sábado, 30 de outubro de 2010

ELEGIA A UM TUCANO MORTO, de Carlos Drummond de Andrade

Elegia a um tucano morto

O sacrifício da asa corta o voo
no verdor da floresta. 
Citadino
serás e mutilado, 
caricatura de tucano
para a curiosidade de crianças 
e a indiferença de adultos. 
Sofrerás a agressão de aves vulgares
e morto quedarás
no chão de formigas e de trapos. 

Eu te celebro em vão
como à festa colorida mas truncada
projeto da natureza interrompido
ao azar de peripécias e viagens
do Amazonas ao asfalto
da feira de animais. 
Eu te registro, simplesmente, 
no caderno de frustrações deste mundo
pois para isto vieste: 
para a inutilidade de nascer.

3 comentários:

  1. Se este não é o último poema de Drummond eu não me chamo Marcos. E Agora José?

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  2. Achei profundo...Mas gostei bastante !!!!

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  3. "pois para isto vieste:
    para a inutilidade de nascer"
    Trecho que cai como uma luva para os tucanos (não as aves). Pois ele são inúteis mesmo. Mas sua agremiação ainda está viva. Infelizmente.

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