Sinopse enredo 2018
Janaína,
a Índia que Virou Sereia do Mar
Um doce canto ecoa pelo verde da floresta. Cada ser da
mata virgem se encanta e se estremece com a linda melodia. É Yara, mãe das
águas doces, convidando suas sereias para mais um dia de festa sob a luz do
luar sereno. De cada parte do rio, elas chegam juntamente com botos e outros
peixes e se põem a cantar e encantar com a Mãe d’Água. Na aldeia mais próxima,
os tupinambás silenciam em respeito e por medo. Sabem que quem se deixa levar
pelo canto das sereias acaba no fundo das águas do rio. Todos tremem e temem.
Ou quase todos. Apenas Janaína, filha do cacique tupinambá, adorava e se
embalava a ouvir aquele costumeiro som. Era uma jovem curiosa e desbravadora e
numa dessas aventuras pelas matas protegidas por Curupira, havia encontrado o
recanto onde se reuniam as sereias. Não tinha o que temer, pois já conhecia
aquele canto e sempre corria ao seu encontro. Era sinal de festa no rio e lá ia
a bela jovem se aventurar pelas matas de Oxóssi.
Janaína já era mulher, mas tão jovem quanto uma menina.
Sua pele era de um tom morenado que reluzia o raiar do Sol e o brilho da Lua.
Seus olhos eram verdes, raridade entre os seus, o que causava encantamento e
medo, já que segundo sua tribo, era a cor dos cabelos de Yara. Talvez por isso,
a moça não temia o canto da Mãe d’Água e suas sereias. O pajé de sua aldeia
dizia que era filha de Yara, uma encarnação da dona dos rios. E tal como a mãe,
Janaína era independente e exalava amor próprio, o que seduzia os homens. E os
deuses.
Seguindo o som entoado pelos ares, chegava à beira do
rio, saudava Yara e as sereias, adentrava às águas e se punha a dançar ao ritmo
da melodia. Seu corpo se movia delicadamente, num balé harmonioso que se
combinava com o doce cantar. Dançava com os botos, com os peixes, com as
sereias… Parecia em transe e talvez estivesse, pois nada lhe tirava a atenção,
nem mesmo os olhares intrusos.
Do alto da morada divina, como de costume, Tupã se
admirava com o bailar de Janaína ao som do canto das sereias do rio. Era
apaixonado pela bela morena de olhos verdes, herdeira de Caupé, a deusa da
beleza. Sonhava acordado, pensando no dia em que bailariam juntos pelos céus do
Universo. Mas apesar de toda a sua paixão, sabia que era proibido o amor de um
deus por uma mortal. Somente Rudá, o deus do amor, poderia permitir um romance
proibido, mas se a jovem tupi também estivesse enamorada. De longe, tentava
encantar Janaína e como prova de amor, fez florescer lírios amarelo ouro à
beira do rio. A jovem pouco se importou, continuou seu doce bailar.
Pirarucu, o deus do mal, rival de Tupã, descobrindo a
paixão do grande deus tupi pela jovem Janaína, ria-se, pois sabia que a moça
não pretendia se unir a ninguém, nem mesmo ao maior dos deuses. Em sua mente
perversa, Pirarucu planejava uma revanche contra Tupã e aquela era uma
oportunidade imperdível. Há tempos alimentava ódio pelo deus trovão, desde
quando Tupã o havia transformado no grande peixe das águas doces. O plano era
induzir Tupã a acreditar que Janaína também estivesse apaixonada por ele e
assim, o deus desceria de sua morada para se declarar à sua amada. Com a
rejeição, o deus trovão seria humilhado e sofreria a mais profunda e maior das
dores: a dor de amor. O perverso Pirarucu espalhou a notícia entre os seres do
rio, que falaram aos seres das matas, que contaram aos seres dos ares e estes,
por fim, anunciaram a Tupã: Janaína lhe rendia amor. O engano funcionou.
Iludido com a reciprocidade, Tupã se enfeitou com as
mais belas penas e pedras preciosas, pintou-se de vermelho e todo aprontado,
desceu de rompante num raio à beira do rio, que já se movia em festa e lá
estava Janaína, bailando como sempre. De canto de olho, a índia reparou a
presença do deus tupi, que se apresentava com quase dois metros de altura e que
parecia ainda maior devido o tamanho de seu cocar. E mais uma vez, a moça pouco
se importou. Dançar ao som do canto das sereias era o seu amor maior.
