terça-feira, 23 de novembro de 2010

EM DEFESA DA ESCOLA PÚBLICA

NILZA OSÓRIO JORGENS BERTOLDI*

Rotulada por tantos como um problema crucial para os avanços da educação, a escola pública vem sofrendo e suportando sucessivas críticas aos resultados obtidos no desempenho de suas funções. Inserida num modelo social imposto pelos bens culturais, ela tem sido invadida pela crise de valores éticos e morais que afeta a sociedade e deturpa, por consequência, as instituições que educam e preparam jovens e adolescentes para o exercício da cidadania.
Com um olhar atento, generoso, mas alarmante, precisamos trazer à luz a sala de aula de um professor. Louve-se o esforço diário dispensado por este profissional mal remunerado, cobrado por suas atitudes, desrespeitado por alunos indisciplinados que ali chegam sem limites de conduta e sem a segurança e o apoio de políticas públicas capazes de reprimir os abusos absurdos de adolescentes cujo comportamento inadequado ainda é referendado pela omissão dos pais.Mas acima desta trágica e incontestável realidade e dos desafios que enfrenta, lá está ele, o professor que persevera porque compreende sem ser compreendido; porque ama sem sem amado; porque valoriza sem ser valorizado, porque simplesmente é um educador e, assim sendo, dignifica a escola pública com a altivez dos imprescindíveis.
É preciso dizer que esta mesma escola, no Rio Grande do Sul, viveu em anos dourados o apogeu de suas conquistas disputando com outros Estados da federação o lugar de destaque na qualidade do ensino, reconhecido como referência nacional. A educação é um ato de fé e de crença em dias melhores. A permanência do professor com autoestima, entusiasmo e bem-estar na escola passa pela valorização da importância do papel que desempenha ma sociedade. Cabe ao poder público o compromisso de uma escola com qualidade e a responsabilidade da manutenção das lutas e conquistas do magistério público estadual: o plano de carreira e o Piso Nacional da Educação, pontos básicos para reconstruir com decência um patrimônio que teve história, ora vista com descaso pelos governantes.
Nossos professores são docentes qualificados, titulados em cursos superiores de universidades atingindo 86% do Quadro Geral do Magistério Público. Por que o ensino deixa a desejar? Estágios probatórios mais rigorosos e vivência em escolas públicas do Ensino Fundamental por egressos das faculdades levaria os futuros candidatos à docência à experiência de uma escola pública com suas carências materiais e pedagógicas. Um bom começio para uma mudança na educação. Mas sabe-se que qualquer projeto de qualidade e eficiência será inócuo sem a devida valorização do professor.
A educação precisa ser repensada numa visão abrangente reconhecendo os direitos fundamentais da pessoa humana enquanto sujeito de sua própria história. Será o resgate para uma escola mais digna para a qual o futuro está em aberto. Um novo olhar está, pois, a exigir dos executores da educação uma nova postura, que responda por mudanças pedagógicas vislumbrando a imediata valorização do professor condizente com as necessidades básicas do ser humano.

 * Educadora emérita do Estado do Rio Grande do Sul
(Publicado no jornal Zero Hora, de Porto Alegre, 23/11/2010)

Nenhum comentário:

Postar um comentário