Enredo 2017
Ivete do rio ao Rio!
Meu nome é Ivete Sangalo, e em 2016 tive a honra de ser escolhida para
enredo da Acadêmicos do Grande Rio, E é para vocês que eu conto a minha
história, feita de amor e muita paixão...
Eu nasci em Juazeiro na minha amada Bahia, e guardo na memória o chão
rachado da caatinga, a poeira das estradas, o imenso Rio São Francisco, cheio
de carrancas coloridas protetoras de seus pescadores. Desde pequena ouvi
contarem da lenda da Serpente dos Olhos de Fogo que dizia:
(...) Havia uma bela menina, que foi se admirar no espelho d’água do rio
e surpresa com sua beleza, esqueceu da hora da ave maria, e por isso foi
transformada numa enorme serpente que mergulhou e foi se esconder na Ilha
do Fogo.
Esta serpente assusta pescadores, navegantes e lavadeiras, mas Nossa
Senhora das Grotas amarrou a serpente em seu ninho com três fios de seus
cabelos. Dois fios já se partiram criando inundações terríveis, e seu último
fio romper inundará de veza região de Juazeiro e Petrolina.
Em meus sonhos, nossa Senhora colocou este ultimo fio em minha mão para
dominar a serpente e o mundo com meu canto e minha energia!O povo deste lugar
reza muito em romarias, enfeita as barcas com carrancas para proteger
pescadores e navegantes, e segurando este fio eu e a Grande Rio contamos uma
bela historia, de festas, carnavais e das minhas muitas viagens pelo mundo.
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Lembro-me de meus pais como um casal apaixonado, ele caixeiro viajante,
de origem espanhola, trazendo da Espanha belos violões cheios de fitas. Minha
mãe era pernambucana, dona de uma voz afinada, do gingado do frevo e da paixão
pela vida. Reuniam os filhos e amigos para saraus musicais e nas festas de São
João dancei quadrilha... E nos carnavais pulei Na folia de clubes e blocos de
caretas. Juazeiro me fez sertaneja de coração, e essa infância musical e
festeira, junto com o amor de meus pais, guardo ate hoje na memória.
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Guardei na memória o chão seco de Juazeiro, mas também as estrelas do
céu azul que me acompanharam ate Salvador, para onde me mudei para poder
concluir meus estudos.
Lembro bem do trio elétrico de Moraes Moreira, escutando “Pombo Correio”
ao som daquela guitarra estridente... E fiquei sabendo que a Fobica de Dodô e
Osmar já arrastavam o povo fazia tempo! Com o tempo me deixei levar pelo mar de
ritmos, batuques dos blocos, bandas e trios elétricos, pois Salvador era um
universo mágico, um caleidoscópio musical!
As ruas de Salvador, na folia, tinham de tudo, a tradição dos blocos de
índios, como o “Apaches do Tororó”.Os blocos afros de raízes africanas como o
Ile Aye e o Olodum, e o Afoxé Filhos de Gandhy com sua mensagem de paz. A
cidade se vestia de cores ear se enchia com o som dos tambores, Os mistérios
dos orixás embalando os foliões,assim era a Bahia de Todos os Santos...
Aquela cidade de lindas praias e ladeiras inclinadas, de gente tão
bonita, me seduziu. E a majestosa Igreja do Senhor do Bonfim, a capoeira, o
samba de roda, as baianas de acarajés, tantas belezas amarradinhas nas fitas do
Bonfim...Mergulhei inteira na folia baiana!
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Precisando ganhar dinheiro e ajudar a família, fui cantar com meu violão
em barzinhos, no momento em que surgia o fenômeno do axé-music. Todos cantavam “Fricote”,
conhecida como “Nega do Cabelo Duro” - de Luiz Caldas e também a musica
“Faraó” com Margareth Menezes,que levou o Olodum ao sucesso nacional falando
das raízes negras e egípcias.
E o axé music tornou-se sucesso nacional com “Canto da Cidade” e sua
rainha Daniela Mercury. Foi neste furacão musical que encarei na Micareta do
Morro do Chapéu, no meu primeiro trio elétrico!
Então fui convidada para ser cantora da Banda Eva no carnaval de
Salvador mergulhando no mar de sonoridades e ritmos que já conhecia, e
encontrei a Timbalada, me embalando ao som daqueles tambores e timbaus
melodiosos... O axe music com o som das guitarras elétricas, berimbaus, agogôs
e tambores já ecoava por todo Brasil!
E decolamos com sucessos que ate hoje estão ai na memória nacional e que
revelam um lado bem romântico, mas também a energia que levava nosso trio
elétrico pelas ruas de Salvador... “Alo Paixão”,“Flores”, “Beleza Rara” e
“Carro Velho”. A nave da pequena Eva cruzou os céus do Brasil levando o ritmo
do axe music além do infinito, consolidando-se como um gênero musical poderoso.
Na virada do milênio mais uma vez o destino me desafiava, da astronave
reluzente pulei para pilotar minha carreira solo!
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Foi numa quarta-feira de cinzas que me desliguei da Banda Eva, em 1999,
colecionando sucessos como “Canibal” e comecei a ampliar meu repertorio. O
suingue da minha voz permitia me movimentar por vários gêneros, contando com
parceiros musicais que ate hoje são grandes amigos e companheiros de estrada!Em
2002 a musica “Festa” seria um de meus maiores sucessos, e “misturando o mundo
inteiro”, trazendo o povo do gueto, tornei-me uma estrela nacional. Iniciando
mais um tempo de alegria, comemorei meus dez anos de carreira cantando Chica
Chica Bom Chic, relembrando a eterna Carmem Miranda.
E para divulgar nossa cultura participei de grandes shows
internacionais, reunindo multidões,eu me revelei em novos papéis, ampliei meus
horizontes atuando em filmes, novelas e apresentando programas de televisão,
sem abandonar meu universo musical.E a Mãe Preta trouxe uma energia muito
forte, das mães baianas e da própria maternidade.
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Já são mais de 20 anos de estrada... Foi então que a Acadêmicos do Grande
Rio me chamou!
Reencontrei o Rio de Janeiro e suas belezas naturais, e seguindo para o
subúrbio encontrei o forro da feira de nordestinos, a multicolorida feira de
Caxias, um pedaço do nordeste na zona oeste do Rio!Fiquei extasiada e
reencontrei muitos ritmos nesta cidade, o funk, o samba e o pagode, e Caxias se
tornou a minha real fantasia!
E juntos levaremos para a avenida os segredos do Berimbau Metalizado,
puro carnaval baiano com uma batida heavy metal. Seduzida pelo calor desse povo
cantei “Muito Obrigado Axe” saudando em terras cariocas os orixás de minha
Bahia tão amada!
Encontrando o ultimo trio elétrico encantado, senti que a Sorte Grande
havia chegado!
O amor que sinto pela musica e que nunca me deixou, é o amor de meus
fãs, meus querubins e foliões pipocas, que se misturam a esta multidão
alucinada nas arquibancadas, celebrando a união feliz de dois universos
musicais – com o gingado do malandro carioca e o ritmo sensual baiano -
sob os olhos da serpente que se transformou no símbolo do infinito, inundando a
avenida e levantando a poeira de estrelas!
Tudo isso é...
Ivete de rio a Rio!
Ivete de rio a Rio!
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