“O
Cântico do Poeta Pelo Amor de Euzébia”
Era como se eu pudesse parar o tempo.
O mundo, moinho por seu eixo, girava quase nulo.
Eu, ao altar, mudo. Você, em renda branca, lúcida, mas
muito rosa do meu jardim.
Tão rosa que desacatou as azaleias para reinar. Calou os
espinhos para embelezar.
Esvaziou os copos de leite. Tu reinavas.
Eu, ali, criança, cirandava você.
Nossa infância das bolas de gude, das pipas. Das latas
d'água.
Das lavadeiras. Das cantigas de roda.
Naquele tempo, ainda éramos dois.
E eu, passarinho, passarinhava você.
A alvorada mais bela e tenra.
Por que não um ninho, mesmo que dentro de nós?
Por que não um bar – ra -co para remarmos sós?
O tempo passou.
Eu, sonhador, sempre sonhava você.
Mesmo sem te ver, sentia o conforto e a cumplicidade.
Fiz-me espinho ferido. Duvidei. Chorei.
Acovardei- me. Precisava de você… precisava de você…
Que chegou com o velho jeito manso.
Secando o pranto. Luz e acalanto.
Enrubesci. Vivi.
Cresci. Cedi.
Foi você quem tirou as nuvens da estrada.
Pediu licença para cantarmos em um novo tom.
Sonhamos e amamos juntos nossa Mangueira.
Fizemos, ali, uma linda família.
O Zicartola foi nosso enlace para o mundo.
Doces sabores que brotavam dos sons.
Sons que ecoavam a luta vermelha.
Vermelho que explodia de amor em nosso cúmplice olhar.
– Quer casar comigo?
Sim, e houve festança demais.
Chuva de arroz demais.
Samba, miudinho, na sola do sapato, demais.
Foi um ato. De amor, um ato.
Depois, saímos velozes dali para um lugar que nem nós
saberíamos.
Éramos, enfim, um só.
A sua doçura e liderança.
Nossa poesia e canção.
Hoje o mundo é seu, Zica.
E eu sou seu, alegre pequena.
Enfim, o mundo é nosso.
Agora, dou-te um beijo.
Cartola
Texto e pesquisa: Vinícius Natal
Argumento de enredo: Eduardo Gonçalves e Vinícius Natal
Carnavalesco: Eduardo
Gonçalves
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