A avaliação ganharia mais significado político e pedagógico, mostrando-se coerente com a função formativa que dela se espera, se não fosse discutida de modo isolado das demais categorias do trabalho escolar
A escola é um dos espaços que mais sofrem as consequências das mudanças que ocorrem na sociedade. Advoga-se que as escolas devem rejuvenecer seus objetivos e processos de trabalho tidos como defasados em relação às demandas do mercado. Espera-se que respondam com prontidão aos desafios impostos pelos novos contextos sociais, que implicam mudanças paradigmáticas na forma de ensinar, aprender, avaliar. Mesmo concordando com essas premissas, não podemos abster-nos de examinar com mais rigor essas ideias, de modo a superar análises apressadas e superficiais dos fenômenos sociais em geral e dos educativos em particular.
Dada a multiplicidade de feições dos problemas educacionais que somos desafiados a enfrentar e a pressão para fazê-lo de pronto, exercida via processos de avaliação externa, temos tido dificuldades para refletir sobre a pertinência desses processos e mais ainda sobre a eficácia das alternativas indicadas como solução. Muitas delas nos confundem e fazem pensar que, quanto mais mudanças são instituídas, mais os problemas educacionais permanecem não-resolvidos.
O distanciamento dos órgãos emissores das políticas centrais não impede que atores e organismos sociais construam resistências que têm possibilitado conquistas significativas, ao desacelerar a volúpia da implantação do paradigma avaliatório, permitindo a reorganização de forças, a negociação de novos pactos e a recuperação por parte dos setores progressistas de alguma governabilidade sobre a situação (Freitas, 2002; Dias Sobrinho, 2005).
A motivação intrínseca para estimular ações de alunos, docentes e instituições, com vistas à superação de seus próprios escores, continua cedendo lugar, via de regra, a estímulos extrínsecos, de natureza pontual, sem que para isso se levem em conta as motivações e os interesses a que atendem. Assim, os novos paradigmas permanecem perpassados por lógicas do passado, em contextos que demandam mudanças com vistas a um outro futuro.
O EMARANHADO DE NÓS NOS PROCESSOS DE AVALIAÇÃO
No novo contexto social, ainda é precária a relação entre sociedade e avaliação. Para que essa prática seja incorporada à agenda das pessoas e instituições, é preciso esclarecer a importância de seu uso. Avalia-se exaustivamente tudo e todos, por motivações distintas, mas as medidas educacionais (resultados dos estudantes) continuam informando que os alunos não têm aprendido aquilo que as escolas pensam estar ensinando...
A avaliação, para cumprir os fins educativos dela esperados, ao menos no plano discursivo, precisaria perder essa centralidade apresentada na cena política. Ganharia mais significado político e pedagógico, mostrando-se coerente com a função formativa que dela se espera, se não fosse discutida de modo isolado das demais categorias do trabalho escolar. Quanto mais se quiser a avaliação a serviço da aprendizagem, mais atenção deverá ser dada ao "conjunto da obra", e isso envolve uma análise da natureza do trabalho pedagógico realizado em sua inteireza.
A cultura de avaliação que tem dominado a cena pedagógica permanece centrada no aluno e no quanto se esforçou por aprender aquilo que lhe foi "ensinado", tal como foi ensinado. A forma de organização da escola, seriada ou mesmo ciclada, não tem posto em xeque devidamente o trabalho pedagógico, o qual continua marcado pela fala professoral, e esta acaba ensinando, mesmo que não o pretenda ou sequer se dê conta disso, que há um jeito certo de aprender.
Ensina-se que as aprendizagens requeridas dos alunos devem ater-se à eficácia instrumental que eles precisam desenvolver para ter lugar e êxito no mercado competitivo em que se transformou a sociedade. A qualidade reveste-se de forte tom meritocrático, individualista, competitivo e orientado pelo interesse mercadológico. A prova de que o aluno aprendeu é tornada visível pelo resultado nos exames nacionais de desempenho, que têm sido a tônica das políticas públicas de avaliação da qualidade das escolas e dos projetos educacionais.
A avaliação, para cumprir os fins educativos dela esperados, ao menos no plano discursivo, precisaria perder essa centralidade apresentada na cena política. Ganharia mais significado político e pedagógico, mostrando-se coerente com a função formativa que dela se espera, se não fosse discutida de modo isolado das demais categorias do trabalho escolar. Quanto mais se quiser a avaliação a serviço da aprendizagem, mais atenção deverá ser dada ao "conjunto da obra", e isso envolve uma análise da natureza do trabalho pedagógico realizado em sua inteireza.
A cultura de avaliação que tem dominado a cena pedagógica permanece centrada no aluno e no quanto se esforçou por aprender aquilo que lhe foi "ensinado", tal como foi ensinado. A forma de organização da escola, seriada ou mesmo ciclada, não tem posto em xeque devidamente o trabalho pedagógico, o qual continua marcado pela fala professoral, e esta acaba ensinando, mesmo que não o pretenda ou sequer se dê conta disso, que há um jeito certo de aprender.
Ensina-se que as aprendizagens requeridas dos alunos devem ater-se à eficácia instrumental que eles precisam desenvolver para ter lugar e êxito no mercado competitivo em que se transformou a sociedade. A qualidade reveste-se de forte tom meritocrático, individualista, competitivo e orientado pelo interesse mercadológico. A prova de que o aluno aprendeu é tornada visível pelo resultado nos exames nacionais de desempenho, que têm sido a tônica das políticas públicas de avaliação da qualidade das escolas e dos projetos educacionais.
Continua
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