Enredo 2017
"A
Peruche no Maior Axé Exalta Salvador, Cidade da Bahia, Caldeirão de Raças,
Cultura, Fé e Alegria"
Primeiro setor: A Lenda, a
magia e o amor
Nas raízes
desta cidade estão a magia e o amor, sobre eles construíram-se as casas e a
vida do povo. Num dia qualquer entre os anos de 1510 e 1511 (os historiadores
não sabem ao certo) um português naufragou em frente à costa da Bahia. Bom
nadador, escapou da morte no mar e ainda conseguiu, salvar o mosquetão e, assim
armado, alcançou a terra. Chamava-se Diogo Álvares e os naturais do lugar,
Índios Tupinambás que eram antropófagos saudaram com entusiasmo sua chegada.
Vendo-se o
luso em grande aperto, lançou mão da arma providencialmente salva e fez fogo
contra um pássaro no azul do céu, abatendo-o com tiro certeiro. O clarão
deslumbrou os índios, o pássaro morto lhes ensinou o medo.
Caramuru!
Caramuru! gritaram, saudando o filho do trovão, o pai do fogo e da morte, o
ser estranho e colérico vindo das ondas. Trouxeram-lhe frutas, prestaram-lhe
homenagens, conferiram-lhe honrarias. Para velar seu sono, para aquecer seu
dormir, deram-lhe a índia Paraguaçu, filha do cacique.
Caramurú ao
ver tão bela índia por ela se apaixonou. Conta que Moema, a irmã de Paraguaçu,
também nutria um imenso amor por Caramurú, e quando este embarcou com sua
mulher para uma viajem à Europa, Moema se jogou ao mar e nadou léguas atrás do
navio, atrás do seu amor. Mas, deixemos Jorge Amado concluir:
"Veio a lua e cobriu as
águas de ouro e prata. Na distância se apagava a luz
do barco, perdida no céu de
estrelas. Moema a nadar, Moema a se afogar.
Quando a luz derradeira da nau
desapareceu na noite e na lonjura, quando
toda a esperança se finou,
então lhe faltaram as derradeiras forças e
Moema se entregou à morte, sem
Diogo não queria viver. Mergulhou nas
ondas com seu acompanhamento de
peixes e luar, seu véu de noiva. Desde
então e para sempre o amor
ilumina o mar e a terra da Bahia".
Não se pode
contar a história da cidade de Salvador como se conta a história de outra
cidade. Porque ela é diferente... porque suas lendas, seus mitos e mistérios
facilmente se misturam com a realidade dos fatos.
O fato real é
que Diogo Álvares, um dos mais importantes personagens de nossa história, levou
sua esposa, para ser apresentada à corte francesa. Paraguaçu causou furor na
corte, se converteu ao Cristianismo, foi batizada com o nome de Catarina do
Brasil, e com Diogo oficialmente se casou.
É considerada
a mãe biológica de boa parte da nação brasileira, um dos maiores símbolos
femininos da história do país, por ter exercido um papel fundamental na
integração das raças que formaram o povo brasileiro. A visão que os marinheiros
portugueses tiveram desta baía era a de um verdadeiro paraíso e neste paraíso
eles vieram construir uma cidade inesquecível!
Segundo setor: A formação de um
povo
Foi na Cidade
do Salvador que se deu início a árvore genealógica da família brasileira. O
índio que aqui já vivia, se misturou com o branco oriundo da Europa
(portugueses, galegos, italianos, holandeses, ingleses e franceses) e com o
negro que veio trazido como escravo da África. O tráfico de escravos, o
comércio infame, foi uma tragédia sem medida.
O negro levou
nos ombros o fardo da escravidão, mas levantou a cabeça e apesar dos grilhões e
dos pelourinhos, não se esqueceu de sua origem e de sua grandeza. Soube
rir e lutar contra sua condição, e não abriu mão de preservar sua cultura, o
canto, a dança, seus deuses, mistérios e rituais.
Sua
resistência foi fundamental para a formação das peculiaridades e do caráter
deste povo. Assim foram se misturando sangues e culturas nesse caldeirão de
raças, para que surgisse daí o "baiano", um ser gentil e cordial,
valente, de boa prosa e melhor riso, malicioso e sensual, de gula e de dengo,
com imaginação pra dar e vender, e, com uma alegria infinda.
