ANÁLISE DO GRUPO ESPECIAL
Eugênio Leal 23/03/2011 14h48min
Seguindo a avaliação dos desfiles do carnaval 2011, passo agora ao Grupo Especial.
SÃO CLEMENTE
Ainda não é uma escola pronta para buscar os primeiros lugares, mas mostrou uma enorme evolução em relação a seus últimos carnavais. O trabalho do carnavalesco Fábio Ricardo foi de bom gosto e leveza, com um sopro de criatividade. O cantor Igor Sorriso fez um desfile de gente grande! Ele tem tudo para ir muito longe.
A escola ainda peca na questão dos componentes - que não passam tanta energia quanto se faz necessário nos desfiles atuais. Faltou uma coordenação melhor de desfile para evitar a abertura de buracos durante a apresentação do casal de mestre-sala e porta-bandeira para os módulos de julgamento.
IMPERATRIZ
Começou muito bem com uma comissão de frente inspirada, que soube carnavalizar o difícil tema da medicina. Além dela, funcionaram bem a bateria (terceiras e caixas maravilhosas) e o canto dos componentes - embalado por um samba valente e um bom carro de som.
A Imperatriz voltou a ser uma escola tecnicamente correta, mas pecou no visual pouco apurado e no desenvolvimento precário do enredo. Faltou inventividade. Conseguiu uma vaga nas campeãs porque o ano foi atípico. Ainda precisa melhorar para voltar a brigar pelos primeiros lugares.
PORTELA
A majestade do samba não merece um desfile como esse. Foi o pior do ano. Alegorias inacabadas (não, elas não queimaram no incêndio), enredo sem mensagem e desenvolvido de forma "careta", comissão inexpressiva. Faltou capricho em muitos setores.
De positivo apenas excelente casal de mestre-sala e porta-bandeira e a execução do samba pela bateria e pelo intérprete Gilsinho. Um belo casamento musical para defender uma obra apenas mediana.
TIJUCA
Excelente apresentação que sofreu inevitável comparação com o desfile de 2010. Todo o público ficou esperando as sacadas de Paulo Barros. E elas estavam lá, mas não conseguiram causar o mesmo impacto do desfile sobre o segredo. O chão da escola, que deu show nos ensaios técnicos, pareceu "travado" no desfile e só melhorou na parte final.
A Comissão de Frente conseguiu a interação esperada, mas se transformou em carro coreografado deixando as pessoas que estavam no nível da pista de lado. O truque das cabeças foi muito repetido e era fácil de ser desvendado. Foi ótimo, mas perdeu para 2010.
Apesar disso, mais uma vez, a escola mostrou sua competência e marcou um estilo de carnaval bem definido. Ela tem a sua cara, seu jeito. E isso é muito bom, mas não significa que os outros sejam obrigados a segui-lo.
VILA ISABEL
A Vila foi bonita, mas comportada. Rosa Magalhães reafirmou seu bom gosto e mostrou capacidade de fazer carnaval em escala maior. Um dos entraves, como esperado, foi o enredo. A enésima viagem pela história das civilizações que termina em carnaval não conseguiu arrepiar os cabelos de ninguém. A leitura era clara, mas o público clama por novidades!
A Comissão de Frente foi a mais estranha de todo o carnaval. O que era aquela medusa? Porque Thatiana Pagung só saía lá de dentro depois da apresentação para os jurados? Um equívoco dos grandes.
A bateria mostra que vive uma crise de identidade: não toca o ritmo tradicional da escola nem repete as inovações que Mestre Átila apresentava no Império Serrano. É complicado mexer numa bateria com tanta essência.
É importante destacar o belo casal Rute e Julinho e a garra dos componentes.
MANGUEIRA
Impressionante a capacidade da velha Manga de reverter situações contrárias a ela. O atraso inexplicável e o discurso mal projetado do Milton Gonçalves irritaram o público, mas quando a escola finalmente pisou a avenida, tudo mudou.
A Comissão de Frente não usou a alegoria apenas como palco, mas como cenário para a teatralização que executou com maestria, resumindo a trajetória de Nelson Cavaquinho no morro. Os malandros saltando como gatos pelos tetos dos barracos estavam sensacionais!
Gelo quebrado, a Mangueira foi contando seu enredo com uma clareza que poucos esperavam. E nada como um enredo sem Egito, Grécia, Roma, etc. Destaque para os carros da Praça Tiradentes e do Zicartola.
