Enredo 2017
Mãe
África Conta a Sua História: Do Berço Sagrado da Humanidade à Abençoada Terra
do Grande Zimbábue
Autor: Flavio Campelo
No princípio era o horizonte e a imensidão de um lugar
que os nossos olhos jamais seriam capazes de encontrar seu fim, tudo o que se via,
eram as margens entre o céu e a terra, a penumbra de um pôr do sol, marcado
pelo destino.
Sou o horizonte, sou a imensidão, sou a vida! No meu
ventre carrego a matriz da semente geradora!
Meus filhos são guerreiros, como nossos Deuses... Sou a
Mãe-África, sou a Mãe da Humanidade... A Mãe que embala e oferta os seios aos
seus filhos.
Sou o berço da existência, sou o início de tudo, sou o
amor, sou o clamor, sou a natureza original. Do meu solo, nasceu o Baobá, a
árvore da vida!
Sou a África coroada de riquezas, vestida de belezas
naturais, adornada de relíquias, cercada de lendas, história e estórias...
Sou a terra da ancestralidade, onde sábios e guerreiros
fizeram desse chão sagrado o seu torrão... Sou a terra da bravura, a terra dos
fortes, a terra das terras.
Célula máter dos eternos guerreiros que inspirados na
força, na garra e na vida selvagem dos mais variados animais da nossa fauna:
leões, elefantes, zebras, antílopes, rinocerontes, macacos, girafas, leopardos,
jacarés, búfalos, e tantos outros, lutaram por seus ideais, por seus
princípios, por sua terra, por suas riquezas e por seus irmãos. Diz a lenda que
quando um desses animais morre, a alma torna-se um espírito de um guerreiro
africano. Selando a coroação eterna, tão antiga quanto as estrelas, tão pura
quanto uma criança, é preciso estar purificado para entender, é necessário
acreditar, e fundamental se doar, para crer. O sopro do vento revela a nossa imensidão,
encontramos o dourado da savana que se funde com os milhares tons de verde de
nossas florestas sagradas... Nossas águas são cristalinas, e banham a nossa
terra, rasgando o nosso solo, seguindo o seu curso, numa perfeita sinfonia, às
vezes calma, à vezes agitada, mas sempre com um som inconfundível, o som do
curso da vida que brota do chão e renova-se a cada dia, gerando esperança e
perpetuando a crença em um novo amanhã... Nossas águas sagradas asseguram a
benção para despertar de um império.
Sou a matriz de todas as coisas! Sou a verdadeira e genuína
matriz de tudo!
E meus filhos de espíritos guerreiros, se espalharam e
se organizaram... Com a sola dos pés tocando o chão, sentiram o pulsar da
Mãe-Terra, sentindo a vida no pulsar do coração, difundindo sua verdade,
alastrando a sua civilização.
O despertar do tempo, revelou aldeias, e delas foram
formados grandes reinos, colossais impérios, destemidas civilizações... Reinos
que se imortalizaram! Foram tantos os meus reinos: Reino do Egito, Reino Mali,
Reino do Congo, Reino Songhai, Reino Iorubá, Reino de Gana, Reino Benin, Reino
de Marrocos, e outros mais, cada qual com a sua importância e magnitude para a
história. Reinos erguidos com as riquezas da nossa terra, com a força e a garra
dos meus filhos! Nossas riquezas reluziram, e encantaram os povos e ascenderam
aos quatro cantos do planeta, despertando o interesse e a cobiça dos homens do
Velho Mundo. A triste mazela da tirania aportou em minhas terras. Portugueses,
espanhóis, franceses, ingleses, holandeses, árabes... e tantos mais!
Meus filhos buscaram forças na natureza, na fé
incondicional que habita suas almas e seguem legitimados por sua fé nas
divindades que aqui reinaram um dia, acendendo seu olhar à Luz dos Orixás,
renovando suas energias por toda a eternidade!
Como todos os caminhos elevam a Deus, singrando pelos
tenebrosos mares, bravos homens, navegadores e exploradores alcançaram os
nossos seios, e emanavam de suas almas, as crenças em nome dos seus Deuses
Todos Poderosos. Senhores da fé e da razão que aqui pisaram forte e fincaram as
suas bandeiras.