Salvador se
tornou uma cidade de "fortes", não apenas por causa das fortalezas
construídas para defende-la, mas principalmente pela força, coragem e heroísmo
de sua gente que por inúmeras vezes, bravamente defendeu o solo brasileiro e
sua soberania, dando seu sangue em revoltas, na busca de justiça, independência
e liberdade. A mais importante data cívica de Salvador e da Bahia faz referência
ao dia 2 de julho (1823), data em que aconteceu a verdadeira independência da
Bahia e do Brasil, conquistada com a vontade, o suor e o sangue do exército
baiano auxiliado por gente do povo (índios, negros e os sertanejos) que, cerca
de dez meses após o Grito de Independência ou Morte, dado por D. Pedro I,
tiveram que pegar suas armas e lutar para realmente expulsar os portugueses de
Salvador e do Brasil.
Neste
capítulo de nossa história despontam o heroísmo de três corajosas mulheres:
Maria Quitéria, que fingiu ser homem para engrossar as fileiras do
exército brasileiro, se tornando a primeira mulher brasileira a entrar num
campo de batalha, Madre Joana Angélica, que foi assassinada na porta de seu
convento, impedindo que os portugueses lá se refugiassem, Maria Felipa,
uma negra, trabalhadora braçal, pescadora e marisqueira, que liderou outras
mulheres negras, índios tupinambás e tapuias em batalhas contra os portugueses
que atacavam a Ilha de Itaparica, queimando 40 embarcações portuguesas que
estavam próximas à Ilha.
A grande
festa de 2 de julho se inicia com o cortejo que traz as imagens do Caboclo e da
Cabocla. O Caboclo é a síntese do povo baiano (miscigenado), símbolo de sua
eterna luta pela liberdade. A Cabocla foi inserida posteriormente no cortejo
inspirada na figura terna da índia Paraguaçu, simbolizando a conciliação entre
portugueses e brasileiros através do parentesco e a valorização desta mistura
na formação do povo.
É ele que
rege e que vai à frente do desfile, aclamado. É nos pés dele que o povo
deposita seus pedidos, e preces. É pra ele que os terreiros de candomblé
de Angola (nação banto), e de origem cabocla batem seus tambores nas noites do
2 de Julho, em toda a Bahia. Como diz o Hino ao 2 de julho:
"Nunca mais o despotismo
Regerá nossas ações
Com tiranos não combinam
Brasileiros corações"
Terceiro setor: Um povo de fé
Certamente
forças espirituais conduziram a nau de Américo Vespúcio fazendo-o chegar
naquele lugar no dia de Todos os Santos, inspirando-o assim a batizar o lugar
como Baía de Todos os Santos. Em Salvador, como em nenhum outro lugar do
Brasil, cultuam-se todos os Santos, nesta terra o povo resistiu às imposições
e vontades dos colonizadores e dos governantes ao longo dos tempos, e
conquistou o direito de manifestar sua fé, cumprir seus ritos com respeito e
liberdade, e, com liberdade, o povo dança suas danças, canta suas canções e faz
suas festas.
As festas
religiosas, manifestações populares de fé, são a cara de Salvador. Um
calendário extenso, de festas e celebrações sempre acompanhadas
da deliciosa culinária baiana, atraem milhares de fiéis e turistas. Além
de sua própria festa, Nossa Senhora da Conceição também participa da Festa
de Bom Jesus dos Navegantes. Sua imagem sai da igreja para se juntar à imagem
do seu filho. Juntos numa Galeota eles navegam numa espécie de procissão
marítima da Igreja da Conceição até a Igreja da Boa Viagem. A origem da devoção
pertence aos marinheiros que pediam proteção para enfrentar os desafios do
mar.
Em 27 de
setembro, dia consagrado a São Cosme e Damião, os devotos do Candomblé oferecem
animadas festas, servindo o caruru. Cosme e Damião para os católicos são
adultos, médicos.
No candomblé
são crianças, são ibejis, santo que não é incorporado, mas eles têm intimidade
com os orixás, e, não há orixá que não ouça o canto de um menino. É uma
manifestação bela que consegue nos lembrar de forma mágica e lúdica o quanto a
infância é sagrada, pura, alegre e forte o bastante para nos fazer esquecer,
pelo menos por alguns momentos, das agruras do dia a dia. Passado o Carnaval,
o som que embala os dias do povo em Salvador é o forró. Tudo pra já entrar no
clima das festas Juninas em louvor a São João e Santo António. É comum a
organização de novenas regadas à boa comida baiana, nos lares do povo, onde se
preparam originais altares em homenagem ao santo.
