terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

GRES MOCIDADE INDEPENDENTE DE PADRE MIGUEL (RIO DE JANEIRO/RJ)

A Dona do pavilhão




Remba, primeira porta-bandeira da história da Mocidade junto com Helena do siri, recorda os momentos que a fizeram a mulher mais importante da Verde-e-Branco.



Ela está longe de ser uma estrela convencional. Uma dama do povo, da favela, do asfalto, da falta de censura ao contar suas histórias. O cabelo cortado com listras desenhadas no couro cabeludo entrega a nuance jovial de uma guerreira, apesar de já ter até bisneto. Língua afiada, sorriso fácil e largo, um repertório de palavrões sempre colocados na hora certa, Remba – preste a completar 74 anos – é, sem dúvida, a maior figura feminina da Mocidade Independente. O motivo reside na própria história: foi ela a primeira porta-bandeira da escola, a condutora do pavilhão Independente desde os tempos de bloco. Era década de 50 e, naquela Padre Miguel ainda virgem aos olhos do centro do Rio, o Independente Futebol Clube, time que fez despontar a moçada, encantava as moçoilas do bairro. Remba, ou Elizete Cândida da Silva, seu nome de batismo, era uma delas. 


No quintal de Dona Maria do Siri, onde acontecia a comilança após as pelejas do time de várzea, a então adolescente ajudava a preparar as feijoadas dos boleiros, sempre seguidas de batuque. O time virou bloco e a festeira Remba, habilidosa no riscado com os pés, tratou de ser a porta-estandarte do time. Vinha à frente saudando o bairro. Quando a brincadeira ficou séria e a escola de samba surgiu – 1955 – ela, claro, assumiu o pavilhão daquela Mocidade menina. Dividiu a função com Helena do Siri, filha de Dona Maria, outra protagonista dos primeiros anos.

A paixão, pelo samba, entretanto, é anterior àquele time de bambas. “Meu pai tocava cuíca na Unidos de Bangu, minha mãe era baiana. Eu desfilava de baianinha com cinco anos”, recorda. E o apelido, de onde surgiu? Nascida na Rua Bangu, no bairro de mesmo nome, Zona Oeste do Rio, ela conta que, quando pequena, sua mãe a colocava numa bacia, enquanto arrumava a casa. Envolvida nas brincadeiras, a pequena fazia movimentos como se “remasse” ali dentro, originando o apelido de “Rema”. Mais tarde, já na Mocidade, Rema virou Remba sem que nem ela mesma se desse conta. “As pessoas me chamavam errado”, diz. Ficou Remba e fim de papo, nome que, hoje, é sinônimo de respeito e força entre os componentes. Apesar da inegável importância, a sambista dispensa qualquer espécie de beija-mão ou reverências emplumadas. Quer apenas reconhecimento para os ilustres independentes da antiga, além de prezar um batuque improvisado, cerveja gelada, e as lembranças das glórias passadas.



Marrenta por convicção, já arrumou encrenca com meio bairro de Padre Miguel, e até mesmo com a cantora Elza Soares – hoje, madrinha de bateria da Mocidade – em um desfile. Foi no ano de 1975. Naquele carnaval, “O Mundo Fantástico do Uirapuru”, o samba da escola “atravessou” na avenida e Remba atribuiu a culpa à Elza. Resultado: correu atrás da cantora para tirar satisfação e não economizou em palavrões. “Eu queria meter a porrada!”, confessa. Hoje, 35 anos depois, a poeira baixou e as duas recordam o causo às gargalhadas. Esta vocação para uma boa briga, aliás, só não é maior que a de namoradeira. Ela não faz cerimônia para dizer que teve muitos namorados e que suas pernas grossas, literalmente, “abalavam Bangu” naqueles tempos. “Os coxões de dona Elizete eram famosos, muitos marmanjos iam aos ensaios só para apreciá-la”, entrega Wandyr Trindade, o Macumba, vice-presidente executivo da Mocidade e titular absoluto no antigo Independente Futebol Clube.




“Elizete é o cacete, sou Remba!”, desconversa ela, para então, recordar que, em 1965, quando brilhava ao lado do mestre-sala Carlinho, chegou a ser capa de um disco todinho dedicado à Mocidade. O LP em questão, “Mocidade Independente”, anterior ao primeiro voltado a todas as escolas de samba – que data de 1968 – foi produzido por Haroldo Costa e lançado pela Musidisc. O projeto misturou sambas de enredo e de quadra, primeira vez que uma escola fora do então quarteto das grandes – Mangueira, Portela, Salgueiro e Império Serrano – ganhou tal homenagem. À época , a bateria da Mocidade só trazia notas 10 em seu currículo e encantava a cidade, mas a porta-bandeira diz que também ela só cravou notas máximas nos quase 20 anos que rodopiou a bandeira alviverde. Do título que levou a Mocidade à elite – “Apoteose ao Samba” (1958) – até a década de 70, ficaram gostosas saudades: “Descemos pro Centro com força e garra, deixamos cair e nos tornamos uma das melhores”, relembra.

Confira o vídeo abaixo:



FONTE: Revista Mocidade Independente 2010 / por Fábio Fabato e Vicente Magno.

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