DEIXA
FALAR: O QUE É QUE HÁ? ACADEMIA DO SAMBA, HOJE, SOU ESTÁCIO DE SÁ
“Vai levantar poeira
Oi deixa o couro comer
O Estácio virou tema
Seu passado é um poema
Agora é que eu quero ver”
(Elinto Pires e Sidney da Conceição; Deixa Falar)
A Primeira Academia do Samba estende seu manto vermelho
e branco nas páginas da história do carnaval. O que é que há? Vem de lá, da
Praça XI, do Morro de São Carlos… o berço do Samba, G.R.E.S. Estácio de Sá.
Essa história começa de forma malandreada, pois foi de passo a passo, de boca a
boca, na ginga e no faz que vai mas não vai que o samba ganhou variações e
conquistou o povo logo no início do século XX. Mas, para ganhar as ruas foi
preciso enfrentar a polícia e a resistência da sociedade. Foi então, que um
grupo de sambistas resolveu montar um bloco diferente. Talvez eles não
soubessem, mas no dia 12 de agosto de 1928 estavam escrevendo seu nome na
história, criando uma maneira inovadora de brincar o carnaval, surgia então, a
Deixa Falar, a primeira escola de samba do Brasil.
Era preciso que o povo tivesse voz para expressar seus
sentimentos, emoções; que tivesse uma chance de falar o que pensava. Daí veio o
nome do bloco: Deixa Falar, que no mesmo dia foi consagrado como “escola de
samba”, devido a uma sugestão de Ismael Silva. O sambista fez uma analogia à
Escola Normal do Rio de Janeiro. O argumento de Ismael foi bem simples e logo
aceito pelo grupo: afinal, se os mestres da educação se reúnem numa escola para
ensinar o que sabem, os sambistas também são mestres e professores quando se
reúnem para discutir sobre samba.
“A primeira Escola de Samba
Surgiu no Estácio de Sá
Eu digo isso e afirmo
E posso provar…
Porque existiam naquele tempo
Os professores do lugar.
Mano, Nilton, Mano Rubem e Edgar
E ainda outro que eu não quero falar”
(Joel de Almeida e Pereira Matos; “Primeira Escola”)
Ao contrário dos demais blocos e ranchos que tinham
marchas e bandas, este desfilaria ao som do samba, cantado por pastoras e um
solista. Para diferenciar as novas composições das marchinhas, das músicas
europeias e do ritmo de maxixe do primeiro samba gravado no país, foram
proibidos os instrumentos de sopro. Apenas o apito era permitido, pois servia
para comandar os sambistas batuqueiros. Mas, foram incluídos novos instrumentos
aos conjuntos de samba, como o agogô, o chocalho, a cuíca e o surdo, este
último, instrumento criado pelo próprio Bide. E as inovações não pararam por
aí, a ala de baianas, o casal de mestre-sala e porta-bandeira inspirado no
baliza e na porta-estandarte dos ranchos e tantas outras.
A Deixa Falar durou apenas três carnavais (de 1929 a
1931). A primeira “escola de samba” não chegou a participar do Primeiro
Concurso das Escolas de Samba do Rio de Janeiro, em 7 de fevereiro de 1932.
Mas, ainda que tivesse uma vida curta, serviu de incentivo para o surgimento de
outras tantas “escolas de samba”. No mesmo bairro foram criadas: “Cada Ano Sae
Melhor”, “Vê se pode” (Recreio de São Carlos) e “Paraíso das Morenas”. Em 1955,
essas escolas se uniram para formar a Unidos de São Carlos, que apesar de nunca
ter conquistado um título teve sambas históricos lembrados até hoje, como “A
festa do Círio de Nazaré”, em 1975, e “Arte Negra na Legendária Bahia”, de
1976, que revelou o talento do compositor e intérprete Dominguinhos do Estácio.
Em 1983, mais uma mudança: a Unidos de São Carlos vira
Estácio de Sá para abrir fronteiras para outras comunidades que participavam da
escola. O azul e branco da bandeira dá lugar ao vermelho e branco que fazem
referência à herança da Deixa Falar, e consagram o “pavilhão do amor” com um
leão que ruge forte e supera novos desafios a cada ano.
“Corre nas veias
Esse sangue vermelho que me faz explodir
Seu branco é o encanto
Eu visto esse manto, e vou por aí
A Estácio é isso aí”
(Jair Guedes, Toninho Gentil, Soneca, Jorge Magalhães,
Marcelo Luiz; Pavilhão do amor)
A mudança foi próspera e nas novas páginas de sua
história, a Estácio de Sá conquista público e crítica com enredos irreverentes
como “Quem é Você?”, “Chora chorões”, “O Tititi do sapoti”, “O Boi dá bode” e
em menos de dez anos, superou as chamadas “grandes escolas” e conquistou o seu
primeiro título no Grupo Especial com “Pauliceia Desvairada”, que comemorava os
70 anos da Semana de Arte Moderna. A escola continuou apresentando carnavais inesquecíveis
como “Dança da Lua” e “Uma vez Flamengo”, e permaneceu no Grupo Especial até
1997, quando retornou ao Grupo de Acesso A por nove anos e chegou a ir até para
o Grupo de Acesso B, em 2005. Mas, com uma retomada surpreendente, venceu dois
anos seguidos e voltou à elite do carnaval em 2007 e 2016.
Seja no Grupo de Acesso ou no Grupo Especial, a Estácio
de Sá firma-se como uma das escolas de samba mais populares e mais queridas do
carnaval. Seus desfiles sacodem as arquibancadas da Sapucaí e fazem vibrar os
corações dos foliões apaixonados pelo ritmo da sua bateria Medalha de Ouro, de
seus inesquecíveis casais de Mestre-sala e porta-bandeira, das suas Comissões
de Frente premiadas, de seus ilustres Compositores e Intérpretes, de seus
criativos Carnavalescos, da sua Harmonia que trabalha incessantemente, de sua
Velha Guarda que carrega no sangue e na alma a herança dos primeiros sambistas
brasileiros, e claro, dos milhares de foliões apaixonados que hoje, que em
Vermelho e Branco unem em um só desfile, protegido pelo manto e pelas armas de
São Jorge, a Primeira Escola de Samba do Brasil e a Primeira Academia do Samba
para exaltar no Desfile da Acadêmicos do Engenho da Rainha a Estácio de Sá. E
viva o carnaval!
Autores: Rodrigo Marques, Guilherme Diniz, Lukas
Schultheiss e Rogério Rodrigues
Carnavalescos: Rodrigo Marques e Guilherme Diniz
Referências Bibliográficas:
ARAÚJO, Hiram. Carnaval: seis milênios de história. Rio
de Janeiro: Griphus, 2003. CABRAL, Sérgio. As escolas de samba: o que, quem,
como, quando e por que. Rio de Janeiro: Fontana, 1974.
FERREIRA, Felipe. O livro de ouro do carnaval
brasileiro. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004.
Departamento Cultural do G.R.E.S. Estácio de Sá
(http://gresestaciodesa.com.br/aestacio/nossa-historia)
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