Dia 02 de
fevereiro é o dia de levar os presentes para Iemanjá, a Rainha do Mar. Os
presentes são colocados em grandes balaios que são levados para o alto mar de
onde são lançados para ela, juntamente com os pedidos dos fiéis que nas areias
do Rio Vermelho, cantam e dançam com muito samba de roda, capoeira, além de
giras de Orixás e Caboclos. A caverna de ouro, como é chamada a Igreja de São
Francisco na Praça do Pelourinho, é motivo de orgulho e devoção na cidade. Seu
requinte e esplendor em ouro é a mais completa tradução do barroco baiano, que
buscava conjugar devoção e riqueza.
Deste
caldeirão de fé surgiu o sincretismo religioso, especialmente do catolicismo
com o candomblé, por isso vemos com frequência o povo entrando pelas portas das
igrejas e saindo pelas portas dos terreiros de candomblé. Nenhuma festa
religiosa demonstra melhor este sincretismo afro-baiano, como a Festa do
Senhor do Bonfim. Nela se festeja ao mesmo tempo aquele que é na devoção do
povo, o maior santo católico, Senhor do Bonfim, e o maior dos Orixás, Oxalá, o
pai de todos.
Juntos,
as baianas, católicos, mães e filhos de santo e grupos de afoxé, participam de
uma enorme procissão que parte da Conceição até a Colina Sagrada, onde fica a
Igreja do Bonfim. Lá chegando as baianas lavam as escadarias, num ato de
renovação da fé de um povo, numa festa sagrada e profana, que é a cara da
Bahia. A Mansão da Misericórdia, como é carinhosamente chamada a Igreja do
Bonfim, reafirma sua essência e missão secular, de a todos acolher sem
distinção.
distinção.
A força
espiritual da cidade do Salvador fica ainda mais evidente quando destacamos a
trajetória de três ícones religiosos, exemplos de perseverança e fé: Mãe
Menininha do Gantois, o rosto da bondade e a voz da experiência! A mais famosa
Iyalorixá da Bahia, tornou-se conhecida e respeitada por todos por sua luta
pela legalização do culto aos Orixás, (o candomblé), e sua consequente
integração na sociedade nacional. Como diz a canção:
"Olorum quem mandou essa
filha de Oxum, tomar conta da gente e de tudo cuidar
Olorum quem mandou ô ô, ora iê iê
ô"
(Música
Oração à Mãe Menininha/Dorival Caymi)
Irmã Dulce, o
anjo bom da Bahia, que dedicou sua vida ao atendimento de pobres e
necessitados. Sobre seus frágeis ombros ela deixou recair a responsabilidade
por milhares de vidas. Tijolo por tijolo ergueu um império de amor e
solidariedade. Atendeu a todos, porque como ela mesma dizia: "Esta é a
última porta, por isso eu não posso fecha-la".
A luta foi
seu milagre, um milagre que até hoje acontece. Divaldo Franco, o embaixador da
paz, um verdadeiro apóstolo do espiritismo, que com suas palavras e livros leva
conforto e esperança ao povo, e, com seu projeto educacional transforma a vida
de milhares de crianças excluídas das periferias de Salvador. Estes três
seres são como simbólicos faróis (tão marcantes na paisagem de Salvador,
sinalizando com sua luz o caminho do bem).
Quarto setor: As marcas de um
povo
A figura da
baiana é muito mais que um traje típico, é um símbolo desta terra, reconhecido
em qualquer lugar do mundo. Foram estas mulheres que resgatando algumas de suas
tradições africanas criaram uma culinária genuinamente baiana (outra marca do
lugar) onde brilham o dendê, o leite de coco, a pimenta, o coentro e os frutos
do mar.
A capoeira
veio de Angola nos navios negreiros. É uma luta única no mundo, luta na qual a
agilidade comanda e os pés e cabeça são decisivos. Perseguida e condenada, a
capoeira, para sobreviver teve que acobertar-se nas sombras da música dos
berimbaus, ser ao mesmo tempo luta e balé. E que balé! Que graça, que força,
que elegância nos movimentos dos lutadores! Foi assim que ao som dos berimbaus
de capoeira, os negros puderam preservar sua luta, e, ao transforma-la,
fizeram-na baiana e brasileira!
