“Velho Tronco – Baobá, Olhar Sobre África”
S I N O P S E
É um dos símbolos fundamentais das culturas ancestrais. Os
velhos baobás africanos de troncos enormes suscitam a impressão de serem
testemunhas dos tempos da criação dos homens pelos Orixás. Os mitos e o
pensamento mágico-religioso Yorubá têm na simbologia do Baobá um de seus temas
recorrentes. Na sua cosmogonia, a árvore surge como o princípio da conexão
entre o mundo sobrenatural e o mundo material. As árvores estão associadas a
Ìgbá ì wà ñû – o tempo quando a existência sobreveio.
Uma das versões do mito relata que foi através do
Òpó-orun-oún-àiyé – o pilar que une os mundos, que os deuses primordiais
chegaram ao local aonde deveriam proceder o início do processo de criação do
espaço material. Este pilar, muitas vezes simbolizado pela árvore ou por seu tronco,
é uma figura de origem, um signo do fundamento, do princípio de todas as
coisas, elemento de interlocução entre a multiplicidade dos “mundos”. Teria
função de interligar as diversas regiões do cosmo, como uma conexão dos espaços
infernais, terrestres e celestes.
Os Baobás povoam a África há muito tempo, e são como muitos
corações, unidos, fortes e inabaláveis. Mas também são retorcidos como as
voltas de uma história. E com raízes profundas e algumas cicatrizes.
“– Ergo-me imponente e soberano em terras africanas. Ali,
quieto, vejo e ouço, sei de tudo, guardo comigo histórias e testemunhos de
tempos imemoriais. À Minha origem dão muitas lendas, sou sagrado e fundamental
para algumas culturas tradicionais.
Tenho uma aparência lúgubre, misteriosa, mas também bastante
solene e bela, essa que se pode afirmar ser um símbolo da África. No auge do
meu esplendor, apresento-me com um aspecto fossilizado, mas além de marcar esta
paisagem, tradicionalmente árida, remeto-me para outros significados, sendo
talvez o motivo de ser cercado de lendárias tradições.
Do alto dos meus milênios vi de tudo acontecer, minha terra
sofreu mudanças, vi migrar os povos, serem criados grandes reinados e também
suas quedas e extinções. Vi o primeiro Estado a constituir-se na África, há
mais de 5000 anos, os Egípcios, e com ele muitos outros, ao longo do tempo.
Nessa longa história dos povos africanos, algumas sociedades se tornaram mais
conhecidas como o Império de Punt, Gana, Mali, Zulu e outros, que por sua vez
constituíram as mais importantes Civilizações Africanas durante séculos.
Presenciei, antes da era cristã, o continente africano
passar por profundas alterações climáticas, vi surgir o deserto do Saara, o
maior do mundo. Essas mudanças impulsionaram migrações de povos para o Norte,
formando a população mediterrânea, e para o Sul, chamada de África negra.
A Mãe África foi, desde a antiguidade, procurada por povos
de longe, que buscavam suas riquezas. A Colonização da África é muito antiga,
remonta-se de antes da Era Cristã. Vieram os Fenícios, os Gregos, os Romanos,
seguidos pelo Império Bizantino, os Árabes e finalmente, os Estados modernos da
Europa.
Vi e senti os horrores de guerras, extraíram nossas
riquezas, nosso povo sofreu na pele a covardia da escravidão, levados de nós para
todas as partes do mundo, muitas vezes usados como mercadoria de troca, por
partilhas territoriais, ganância e poder.
Sobrevivi, assim como minha terra, a Rainha-Mãe África,
soberana, ancestral, berço do mundo. Nosso povo sobreviveu, mesmo que nossa independência
não tenha sido pacífica. Nossas feridas, algumas profundas, ainda doem, e
nossos temores, como o fantasma da exploração humana, a fome e as doenças,
ainda nos rondam, mas apesar disso somos fortes.
Estou e sempre estarei aqui, imóvel, como meu povo em suas
raízes e Fé, exemplo dos animais que usam seus instintos nas grandes migrações
em busca de água e comida nos períodos de escassez. Fé essa que nos apegamos,
no caminho da busca por dias melhores, dias de paz, dias de glórias. Fé e
histórias passadas através dos tempos, pelos grandes sábios, Griôs imortais,
como eu, grande e inabalável, firme em minhas raízes – Eu sou o Baobá.”
Flávio Lins
Carnavalesco
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