Enredo 2017
"As Mil e Uma Noites de Uma 'Mocidade' Prá Lá de
Marrakesh"
Introdução
Todo conto é
um canto de sobrevivência, de resistência, uma história de amor. Um conto pode
durar uma hora, um dia ou mil e uma noites. Os fios que tecem uma narrativa
encantam ao recontar histórias do coração, de reconciliação - lições que levam
da vida. Todo mundo tem uma história para contar, essa é a nossa história.
E
todos nós aqui, na solidão desértica da nossa amada Zona Oeste, a olhar as
estrelas do céu, tão ávidos e sedentos por ver novamente, no firmamento, a
nossa mais querida estrela reluzir, brilhante dentre todas as outras do
universo.
O
calor que banha de suor o nosso corpo e que aquece nossa região, volta e meia,
nos traz à mente imagens que hora nos confundem e, em outros momentos, nos
fazem delirar numa overdose de desejos. Loucuras de paixão se misturam com
lembranças de bons ventos que um dia sopraram e refrescaram a nossa memória,
como em um Saara imaginário que varre, ventando sem fim, tal qual uma oração, o
refrão de um samba que me inspira assim...
"Nos
meus devaneios,
Quero
viajar...
Sou
a Mocidade,
Sou
Independente,
Vou a
qualquer lugar..."
Em devaneios, a caravana parte.
Nela, toda a Mocidade, inebriada de fascínio na imaginação que flui, assim como a brisa que alisa o deserto, na noite que faz sonhar, busca no escuro céu uma guia - sua identidade estelar. Esse vento, que varre as dunas, vem então semear as histórias encantadas que, um dia, foram sopradas no tempo. Desprendidas das areias de tantas terras, se espalharam pelo mundo, se misturando por cá; viajaram aos quatro cantos, num vira e mexe, aqui e acolá, perto e longe, pra lá de Marrakesh, por todo o povo de Alah, como se fosse, a Arábia, um só lugar. Em um passe de mágica, o dia se faz raiar. Ao refletir sua luz no deserto inclemente, o Sol teima em queimar a nossa cara que, porém, em um facho sorridente, deixa a caravana passar e seguir em frente, pois, para
a
Mocidade, não existe mais quente.
Seguindo
a miragem que nos estampa o olhar, eis que surge um reino mágico - exótico e
singular - que nos abre suas portas e nos convida a entrar. O que a princípio
espanta os olhos sonhadores que o vislumbram, logo os encantam e os deslumbram
quando se estende no horizonte o país, tal qual um tapete mágico para a
Mocidade desfilar.
Yalla...
Assim se descortina uma grande praça, o teatro de ilusões, o circo do povo,
onde os halakis - contadores de histórias e herdeiros de Sherazade, ainda nos
encantam, aumentando pontos de conhecidos contos que nos hipnotizam como
serpentes ao som das flautas de seus encantadores. Os contos roubados se tornam
possíveis diante do caleidoscópio que se forma por sua cultura plural e
misteriosa, impregnada de tradições e heranças do passado, de povos que por ali
pisaram, deixando marcas no seu viver.
Entre
palácios, medinas e labirintos de mascates, a herança fenícia da arte de
negociar se encontra nos saberes e sabores dos temperos coloridos que exalam,
de suas tajines e do refrescante chá de hortelã, aromas de tantas influências
de outros reinos que se fundem por cá, que reluzem nos adornos e nas lanternas,
nas taças e nas bandejas que imitam o ouro, e nas joias que enfeitam os véus de
suas mulheres, cobertas de respeito e mistérios. Tudo isso se entrelaça a uma
trama que tece belos tapetes: linhas que refazem caminhos, histórias sem fim,
como se, no esfregar da lâmpada dos desejos, a nossa genialidade nos fizesse
voar pela mágica de Aladim.
