Enredo 2017
A Divina Comédia do Carnaval
“Carnaval do Rio, vendaval de
sentidos! (…) Tu és o espasmo da fera na civilização”. (João do Rio)
Quem sou eu nessa selva de ilusões
que se ergue quando o mundo real acaba em cinzas para renascer vibrante nas
chamas de mais um Carnaval?
Muito prazer! Sou um aventureiro
errante, passageiro do delírio. Mas podem me chamar de poeta…
Embarco numa viagem desvairada pelos
três reinos místicos de Momo, navegando por um rio de escaldantes tentações.
“Se ‘essa barca’ não virar / Olê,
olê, olá… Eu chego lá!”
De mente aberta e alma liberta, lá
vou eu!
ALEGRIA
INFERNAL
No “Balancê, Balancê”, a embarcação
avança pelas águas assombradas de onde avisto as loucas fantasias dos que se entregam
sem temor às garras da folia. São milhares de vozes que ecoam pelos abismos
mais profundos, entoando uma ladainha profana, hino de tantos carnavais:
“Mas que calor ô-ô-ô-ô-ô-ô”!
Estou em pleno Inferno, ardendo numa
incontrolável febre de alegria. No rebuliço dos salões subterrâneos, o Bloco
dos Mascarados arma as trincheiras para uma intensa batalha de confetes e
serpentinas, libertando as feras que se escondem em cada um de nós.
No decorrer do trajeto, vejo uma
procissão pagã inundando de beleza a Avenida das Labaredas, onde ressoam alto
os clarins pedindo passagem para os “Tenentes do Diabo”. Numa triunfal
aparição, é carregado em glória o Senhor das Profundezas, que uma vez por ano
segue a comandar o soberbo desfile das Grandes Sociedades do Além-Túmulo. Nessa
euforia aterradora, a ordem do Rei do Mundo Inferior é lavar a alma num
irresistível transe coletivo, como se fosse o último Carnaval sobre a face das
trevas.
Mas sinto que é hora de partir, ainda
que atraído pelas fogosas tentações espalhadas no caminho maligno que tanto me
seduz. Sigo, então, a minha trajetória. Ainda há muito Carnaval para pular.
PECADO
É NÃO SE ENTREGAR…
Depois de abandonar as veredas
infernais, eis que estou aos pés do imponente monte Purgatório, onde o Cordão
dos Penitentes se divide em sete grupos de foliões, cada qual com seu pecado
capital. Em um cortejo alucinante, sacodem a ladeira sem culpa, sem juízo
e sem medo de ser feliz. Afinal, não há castigo para pecados cometidos em nome
do prazer.
Mas que folião sou eu nesse reino
entre o Inferno e o Céu? Para avançar pela trilha da temperança, é preciso
mergulhar nas águas que purificam o espírito e seguir o caminho da salvação.
“Vê? Estão voltando as flores…”
O cenário se modifica e dá lugar a um
gracioso cortejo de sonhos e recordações. Abram alas para o esplendor dos
Ranchos e suas deslumbrantes flores, aves exuberantes e borboletas telúricas. É
a natureza se revelando em um suntuoso Jardim do Éden, bordando de beleza a
travessia rumo às portas do reinado derradeiro de Momo.
A
DIVINA FOLIA
Purificado, cruzo a grande entrada
que me defronta com a visão divinal do firmamento, onde estrelas giram como um
carrossel místico suspenso no infinito. Ao seguir o rastro de poeira cósmica,
vou percorrendo um universo magnífico e reluzente. Nos altos círculos
celestiais, um Corso espacial desfila encanto e lirismo:
“E a lua anda tonta… com tamanho
esplendor!”
A minha alma caminhante sorri diante
da vastidão do espaço ornamentado de saudade. Decorado por grandiosos painéis
multicores, flutuo em glória rumo à Apoteose que encerra esta jornada foliã.
Chego, enfim, ao meu destino final!
No último portal do Paraíso, sinto o
pulsar da magia dos tambores que emanam o axé das divindades. Iluminado,
adentro o templo da divina criação, na dimensão afro-cósmica dos reis, heróis e
deuses de Yorubá.
Nesse plano superior, ponho-me diante
da Santíssima Trindade do Carnaval, que molda em arte tudo o que nasce do
coração do povo. Pai, Filho e Espírito Santo… Juntos de novo na missão de
interpretar a alma da nossa gente. Assim, celebro, extasiado, a beleza criada
pelas mãos do gênio Arlindo, o eterno querubim arlequinal, a trançar a Divina
festança entre rendas e fitas; contemplo a obra magistral de Joãosinho, o
menino que virou rei, a tecer em luxo e brilho o maior espetáculo do universo;
e, por fim, reverencio o supremo Deus com voz de trovão, Fernando Pamplona…
Salve o mestre de muitas artes que enfeita, nas altas esferas de Orum de Todos
os Deuses, a grande Festa para os Reis Negros da Academia do Samba, o meu
sagrado Paraíso!
Em estado de graça, completo a minha
Odisseia carnavalesca. É hora de revelar em poesia todas as maravilhas que vi e
que senti ao longo do percurso.
Meu nome é Dante! Sou poeta peregrino
que anuncia o grande aprendizado desta Divina Comédia:
A REAL FELICIDADE ESTÁ EM NOSSA
INADIÁVEL MISSÃO DE CARNAVALIZAR A VIDA.
Há um Dante dentro de você.
Liberte-o!
Renato Lage, Márcia Lage e Diretoria Cultural
Renato Lage, Márcia Lage e Diretoria Cultural
SETORES
DO DESFILE:
Setor 1 – INFERNO
– A Barca para o Inferno
– Os Tenentes do Diabo
Setor 2 – PURGATÓRIO
2.1 – O Cordão dos Penitentes – Os Sete Pecados Capitais
2.2 – Ranchos: A Purificação
Setor 3 – PARAÍSO
3.1 – O Corso Espacial
3.2 – A Santíssima Trindade no Orum de Todos os Deuses
Setor 1 – INFERNO
– A Barca para o Inferno
– Os Tenentes do Diabo
Setor 2 – PURGATÓRIO
2.1 – O Cordão dos Penitentes – Os Sete Pecados Capitais
2.2 – Ranchos: A Purificação
Setor 3 – PARAÍSO
3.1 – O Corso Espacial
3.2 – A Santíssima Trindade no Orum de Todos os Deuses
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