"Um velho calção de banho,
o dia pra vadiar
Um mar que não tem tamanho e um
arcoíris no ar
Depois na praça Caymmi, sentir
preguiça no corpo
E numa esteira de vime beber
uma água de coco
É bom, passar uma tarde em
Itapuã, ao sol que arde em Itapuã
Ouvindo o mar de Itapuã, falar
de amor em Itapuã"
(Música Tarde
em Itapuã/ Vinícius de Moraes e Toquinho)
As praias de
Salvador foram eternizadas em canções e poemas. Suas belezas foram também
retratadas nas telas, e, em cores vibrantes pudemos ver o mar, as areias claras
deste litoral, as jangadas, os coqueiros e os pescadores com suas redes, todas
marcas desta cidade solar. Em Salvador, o conceito de cultura ultrapassa o
limite de qualquer definição e compreende um universo inesgotável de riquezas,
que podemos considerar como os tesouros deste povo.
Na
literatura, na música, na fotografia, e no cinema os filhos legítimos da cidade
e os adotivos também, declararam o seu amor a esta terra, e, deste saboroso
caldeirão das artes eis que surge a Tropicália, movimento cultural
revolucionário que chegou cantando:
"Viva a banda, da, da
Carmem Miranda, da, da, da, da
Viva a banda, da, da
Carmem Miranda, da, da, da,
da"
(Música
Tropicália/Caetano Veloso)
Hoje não só a
música baiana, mas toda a música brasileira é marcada pelos ritmos do povo
dessa cidade: os ritmos do candomblé, do samba de roda, da capoeira. Das
músicas dos afoxés e das rodas de berimbau se alimentaram os moços da bossa
nova. Dessa água vem todos beber!
A arquitetura
também é uma marca da cidade que foi criada, construída e mantida por seu povo.
Das pedras negras no chão do Pelourinho que no passado foram encharcadas com o
sangue dos escravos, hoje brota cultura em um dos mais belos conjuntos
arquitetônicos brasileiros, considerado um patrimônio da humanidade. O
Pelourinho é um deslumbramento! Todos os cantos do Pelô parecem estar ali para
nos fazer voltar no tempo e para não nos deixar esquecer de nossa nobre matriz
negra que teve suas heranças preservadas pela resistência de um povo. Ah, não
há como negar... Esta cidade deixa marcas na gente...
"Deixa ver, com meus olhos
de amante saudoso a Bahia do meu coração
Deixa ver, baixa do Sapateiro
Charriou, Barroquinha, Calçada, Tabuão!
Sou um amigo que volta feliz
pra teus braços abertos, Bahia!
Sou poeta e não quero ficar
assim longe da tua magia"
(Música Bahia
com H/ Denis Brean)
Quinto setor: A alegria do povo
- O Carnaval da Bahia
Este povo,
que não tem medo de inovar e de tudo misturar, tão rico de alegria de viver, de
gentileza e de graça, ainda faz uma das maiores festas populares de rua do
mundo: o Carnaval Baiano. Foi no carnaval de 1950, um tempo onde o povo apenas
assistia o desfile dos corsos e das sociedades, um desfile carnavalesco nos
moldes europeus, com pessoas fantasiadas com fantasias clássicas (pierrô,
colombinas e arlequins), que pela primeira vez foi para rua a inesquecível
Fobica, que mudaria para sempre o carnaval da Bahia.
Apaixonados
pelo frevo, Dodô e Osmar resolveram criar uma versão eletrônica do ritmo
utilizando sua invenção, o pau eletrificado, precursor da guitarra
baiana. Para entrar no cortejo eles transformaram um velho calhambeque, um
Ford 29, que apelidaram de Fobica, instalando nele autofalantes e com seu
frevo eletrificado puseram todo o povo pra dançar! Uma canção de Moraes
Moreira revela como tudo aconteceu:
"Varre, varre, varre
vassourinhas, varreu um dia as ruas da Bahia
Frevo, chuva de frevo e
sombrinhas, metais em brasa, brasa, brasa que ardia
Varre, varre, varre
vassourinhas, varreu um dia as ruas da Bahia
Abriu alas e caminhos pra
depois passar o trio de Armandinho, Dodô e Osmar
E o frevo que é pernambucano,
ui, ui, ui, ui
Sofreu ao chegar na Bahia, ai,
ai, ai, ai
Um toque, um sotaque baiano,
ui, ui, ui, ui
Pintou uma nova energia, ai,
ai, ai, ai
Desde o tempo da velha fobica,
hahahahaha, parado é que ninguém mais fica
É o frevo, é o trio, é o povo,
é o povo, é o frevo, é o trio
Sempre juntos fazendo o mais
novo Carnaval do Brasil"
O Carnaval em
Salvador é também lugar de expressão de raiz! Foi na resistência, na luta pelo
resgate e valorização de sua ancestralidade e negritude que os afoxés e blocos
afros foram pra ruas e mostraram a beleza da raça e a força de seu batuque.