Tupã se aproximou, declamou uns versos apaixonados e
nada. As sereias riam daquela cena, o que constrangeu o deus trovão, mas que
ainda assim, continuou a investida. Tentou dançar ao redor de Janaína, como se
fosse a dança do acasalamento, mas o grande deus tupi não tinha harmonia em
seus movimentos. Janaína se afastou. Ao longe, Pirarucu gargalhava.
Numa última tentativa, Tupã se aproximou com violência e
agarrou a moça à força. Janaína, apesar de sua delicadeza, era forte e possuía
enorme bravura e não cedeu facilmente. Lutou contra o deus trovão e quando
conseguiu se desvencilhar, fugiu pela beira do rio. Tupã trovejou e ensurdeceu
toda floresta; não poderia aceitar tamanha rejeição. Correu atrás de Janaína.
Percebendo que Tupã não desistiria, Janaína tentou pular no rio, mas antes que
seu corpo tocasse as águas que lhe protegeriam, o deus trovão, humilhado e
cheio de raiva, lançou um raio fulminante em sua direção. No mesmo momento, seu
corpo virou cinzas e caíram nas águas doces. Tupã silenciou. A floresta inteira
também.
Todas as sereias e os seres do rio ficaram inertes, em
choque, até mesmo o maléfico Pirarucu. De repente, ecoou um pranto de dor. As
sereias, que antes cantavam em alegria, agora cantavam de dor. Choravam e
cantavam as redor das cinzas, que começaram a seguir o curso do rio. Numa
última homenagem à amiga tupi, as sereias seguiram em cortejo o que restou de
Janaína até o desaguar no mar.
Já era noite e brilhava uma formosa Lua Cheia, quando
chegaram ao reino de Iemanjá. Lá, a grande mãe das águas salgadas se compadeceu
com aquela lamentação. Recolheu as cinzas de Janaína e num pedido a Oxalá,
intercedeu pela índia menina. O misericordioso pai, atendeu e num encanto, da
mistura das cinzas, águas salgadas e brilho lunar, deu vida à uma nova e doce
sereia: Janaína, cabocla do mar.
O mar celebrou em festa e logo a notícia subiu rio
acima, chegando à tribo dos tupinambás. Janaína, que antes era filha dos rios,
tornou-se princesa no mar. Era a filha predileta de Mãe Iemanjá, confundindo-se
com a mesma, eventualmente. Tambores rufaram em alegria e até hoje se ouve
rufar pelos quatro cantos da Terra Brasil, em harmonia com os cantos em louvor
à Janaína, a índia que virou sereia do mar.
Salve Janaína! Salve a sereia do mar!
Justificativa: O enredo da nossa escola pretende contar
uma lenda afro-indígena baseada na poesia “Janaína”, de Vinícius do Nascimento,
que versa a história de uma índia que virou sereia, como se vê a seguir:
Janaína
Em seus verdes olhos
Vejo as matas de Oxóssi
Desbravadas pela cabocla Janaína.
Índia mulher, índia menina,
Que nas doces águas de Oxum
Baila ao som do canto das sereias.
Tupã, do alto de sua morada,
Admira-se com aquele encanto,
Fazendo florescer no recanto
Lírios amarelo ouro…
De paixão, caiu o deus trovão.
A índia pouco se importava,
Apenas bailava sob o véu do luar sereno.
Eis então que o enamorado deus,
De rompante como um raio,
Desce do céu e se declara à sua amada.
A bela morena,
De forma um tanto esperada,
Rechaça o deus tupi,
Preferindo o baile àquele amor.
Com o coração empedernido,
Cheio de raiva e rancor,
Tupã troveja ensurdecedor
E fulmina a amada com um raio.
As cinzas de Janaína descem o rio rumo ao mar,
Levadas em cortejo pelo pranto das sereias
Que agora cantam em lamento.
Ao chegarem ao reino de Iemanjá,
A rainha se compadece e faz uma prece a Oxalá…
Como que num encanto, sob a luz da Lua Cheia,
As cinzas misturadas às águas salgadas,
Dão vida à uma doce sereia: Janaína, cabocla do mar.
O Lobo Forte da Leopoldina vai homenagear a cultura
indígena usando como fio condutor a lenda contada em verso e prosa, passando
pelo mito até chegar à espiritualidade, onde a índia é cultuada por diversas
religiões brasileiras, seja como encantada, como cabocla ou como sereia do mar,
sendo um dos nomes atribuídos à Iemanjá. E encantados pelo canto das sereias,
iremos do rio ao mar, bailando e celebrando Janaína, como há séculos os nossos
ancestrais fazem.
Ô Janaína vem ver, ô Janaína vem cá, ver a nossa
Independentes de Olaria lhe homenagear!
Autor da Sinopse: Vinicius do Nascimento
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