A
cada portal das cidades que transpomos é como se fôssemos guardiões da
palavra-chave, um abre-te sésamo, abra-te mente, abra-te Marrocos em seu mundo
de possibilidades, revelando a riqueza cultural do seu povo, o seu mais valioso
tesouro. Tesouro este, feito, não somente de ricos adornos, mas também de
preciosos segredos de sua gente, receitas de bem viver e de valores que muitas
vezes desprezamos; lições para se aprender: no meio do deserto, um pote de
água, mais do que um de ouro, pode valer.
Devemos
ser firmes como o camelo e guardar forças para seguir em frente ao atravessar
os Saaras da vida. Entender o sol, o mesmo que arde e queima, e ser a fonte de
energia que acende o progresso, ser o vento que sopra a tempestade e a força
que move o futuro. De suas areias, aparentemente estéreis, faz brotar riquezas
das entranhas da terra que enriquecem este reino encantado que desperta em nós
a esperteza de Ali Babá ao preservar um tesouro em suas profundezas.
Segue
a caravana, em sua mágica aventura, a conduzir nossos sonhos onde o azul do
límpido céu, na imensa tenda de seus berberes, encontra com o plácido anil do
Atlântico, cada vaga devolve conchas à praia, um colar de contos de areia e
mar. Cantos que nos seduzem, encantos de sereias como as tantas aventuras de
Simbad ou de outros tantos marujos que ousaram velejar.
E
nesse vai e vem, ondas de histórias, segredos guardados no mar, de mil e uma
ilhas, terras e mitos que ouvimos contar. Mitos de batalhas e glórias, de
perdas inglórias, de cheganças e partidas, como fora El Jadida, um dia Mazagão
perdida, pela qual lutou o jovem Rei Sebastião, com espada e sangue sobre as
areias e as pedras do cais, que se cobrira de mistério ao desaparecer, nas
brumas do infinito oceano, para não ser visto jamais.
Entre
tantos contos e encantos, tantas histórias ouvidas nessa odisseia onírica que
nos leva em labirintos fantásticos, nos mostra agora os jardins do saber,
Rhiads do conhecimento um dia semeado pelas mãos de uma mulher que, por trás
das muralhas, estão protegidos pela fé e bênção de Alah. Residem até hoje
ensinamentos, descobertas e invenções para a humanidade nas escrituras
milenares, dos estudos da Terra aos mistérios dos astros; dos cálculos da
matemática à alquimia; sortilégios, segredos escondidos no templo da sabedoria;
magos da cura e da cirurgia; palavras que voam dos livros ao mundo e que soam
familiares aos nossos ouvidos.
E
assim, como as areias da ampulheta que nos alertam sobre o tempo, é chegada a
hora do devaneio se dissipar desse sonho e, enfim, despertar em nossa bagagem,
na mente, histórias para se lembrar... Tantas imagens, tantas miragens e
tantos outros pontos aos contos acrescentar. O exótico se faz agora um velho
conhecido - afinidades e semelhanças se abraçam, diversidades e diferenças se
respeitam sob a linguagem universal da música na apoteose dessa aventura como
um oásis de felicidade.
Viajar
é muito mais que encontrar um destino, viajar realmente é reencontrar novos
mundos. Fizemos do Saara uma passarela, e no reino do Marrocos, o nosso conto
transformou minutos em mil e uma noites de alegria e prosperidade, ao vestirmos
a fantasia, tecemos um tapete mágico onde desfilaram os sonhos da Mocidade . Se
a nossa música também veio da África, nossas bandeiras, estrelas gêmeas
brilharam juntas no coração de nossa gente.
E
o calor?
Ah! Esse eu
posso garantir que é humano e que, ao som do batuque do samba, não existe mais
quente. Se você quiser, é só se unir com a gente que vamos mostrar um reino
diferente, bem pra lá de Marrakesh, um lugar com um povo encantado que igual
não se tem, que vale mais que um pote de ouro, é o nosso tesouro - nossa gente
da Vila Vintém.
Esse
papo já tá qualquer coisa... Inshalah!
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