"Filhos de Gandhi, Badauê
Ilê Alê, Malê de Balê, Ojú Obá
Tem um mistério que bate no
coração
Força de uma canção que tem o
dom de encantar"
(Música
Ijexá/Edil Pacheco)
Da mistura da
ideologia de Mahatma Gandhi, pela não violência e paz com o culto aos orixás
surgiu o Afoxé Filhos de Gandhy. O "tapete branco da paz" como é
conhecido cultua a tradição da religião africana ritmada pelo agogô, e com seus
cânticos na língua Ioruba, "traz pra você o novo som Ijexá".
"O Araketu, o Araketu
quando toca
Deixa todo mundo pulando que
nem pipoca..."
(Música
Pipoca/Alain Tavares, Clóvis Cruz, Carlos Tavares e Gilberto Santos)
O bloco afro
Ara Ketu ou Povo de Ketu, foi fundado por moradores do subúrbio ferroviário de
Periperi em Salvador, com um balanço irresistível o bloco foi além, se
reinventou, experimentou outros tipos de som (samba e axé) e deixou a todos
"mal acostumados" esperando sua passagem. A música do Olodum é a
música das ruas, do Carnaval, da luta contra o racismo, um trabalho que ao
mesmo tempo que transmite conhecimento, gera um sentimento de identidade,
contribuindo assim para promover o respeito à diversidade cultural. Sua cultura
percussiva se uniu a canções temas especialmente compostas para seus desfiles e
apresentações.
"Que mara, mara, mara
maravilha eh, Egito, Egito eh"...
Em 2017 a
canção "Faraó Divindade do Egito" (Luciano Gomes) completará 30 anos.
Mais que apenas um tema exótico, o Olodum além de valorizar a cultura egípcia,
mostrou aos negros e afrodescendentes a grandeza de seus ancestrais na história
da humanidade.
"Eu falei Faraó
Eh Faraó, Eh Faraó
Eu clamo Olodum Pelourinho
Eh Faraó, Eh Faraó"
Que seus
tambores continuem a bailar no alto, e que seu som continue a ecoar pelo mundo
afora! Quando "o mais belo dos belos" despontou na avenida, revelou o
Mundo Negro para o Carnaval de Salvador. O Ilê Aye teve axé e coragem para ir
contra a ordem estabelecida, e com seu trabalho sócio cultural e
suas apresentações se tornou uma das maiores referencias de resistência,
preservação da cultura de origem africana e afirmação da negritude como forma
irrepreensível de garantir a Consciência Negra. Como diz a canção:
"Quem é que sobe a Ladeira
do Curuzu
É a coisa mais linda de se ver,
é o ilê Aye"
Carlinhos
Brown, se tornou um dos filhos mais ilustres desta terra, com sua expressão
percussiva, sua inquietude criativa, sua consciência social e muita atitude,
promoveu o milagre do Candeal, bairro pobre da Salvador, onde nasceu. O músico
criou vários projetos, programas e grupos musicais que modificam até hoje
a vida de crianças e jovens carentes. Extremamente ligado à cultura afrobrasileira
e ao carnaval da Bahia, Brown promove o respeito à ancestralidade africana ao
mesmo tempo que defende a mestiçagem, das raças, das culturas, dos ritmos e dos
sons. Exatamente por isso é chamado de Cacique do Candeal. (Brown) Ao
reinventar a sonoridade do timbau, reuniu um grupo de percursionistas criou o
Timbalada, que com seus corpos pintados, e nas "Asas de um
Passarinho" levam seus sucessos e fazem soar seus timbaus nos quatros cantos
do mundo.
Mas, o baiano
quer e pode mais! Criou uma música genuinamente baiana, um som híbrido
inspirado em outros tantos gêneros musicais e a chamou de Axé Music. Hoje o
Carnaval baiano, com seus trios cada vez mais elétricos, lança suas estrelas ao
mundo e em seu caldeirão de alegria, mistura todas as tribos e todos os
sons.
Salvador é
assim uma terra única, que desperta em nós uma genuína paixão, é por tudo isto
que a Peruche, no Carnaval 2017, também faz soar seus tambores e orgulhosamente
anuncia: Salve Salvador! Salve a Bahia! E que Salvador nos dê muito axé para
que façamos mais um maravilhoso espetáculo na maior festa popular do mundo, o
Carnaval Paulistano.
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