Rio -  A virada de mesa da  Liga das Escolas de Samba dos Grupos de Acesso (Lesga) no Carnaval deste ano já está na mira do Ministério Público. A entidade não rebaixou Rocinha e Paraíso do Tuiuti, as duas últimas colocadas, como previa o regulamento. Por isso, o título da Inocentes de Belford Roxo não é reconhecido pela Prefeitura do Rio de Janeiro.
Para foliões da Inocentes, críticas à vitória são preconceituosas | Foto: Paulo Alvadia / Agência O Dia
Para foliões da Inocentes, críticas à vitória são preconceituosas | Foto: Paulo Alvadia / Agência O Dia
Como antecipou o ‘Informe do DIA’, a administração municipal ainda analisa se vai homologar o resultado. Por conta do desrespeito ao regulamento, dois representantes da Riotur se recusaram a assinar o documento com o resultado. O título da escola da Baixada pode ser cancelado caso fraude seja comprovada pelo Ministério Público ou Polícia Civil.
O promotor Eduardo Slerca, da 1ª Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva de Defesa da Cidadania do Ministério Público (MP), já analisa a suposta manipulação de resultado e a suspensão do rebaixamento. Ele pode entrar com uma ação civil pública contra a entidade esta semana.
Representantes das escolas do Grupo A vão encaminhar relatório ao MP. “No Desfile das Campeãs (neste sábado), vamos cobrar do prefeito Eduardo Paes a anulação do resultado”, enfatizou Olivier Luciano Vieira, o Pelé, presidente da Acadêmicos do Cubango, Niterói. “Quero ver o mapa de notas. Estive na Lesga hoje (sexta-feira) e disseram que estava com o presidente. Caso não me apresentem, também vou denunciar ao MP”.
Reginaldo Gomes, presidente da Lesga, garante que a apuração dos desfiles “foi feita com toda lisura possível”. Ele argumenta que não rebaixou nenhuma escola porque acatou pedido de oito presidentes de agremiações. Ele prometeu divulgar em 20 dias o mapa das notas.
'Fé no futuro'
Eles trabalharam pela escola, sambaram na Avenida e explodiram de alegria com o título da Inocentes de Belford Roxo. Os Inocentes de coração se revoltam com as suspeitas de fraude no resultado.
“É discriminação pura, porque somos da Baixada Fluminense. A Beija-Flor e a Grande Rio já passaram por isso”, queixa-se a passista Jacqueline Gama, 27 anos, há quatro na escola. “Tanta polêmica é coisa que saiu da cabeça do prefeito Eduardo Paes, uma bobagem. É ciúme de quem não gosta de Belford Roxo”, atacou Athaide Plínio da Costa, 75 anos, integrante da Velha Guarda.
Nesta sexta-feira, o clima na cidade era de “fé no futuro”, expressão estampada na parede da quadra da tricolor de Belford Roxo. Integrantes da escola não desgrudam do noticiário sobre a polêmica. Desde meados do ano passado, comentava-se na Internet que a Inocentes seria a campeã. “A gente sabe que é despeito, dor de cotovelo de quem ficou para trás”, reagiu Gabriel Melo, 20, passista e morador em Nova Iguaçu Iguaçu.
“É chororô de perdedor e isso me deixa muito triste. Espero que não tome na mão grande o título que levamos anos para conquistar”, fez coro a diretora do Departamento Feminino da Inocentes, Margarida Pereira da Costa.
Reunião vai definir as novas regras
Segunda, as escolas do Grupo A discutirão com a Riotur, a organização do Carnaval nos grupos de Acesso. “Se descumpriram o contrato, o mais certo é que o resultado seja anulado”, finalizou Gusttavo Clarão, presidente da Viradouro.
A apuração no Acesso sempre foi cheia de problemas. Em 2002, a a Vila Isabel ganhou, mas não levou o título no Grupo A. Mesmo após confirmação de erro de contagem de notas, foi a Acadêmicos de Santa Cruz que subiu.
Em 2011, um jurado escreveu as notas de outro. O caso virou inquérito na 6ª DP (Cidade Nova).