quarta-feira, 24 de julho de 2019

SBC REALEZA (PORTO ALEGRE/RS)


Sagrados Cantos de Minha Encruzilhada


Sinopse:
"Sou onde tudo começa, onde tudo termina. Um lugar sagrado para o samba, para o morro, para a fé. Lá onde dou meus primeiros passos, onde batuco, onde giro a minha sorte. De ladeira em ladeira desço em andança, e pela linha do horizonte, meu lar - a casa é simples, mas pode entrar. Encontro o cruzeiro, reflexo da noite nas ruas em estrelas – eis a encruzilhada, os quatro cantos do meu cantar.
Como tudo que há sob o planeta, a natureza abençoada pela Grande Mãe Terra se faz ventre para a humanidade. No acalanto do abraço o primeiro canto é entoado, embalando a vida nos braços; e a maternidade se materializa em culto de amor à existência. Ao mundo nascer, abrigo existir de cada espécie nos espaços encantados entre o céu e a terra.
Das matas, ouço o vento cortar os ares com o clamor do povo indígena, primeiro povo a sacralizar. Como é verde a força da ancestralidade emanando a energia ritual! Do Alto Xingu ao povo Guajajara, o recado de união a todos os homens chega até a mim, em comunhão com tudo que é vivo. Sou a ligação com os deuses, sou o círculo da crença e em algo maior. E com a permissão do caboclo é cantinga é (en)cantada.
As águas dos rios e das cachoeiras me abençoam. Sou o o bálsamo da Iauaretê do Amazonas, do solo fértil do Egito banhado pelo Nilo, sou a vida eterno do Ganges, onde se banhar é um ato de purificação.
As pedras formam grandes monumentos incas, maias e astecas: o divino ganha forma e imagem – simbologia para civilizações em pirâmides e templos que me permitem tocar as nuvens.
E do palácio do corpo, novas construções se erguem em contemplação ao belo e ao místico de todos os povos. Romarias em procissão de Aparecida, o Cristo abençoando a maravilhosa cidade, lamentações em Jerusalém, reverência à Pedra Negra de Maomé, a paz do Templo de Lótus, até o Céu em construções de Pequim.
E na mão, sou o poder mágico de dividir em quatro o círculo da fé presente em todos estes lugares. Sou a cruz, trazendo a boa sorte de quem a carrega, a virtude para quem a recebe, a bonança para quem acredita. Em variedade de formatos e significados, sou os quatro pontos cardeais, os quatro ventos, a salvação, a palavra disseminada. Estou em todos os cantos!
A lua ilumina o sagrado sobre o profano das ruas e, no bolso do malandro escondido a sete chaves, me faço em proteção. Os batuques do meu samba se misturam com a fé batuqueira, a fé que move o negro a descer para o asfalto, guiados pelo dono do caminho, Exu Bará.
Laroiê, povo da encruza! Com seu agô, a licença para a minha gente se apresentar. A energia dos baluartes manifestada em Carnaval e o que poderia ser uma esquina qualquer torna-se meu lar.
Da viagem pelo mundo e pelos mundos, encontro o meu destino. O canto é entoado e ecoa aqui, na minha terra, no meu lugar, honrado nossos mestres, nossa ancestralidade. Meu morro em festa se veste de rosa, lilás e branco para coroar o cruzamento da Carlos de Laet com a Carneiro Ribeiro – hoje referência para a comunidade, um símbolo da luta de cada morador em forma de alegria por edificar em glórias a sua morada.
Batizada, sou a Encruzilhada do Samba – a Realeza do meu espaço sagrado. Cruzando o mundo, o pulsar do meu coração bate em ritmo da bateria da Mimosa. O surdo marca o compasso celestial do local, agora santo em nome dos Deuses. E como não cair no samba? Se você não sabe o caminho, vou te mostrar..."

Nenhum comentário:

Postar um comentário