A Unidos da Tijuca faz carnaval ou espetáculo?
Por Bruno Tenório, em 22 de março às 18h01
Logo após o anúncio do vencedor do carnaval carioca, começaram especulações de toda sorte sobre os bastidores da organização da maior festa popular do mundo. Das arquibancadas da Sapucaí era possível escutar os coros de protestos que não poupavam organizadores e patrocinadores.
A Unidos da Tijuca não pretende entrar nessa polêmica e saúda todas as escolas que fizeram esforço para que a festa não perdesse o brilho. Entretanto, quando a discussão é conceitual e estética, percebesse como o inovador e o moderno assustam. Grande parte do carnaval carioca ainda se encontra preso a um círculo vicioso, blindado sob o manto da tradição. Durante uma década a nossa agremiação foi atacada pela afirmação de realizarmos tudo, menos carnaval.
Consideramos de suma importância a defesa da “tradição e da cultura do samba”, mas serão tradição e cultura algo de estático?
A história cultural brasileira é repleta de casos de castração de genialidades e até objetos inovadores, a exemplo da “inteligensia” revolucionária cubana que proibiu a guitarra elétrica na terra de Fidel Castro. Os discos dos Beatles foram banidos por serem considerados “células rítmicas imperialistas”. Aqui em terras brasileiras, músicos geniais como Elis Regina, Edu Lobo, Jair Rodrigues e Gil, obcecados pela genuína tradição da música popular (em um país tão miscigenado) caíram na armadilha do discurso da tradição. Em 1967 chegaram a fazer uma passeata contra a “invasão” da guitarra elétrica na música brasileira. Hoje isso seria piada. No campo das artes cênicas, a patrulha não cansou de bater em Nelson Rodrigues. Atualmente, ele é a principal referência do teatro brasileiro.
Voltando ao carnaval carioca, quando Joãozinho Trinta verticalizou o carnaval com grandes e imponentes alegorias, além de volume, colorido e luxo nas fantasias, foi criticado por criar o que chamaram de bolo de noivas. Logo ele, depois de Fernando Pamplona, o grande revolucionário do carnaval espetáculo com direito a nudez e enredos altamente polêmicos.
Paulo Barros, um dos nomes mais comentados para o bem e para o mal, é o mais polêmico da atual safra de carnavalescos. Hoje ele faz um espetáculo que eletriza o público na Sapucaí, tirando o carnaval do engessamento. Ir para a Avenida só para ver pluma não é atrativo. As novas gerações já não freqüentam escolas de samba ou Avenida como antes.
A Unidos da Tijuca é uma escola que pensa no presente olhando para o futuro, mas com enorme respeito as raízes. Mas terá papel preponderante para atração de jovens para o mundo do carnaval. A Tijuca tem uma equipe jovem em seus quadros pensando em transformar a agremiação em um empreendimento moderno e antenado aos anseios da sociedade. O público, por meio de pesquisas midiáticas, elegeu a Unidos da Tijuca a grande campeã. Fica portanto um dilema: a quem agradar, grupos fechados imobilistas ou ao público? Ficamos com o público que passa o ano esperando o próximo carnaval e um espetáculo inesquecível. Paulo Barros, o homem que personificou toda essa mudança, tem e terá todo o respaldo do presidente Fernando Horta para seguir na modernização do carnaval do Rio de Janeiro.
A tradição pode evoluir para a saudade de um futuro que nos cabe fazer acontecer, em vez de apenas saudade de um passado que nos mantém ancorados, como barcos que apodrecem por falta de uso, falta de vento, falta de visão. Portanto, a contraposição e contradição de idéias são importantíssimas para o avanço de qualquer segmento artístico. Desse modo, podemos concluir que a Unidos da Tijuca é carnaval, é espetáculo e, sobretudo, inovação.
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