Em nome do Pai, entre a Cruz e a espada, aportaram os
Cristãos. Sob a regência de Alá, chegaram os Islamitas, os Mouros. Com os
princípios encontrados no Torá Sagrado, chegaram os Judeus, e mais tarde os
Hinduístas, clamando por Hare Krishna...
Fé, lágrimas e sangue se confundiram em páginas de
papel, registros da história que germinaram o amadurecimento dos meus filhos.
Das tribos às aldeias, de reinos às nações, de povoas às civilizações...
Meus cinquenta e quatro filhos se tornam gigantes,
despertaram como leões e se mostram ao mundo através de suas cores e de suas
artes. Foram sublimes nas pinturas, texturas, esculturas, ou através das
poesias e livros, emocionaram através da literatura, das músicas, dos ritmos,
das danças... Trouxeram à vida sonhos coroados em ouro, prata ou bronze,
através dos esportes! Os nossos tambores são ouvidos ao longe. Um dia ouvi de
um griô que um “batuk” nascido das mãos dos meus cruzou o Atlântico e rufam
acolá...
E aos irmãos de raça foi dito uma vez...
Se “sembamos” de cá, uma grande nação “semba” de lá!
Da África do Sul ao Zimbabwe, meus filhos festejam e
clamam com a sua cultura o amor e orgulho de serem a “África”! De serem os
Filhos desta Mãe-África!
O elo que une nossos ancestrais nos unifica ao Brasil, e
com os braços fortes de meus filhos, ergueram um gigante amigo, um mastodôntico
que tem a forma de um coração e mora nas minhas mais profundas lembranças. Um
pouco de mim existe nesse gigante varonil chamado Brasil!
Já fomos exaltados, louvados, aclamados por nossos
amigos brasileiros, que há anos exaltam a mim e a meus filhos, em sua maior
festa popular, e que com certeza é o maior espetáculo da Terra, e que muito
honrosamente, entrego aos braços desse Brasil, mais um filho a ser exaltado:
meu Zimbabwe!
Esse filho fiel, sofrido, e que hoje será exaltado...
Aplausos...
Filho esse, que fora abençoado por meus Deuses, e
contemplados por mim com suas riquezas, tão belo quanto o último orvalho do
anoitecer, tão raro quanto um suspiro de verdade, tão rico quanto sua história,
detentor de imortais jazidas de ouro nas suas terras!
Ergues majestosamente como um império, um Reino de Ouro,
que se chamava Grande Zimbabwe. Uma fortaleza redescoberta nos primeiros
capítulos de sua história!
Dos Shonas ao Império Monomotapa, o destino fora
traçado, selado em ouro, cravado em raras pedras preciosas, destino revelado,
graças ao ouro extraído das abençoadas minas do Zimbabwe.
Assim como acontecera com os meus outros filhos, as
riquezas despertaram a fúria do homem branco europeu.
A liberdade foi, aprisionada pelo explorador português
Sancho Tovar, que em nome de um Rei ali dominava, cercando a igualdade e
desatando sonhos. Mais tarde, o inglês Cecil Rhodes, colonizador, que em nome
da Rainha, batiza o lugar como Rhodesia.
Com a força dos seus e sonhos revigorados, o canto se
fez ouvir, e com a afirmação daqueles que lutaram pelo seu chão, foi proclamada
a sua independência e volta a ser o Zimbabwe, honrando suas raízes e tradições.
Um paraíso magistral, um verdadeiro Santuário da Vida,
esse meu filho possui o parque nacional onde é possível se ver o céu entregar
ao chãos as águas das Cataratas Vitória, um presente divino com um nome em
homenagem a Rainha Vitória, aquela dos antigos colonizadores, e se torna um
Patrimônio Mundial da Vida e da Humanidade.
Eis filho que hoje apresento e entrego, para os braços
do Brasil e dos brasileiros, com a certeza de ser cantado e decantado em poesia
e alegria por nossos irmãos dessa Pátria-Mãe-Gentil! Tão gentil que lhe chamo
de Pátria-Irmã.
E como uma Mãe que zela pelo seu filho, eu clamo:
Kalibusiswe Ilizwe IezImbabwe: “Abençoada seja a terra
do Zimbábue”!
Que meu desejo se torne a minha profecia!
E que assim seja por toda a eternidade!
Axé! África!
Axé! Zimbabwe!
Axé! Brasil!
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