trilhos é essa alegre locomotiva guiada pela imaginação. Que apita e solta fumaça, que se mostra por onde passa, descarrilhada pela ilusão. Sua cor vibrante não entristece. Seu vagão animado aos passageiros foliões enlouquece. Por suas portas abertas o mundo penetra ou desce e a História então acontece.
Em cada histórico momento, por toda estação imaginária transversada pelo tempo, viaja nossa bamba Maria fumaça transportando cultura até descarregá-la em seu destino final: a grande festa popular chamada carnaval. Neste tema-enredo, ela conduz a mais pura energia extraída dum fruto dourado outrora considerado sagrado. Sua semente considerada mercadoria valiosa, produto afrodisíaco, foi até convertida em cobiçada moeda de troca. Quando torrado, aquele pó aromático no líquido quente misturado, logo deixava qualquer nativo Maia ou Asteca alucinado. Foram eles os primeiros ameríndios por cujas mãos o cacau foi cultivado.
Frondosa árvore banhada pelas águas nascentes do rio Amazonas, o cacaueiro ali brotou, cresceu, cravou profunda raiz em meio ao verde exuberante da floresta tropical, onde até hoje é encontrado provando ser silvestre seu habitat original. Não seria, então, esse deleitoso cacau, aquele fruto da tentação fincado no paradisíaco Novo Mundo idealizado como o Éden perdido no imaginário do colonizador ainda medieval?
Cacau nem havia virado chocolate, mas Cristóvão Colombo depressa fez sua parte, levou consigo litros desse líquido espalhando-o pelo continente civilizado e somente daí por diante o leite e o açúcar foram nele adicionados. Tal bebida faustosa, servida em nobres banquetes de cortes na Europa, virou uma saborosa arte. Em pouco tempo a semente disseminada ganhava importância econômica devido ao guloso consumo do chocolate.
Seguimos trilhando ferrovias por entre prósperas lavouras cacaueiras cultivadas mundo afora. Após germinar abundante em solo africano, em meados do século XVIII o fruto se espalha pelo Brasil agricultado com êxito no interior baiano. E por capricho da natureza ele também fincaria raízes nas temperadas terras da bela Linhares, cidade litorânea do nosso Espirito Santo, onde produtores cacaueiros comemoram um século cultivando aprazível encanto.
Hoje, cinco séculos pós-descoberto, derivados do cacau revelam inusitada faceta porque são consumidos em muitas formas nos quatro cantos deste planeta: nas barras de chocolate com alto valor nutritivo; nos salões de beleza sofisticados, nas formas mais variadas de cosméticos; nas reuniões sociais aliciando paladares com deliciosos docinhos, bebidas diversas, além de licores e vinhos.
Enfim, numa derradeira estação, a imaginária locomotiva parece nos fazer voltar no tempo revisitando épocas em que ao fruto cacau se atribuía sagração. Quatzalcault, profeta asteca, acompanhado por solenes cerimônias religiosas, ensinava ao povo nativo como bem cultivá-lo porque sua origem seria divina. Hoje, em festejos sagrados cristãos como Páscoa, o cacau comercial serve ao mercado toneladas duma quase milagrosa matéria prima.
Calda borbulhante, grossa e bem brilhante, exala cheiro que é uma tortura, deixando no paladar gosto inebriante. Entre formas e cores, coberto por finos sabores, essa calda de puro chocolate é uma louca sedução. Quando saboreado libera na mente sensação de bem-estar, conforto, melhor estado de humor e produz alegria ao corpo de quem não resiste a doce tentação. Chocolate é mesmo presente dos deuses. É também uma forma de presentear a quem se ama com prazerosa devoção.
E com isso o G.R.E.S. Pega no Samba celebra no carnaval 2018 deliciosamente o nosso cacau.

Texto: Júnior Pernambucano

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