terça-feira, 26 de maio de 2015

GRES SÃO CLEMENTE (RIO DE JANEIRO/RJ)

Sinopse Enredo 2016 

“MAIS DE MIL PALHAÇOS NO SALÃO”


Tanto riso, oh, quanta alegria
Mais de mil palhaços no salão…
Não me leve a mal,
Hoje é carnaval!
                            Zé Keti
Na época medieval, os Mistérios e as Paixões (representações religiosas realizadas no interior da igrejas) podem ser vistos como a materialização da relação do homem com o riso. Se por um lado havia o sagrado inabalável, por outro tinha-se a leveza da vida comum – e as formas de expressão dessa alegria localizavam-se no polo oposto ao sagrado. A alegria representava, assim, na vida do povo, o terreno e o material, o grotesco, que era uma das formas de expressão dessa alegria, associada ao vulgar e à vida secular.
Uma figura que encarnava por excelência os motivos do grotesco popular medieval era o Diabo, por ser diametralmente oposto à Divindade. No carnaval, o diabo é festivo – representando a glutonaria e a licenciosidade – o que fica expresso em sua representação – metade homem, metade animal – e em sua presença constante como figura burlesca. Foram tantas as diabruras, que faziam a plateia rir muito, que as representações medievais foram transferidas para o exterior das igrejas, tal a irreverência provocada por  este senhor diabo.
Ainda durante a Idade Média, onde houvesse um poderoso, conde, barão, príncipe… haveria pelo menos um bobo da corte para divertir o senhor e seus convidados. Na cabeça, o bobo usava um chapéu com pontas e guizos, a roupa era colorida – geralmente verde e amarela. O verde representava a cor dos chapéus dos devedores e dos condenados a trabalhos forçados; o amarelo, a cor da traição e dos lacaios.
Quando  os Milagres e Mistérios saíram do interior das igrejas, os artistas que circulavam solitários pelas cortes e castelos passaram a se encontrar nas feiras em torno dos feudos, e foram criadas verdadeiras companhias de saltimbancos. Apresentavam espetáculos em que misturavam representação teatral, acrobacias, dança na corda e etc.
As feiras viram ponto de encontro de artistas de todas as artes e habilidades – dançarinos de corda, volantins, malabaristas, jograis, trovadores, adestradores de animais, pelotiqueiros, músicos, domadores de ursos, dançarinos, prestidigitadores, bonequeiros e acrobatas.
Os espetáculos dos Mistérios e Moralidades incorporaram mais um personagem cômico: o rústico.  Até mais ou menos 1500,  a comicidade desse tipo de espetáculo estava a cargo do Diabo e do Vice. O Vice era um camponês velhaco, canalha, fanfarrão, covarde e representava todas as fraquezas humanas. Por algum motivo, ele acabava se deparando com o Diabo, sempre acompanhado por um séquito de pequenos demônios e metido em situações cômicas, que o transformavam em figura ridícula. Aparece então a palavra clown, para designar o rústico. E ele passou a ser um tipo com características bem definidas. Continuava um grosseirão, meio caipira, mas ganhou esperteza, sua linguagem evoluiu, adorava palavras difíceis.
Em 1768, o sargento inglês Philip Astley construiu um anfiteatro ao ar livre, onde pela manhã dava aulas de equitação e apresentava espetáculos equestres. Foi ele quem teve a ideia que iria revolucionar o mundo dos espetáculos – num picadeiro  de 13m de diâmetro,  mesclou exercícios equestres com proezas dos artistas de feira.
O espetáculo, baseado na disciplina militar e na valorização da destreza e do perigo, deixava a plateia muito tensa, era preciso que o espectador tivesse momentos de relaxamento. É aí que surge o palhaço do circo. O clown, o campônio de quem os artistas itinerantes sempre gostaram de caçoar, veio a ser o protótipo do bufão do circo.
Esse novo tipo de espetáculo logo se espalhou pela Europa e pelas Américas.  Os primeiros palhaços: os pioneiros do circo moderno foram a princípio o palhaço a cavalo e o palhaço de cena.
A cara branca tradicional, feita com farinha, ou a preta, com carvão,  surgiu primeiro na França, com o trio cômico que fazia cenas em que representavam padeiros, que terminavam sempre com a cara enfarinhada, jogando farinha uns nos outros.
Na França, o clown equestre era chamado de paillasse–inspirado no Pagliaccio da Comedia dell’arte.
Os palhaços se dividem em dois tipos – o branco e o augusto. O branco é mais elegante, de roupas bordadas; o augusto representa quase sempre um vagabundo, com roupas enormes, inclusive os sapatos, nariz vermelho e boca acentuadamente grande.
O palhaço brasileiro foi criado nas festas do Brasil colônia. Eis a descrição de uma dessas festas – “No domingo – palhaçadas! Saíram duas companhias de gente mascarada e vestidas ao gracioso burlesco”. Todos se divertiam como palhaços, brincando pelas ruas da cidade.
Não podemos esquecer os ciganos que, na Vila Rica de Ouro Preto, realizavam comédias, bailes, máscaras e etc..
No Rio de Janeiro do século XIX, existiam casas de espetáculos com atividades dedicadas quase que exclusivamente aos shows circenses.
As festas populares também tinham seus palhaços – como a folia de reis, pastoris, bois-bumbás e, sobretudo, a do Festa do Divino.
E assim, pouco a pouco, começava a ser desenhado o jeito brasileiro de brincar.
Os palhaços cantavam a chula, cantigas entre as mais conhecidas, de versos cantados até hoje:
O raia o sol, suspende a lua,
Olha o palhaço no meio da rua
E o palhaço, o que é?
É ladrão de mulher!
A diferença do palhaço europeu do brasileiro é que o nosso não só dialogava mas também cantava! E cantavam eles muito bem… José Ramos Tinhorão, em seu livro, observa que os primeiros cantores a gravarem discos no Brasil foram os palhaços de circo. Bahiano teve a honra de ser o intérprete do primeiro samba gravado no Brasil: Pelo telefone,  de Donga.
 O Brasil teve grandes palhaços, que não podemos deixar de mencionar e a quem devemos apresentar nossos cumprimentos – Polydoro, cujo nome era inspirado no General Polydoro Quintanilha Jordão;  Alcebíades Pereira – que era também exímio acrobata; Benjamim de Oliveira – o primeiro palhaço negro – exibia-se no circo Spinelli – era negro, mas pintava a cara de branco, como faziam os palhaços. Se Bahiano gravou o primeiro samba, Benjamim participou do primeiro filme – baseado no Guarani de José de Alencar – ele foi o Peri.
E mais: Eduardo das Neves, Pompílio – que não conseguiu aposentadoria, apesar das palavras de Joracy Camargo, pedindo pensão para ele – “que obtenha dos políticos que tanto riram com ele, a pensão a que têm direito os verdadeiros palhaços, mais úteis ao povo que os falsos palhaços da politicagem nacional”. E Oscarito, Grande Otelo, Mazzaropi, Fred e Carequinha, entre tantos outros que nos deliciaram com suas representações inesquecíveis.

E, por fim, não se pode deixar de citar a garotada que saiu de cara pintada, fazendo barulho pelas ruas, seguindo o exemplo dos nossos palhaços. A eles, a pátria agradece.

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