sábado, 30 de outubro de 2010

UMA ESCOLA SOZINHA NÃO FAZ. VERÃO., por Fernando José de Almeida


Estabelecer parcerias com entidades da sociedade civil é uma maneira de a escola se abrir e incrementar a troca de experiências

Sinto certo desconforto quando ouço alguém dizer que a escola é um lugar que prepara crianças, jovens e adultos para a vida. O problema é que, ao assumir o papel de preparadora, a escola se distancia e se exclui da própria vida. A escola é um espaço no qual crianças, jovens e adultos se afastam um pouco do dia a dia conturbado para aprender, trocar experiências, fantasiar, experimentar seus limites pessoais e viver alianças afetivas. Ora, o que é isso, senão a vida? 

E ir às aulas, fazer as lições de casa, apresentar trabalhos, aprender a pesquisar em bibliotecas e conhecer o mundo por meio da interação com seus pares e um educador não é viver? Não consigo enxergar nisso tudo apenas um aparelhamento, uma maneira de se equipar para depois viver. O saber, o conhecer, o refletir e o pensar são válidos em si, independentemente de qualquer outra finalidade ou praticidade. 

Por isso, temo quando a escola - e os profissionais que nela trabalham - "veste a carapuça" e se isola da realidade. Essa postura, além de comprometer o aprendizado dos alunos e da própria escola enquanto grupo, tem reflexos em outras áreas. Sozinha, sem ter parâmetros de comparação e sem interlocução, a escola nem sempre consegue identificar seus pontos fracos e partir em busca de melhoria. Isolada, fica impossível atender às necessidades do público e às expectativas que a sociedade tem em relação a ela e à Educação que ela oferece. Sem contato com o mundo, às vezes também fica complicado resolver os problemas que surgem. 

A escola tem várias possibilidades de não se fechar em si mesma. Uma delas é estabelecer parcerias com entidades que possam ajudá-la a enfrentar as questões que a impedem de avançar na missão de bem ensinar. Não me refiro à busca de quebra-galhos para substituir uma eventual omissão do estado em prover as necessidades básicas da instituição. Mas a um apoio que ajuda a escola a atingir as metas, envolve a sociedade como um todo com o tema Educação e traz comprometimento em relação aos resultados. 

Estabelecer parcerias pode fazer a diferença entre uma escola apenas "preparadora para a vida" de outra viva em si mesma e comprometida com seus propósitos. A reportagem de capa da edição de outubro/novembro da revista NOVA ESCOLA GESTÃO ESCOLAR trata justamente da parceria que funciona em prol da aprendizagem. 

Há muitos interessados em iniciar um relacionamento com a escola. Empresas que querem exercer a sua função social aliando a sua marca à Educação ou que buscam ações de marketing para vender seus produtos. Para tanto, chegam a oferecer recursos financeiros, materiais pedagógicos e projetos educativos que - é bom que se diga - nem sempre são do interesse dos alunos e da comunidade. 

Nesse sentido, é importante destacar o papel do gestor como o principal condutor desse processo: é preciso saber exatamente quais são as reais necessidades da escola para poder procurar bons parceiros na sociedade. Pode ser que o contato mais estreito com uma universidade resolva o problema da formação continuada dos professores de determinada área ou série. Ou que uma organização não governamental especialista em determinada área - esporte, meio ambiente ou saúde - ajude na definição de programas e projetos específicos, mas que estejam previstos no projeto político- pedagógico. E isso quer dizer previstos, analisados e aprovados pela comunidade escolar. Acredito que parcerias bem estruturadas com a sociedade civil nas suas mais diversas formas, com o gestor e sua equipe como protagonistas, sejam uma das maneiras de fazer com que a vida que há na escola seja reconhecida e compartilhada com a sociedade.

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