Quando a bateria chegou e marcou o samba na sola do pé, veio a explosão consagradora. O resto do desfile serviu para curtir a beleza do samba e reverenciar a história de um ícone da MPB.
UNIÃO DA ILHA
A tricolor insulana comprovou que poderia disputar o carnaval. Se fosse julgada, a escola estaria com certeza no desfile das campeãs. Seus carros alegóricos estavam intactos, exibindo todo o bom gosto do carnavalesco Alex de Souza. As fantasias que foram refeitas poderiam gerar a perda de alguns décimos, mas estavam dignas e representativas.
De resto, a escola estava excelente! Vibrante, colorida, original. Não foi à toa que levantou a platéia na Apoteose. Repito: foi um erro não tê-la julgado.
SALGUEIRO
Quando a Comissão de Frente chegou à Praça da Apoteose todo mundo na avenida tinha certeza de que ali estava a campeã. Era um desfile perfeito em todos os aspectos: Samba, Enredo, Alegorias, Fantasias, Comissão de Frente, Mestre-Sala e Porta-Bandeira, Harmonia...
Mas o Salgueiro acabou pagando pela mania de fazer carros que ocupem todos os centímetros da pista. Aliás, não é a primeira vez que isso acontece. Será difícil encurtar as laterais em meio metro? Os problemas com a entrada de quase todas as alegorias na pista obrigaram a escola a ficar dez minutos parada e jogaram um desfile campeão no lixo. Uma pena!
MOCIDADE
Alguns torcedores não entenderam a palavra decepção que eu usei para descrever o desfile da verde e branco. Diante da animação dos componentes e dos elogios ao barracão da escola, eu esperava um desfile para, quem sabe, brigar pelo título. Acreditava mesmo que isso fosse possível, daí a decepção.
A Mocidade não me encantou em momento algum. Desde a Comissão, passando pelo casal, Alegorias, Fantasias, Enredo, Bateria, Samba. Tudo podia ser melhor. Não que tenham ido muito mal, mas apenas passaram sem despertar atenção. Muito pouco para uma escola do tamanho da Mocidade. Acredito que a direção tenha percebido isso, pois já planeja mudanças.
GRANDE RIO
Um dos melhores momentos deste carnaval. Pouca gente imaginava que a Grande Rio pudesse produzir um desfile dessa qualidade em menos de um mês. Uma prova de superação gigantesca que deve ter feito muito bem à escola. Além de tudo o desfile foi debaixo de um dilúvio, mais uma provação depois do incêndio. Muita garra, muita emoção e a prova de quando se tem vontade e união tudo é possível.
PORTO DA PEDRA
Um desfile bonito, de bom gosto, colorido e passando com perfeição um bom enredo. Pena ter sido tão frio. Falta emoção ao Porto da Pedra. E não é de hoje. Destaque positivo também para a muito boa bateria de mestre Thiago Diogo.
BEIJA-FLOR
A imagem que não sai da minha mente é da escola flutuando na avenida. Uma aula de canto e evolução. O tal "desfile de escola de samba" que o Laíla defende, embora seja mal interpretado pelo grande público. Neste aspecto a Beija-Flor voltou a ser a melhor do carnaval, com larga vantagem. Fruto da diminuição no volume das fantasias.
Mas não foi um desfile perfeito. A Comissão de Frente não me convenceu: um carrinho de brinquedo puxando uma mesa com um rádio. Componentes que subiam na mesa pulando (alguns caíram). Alguns se emocionaram com a atuação do menino. Não fui um deles. O casal foi prejudicado pela pista escorregadia e onde eu estava fez uma apresentação apressada e básica.
A Beija-Flor foi competente no acabamento de suas alegorias, mesmo que para muitos a concepção artística delas tenha sido de gosto duvidoso. Elas estavam completas e luxuosas. O enredo teve leitura fácil, casando-se com a letra do samba que a bateria se propôs a impulsionar com muito vigor. Uma bateria que serviu ao desfile e não a ela própria. É importante que se pense nisso.
Ah... e teve a presença de Roberto Carlos, que para mim era mais um homenageado, mas para a maioria é um mito. Isso ajudou a "levantar o astral" no encerramento do desfile.
http://www.sidneyrezende.com/noticia/125647+analise+do+grupo+especial
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