Sinopse enredo 2019
EM
NOME DO PAI, DO FILHO E DOS SANTOS, A VILA CANTA A CIDADE DE PEDRO
Quem
pensa que é feliz em outra terra
é
porque
ainda
não viveu aqui.
(Hino
de Petrópolis)
Que
rufem os bumbos! No repicar dos tamborins, pede passagem a Branco e
Azul cuja força provém do samba, eterna nossa tradição! É a
comunidade que vem resgatar o império da Coroa do nosso pavilhão,
herança da Isabel princesa, marca da nossa história gloriosa de
emoção! Bate forte a bateria para marcar o tempo, o tempo novo da
majestade Vila Isabel, o tempo de exaltar a nossa Coroa, na festa do
povo, celebrando os corações do bairro de Noel, encontrando-se com
outra Coroa, a da Casa Real, destinada a criar uma Cidade Imperial.
Vibra
uma Vila que se reencontra com as origens, com a sua negritude, com a
sua raça! São através dos pés aguerridos das negras e negros que
sambam e honram a história que vem a Vila louvar os louros de sonhos
de outrora e dos de agora, mostrando a toda essa gente que samba de
verdade é tradição do nosso sangue rubro e, em um gingado
incomparável, quente. “Sou da Vila não tem jeito;
comigo
eu quero respeito!”.
Portanto,
encantem-se com a história que vamos contar, pois ela começa com
Pedros, dos céus à terra, para criar uma cidade em uma serra.
O
Santo. São Pedro que, desde o primeiro desfile da Branco e Azul,
costuma lavar nossa alma e lustrar com seu sagrado encanto a Coroa da
Escola, símbolo da força da gente que dá o sangue na avenida. O
Santo que deu nome a tantos outros santos e homens!
O
Padroeiro do Brasil e da futura cidade. Santo Pedro de Alcântara, em
adoração ao Altíssimo, homônimo do primeiro e inspiração para
nomear os senhores do Reino.
O
Pai Pedro de Alcântara, Rei Soldado Dom Pedro I, quem sonhou com a
cidade no alto.
E
o Filho Pedro de Alcântara, Magnânimo Dom Pedro II, que realizou o
legado.
E
são os batuques da Vila que contarão a estória, com o fervor da
seiva das suas raízes. Em nome do Pai, do Filho e dos Santos, vem a
Vila celebrar a Cidade de Pedro e sua glória.
Lá,
onde o céu toca a terra, acharam o crepúsculo de um mundo habitado
pelos astros e seus donos: na Serra da Estrela, seus reis, os Índios
Coroados, e um paredão, a ponte com o firmamento que transformava o
fogo em relento. Lá, os mistérios atraíam os olhares castigados do
calor que nem o mar aliviava, e as bocas secas que encontrariam as
águas cristalinas que talhavam a dura rocha, a água pura dos
mistérios da Estrela Serra.
Avançando
os anos, a ocupação lenta de uma serra a ser desbravada e, enfim,
trilhas para as Minas, ouro para a Casa. Depois que a Coroa se
instalou, subindo as tais trilhas tortuosas, outros caminhos pelos
arcanos da serra passaram a encantar o Império à beira-mar. Partiu
então o Pai para viajar e, lá, ao pernoitar, ao esquecer o sol
inclemente, sonhou com ares mais amenos para corpos ainda não
acostumados com o calor da vida que fervilha cá embaixo, ardente.
Veio, após o peregrinar da carruagem, o sonho – uma cidade nunca
vista nas terras quentes! Uma cidade que brilharia do cume daquela
Estrela: do que esta, ainda mais imponente.
Mas
quis a vida que o Filho realizasse o sonho-desejo. Pai morto, Filho
imperador, e a Cidade de Pedro a ser erguida. Nos projetos, com o
incentivo do mordomo e com o plano do major, foram idealizados,
primeiro, um palácio e uma igreja para o Padroeiro: reinava a
santidade da cidade a ser imperial, que começava a crescer,
maravilhando os olhos acalorados do povo suado do litoral.
Nascia
e vivia Petrópolis, com os exuberantes ares que, do alto, iluminaram
todo um Império. Uma cidade moldada pelas mãos dos imigrantes, uma
das primeiras planejadas. Destinada, pelos sonhos e vontades de Pai e
Filho, a ser muito! Casa de Veraneio, um império no Império
Brasileiro, uma Versalhes de refúgio abrasileirada, na verdade quase
sempre ocupada – passou, o Filho, ali, quarenta verões, na cidade
encantada. Para toda a gente da Corte, a vida embalada no colo de uma
Estrela, onde Princesa Isabel, a filha Redentora, não se cansava de
descansar para, mais tarde, ser a inspiração do nosso sambar,
dando-nos a Coroa para embelezar a realeza do Escola de Noel, aqui
perto do mar.
Mas
Petrópolis encontrava-se com a história e com o tempo e, balançando
no fiar do fado, um Barão iniciou o guino: estradas de ferro e novas
rotas. O progresso! Com a pulsação dos avanços, o projeto de um
trem a subir uma montanha! Nessa leva, outros gênios, e uma das
estradas levou o nome do seu tino: União e Indústria, a primeira
macadamizada, o futuro promissor. E além dos avanços, com o tempo
que não para, o prenúncio de novas eras. Um baile de cristal que
comungava e anunciava o futuro sem o terror da escravidão – dali a
pouco, liberdade, e, após muita luta, abolição como canção!
Passou
o Império, mas nunca a imperialidade. E, aguerrida, até uma capital
Petrópolis se tornou quando, com a Armada, a então jovem República
cambaleou. Brilhariam para sempre os palácios, mas, também, o
triunfo de uma polis que progredia, soberana, namorando a abóboda
celeste. Dos encantos de Petrópolis, convenções internacionais e
um Brasil que se ampliava: veio o Acre, que passou a ser mais um
aposento da nossa casa. Avançava e eis o novo símbolo da cidade: um
Hotel-Cassino, de onde o mundo pôde admirar a Cidade Imperial na sua
plenitude de norte a sul, de leste a oeste. Reina, ontem e hoje, a
natural beleza das acolhedoras terras frias e das águas puras e
límpidas, cujos encantos competiram apenas com os das musas que
passaram pelos festivais, enchendo-nos de alegria!
Sempre
em frente, caminha. Dobra-se o mundo que se encanta com sua real e
avançada realidade. Luxo das vestimentas, delícias da cevada e
frutífera imponência, pois, do passado ao presente, eis o
Laboratório Nacional de Computação Científica: tecnologia e
ciência. E futuro não lhe falta enquanto, daqui de baixo, a Vila
lhe presta, enfim, esta respeitosa reverência.
Assim,
São Pedro, que sempre abençoa nossa realeza e os tambores da
Swingueira de Noel... E Santo Pedro de Alcântara, padroeiro do nosso
chão e que não deixa na mão quem Lhe é fiel... Façam, através
desta história, brilhar o ouro da tradição da Vila, da nossa
negritude e da nossa Coroa Real, enquanto cantamos a plenos pulmões,
admirados (e, com seus fantasmas, assustados!), outra Coroa, a de
Petrópolis, a Cidade Imperial.
Autores:
Edson Pereira, Clark Mangabeira e Victor Marques
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